sexta-feira, 8 de outubro de 2004

Haxixe IV

Quando se começa a escrever sobre um tema e se faz alguma investigação sobre este, descobrem-se coisas muito engraçadas, senão vejamos.

Na minha quest pelo haxixe, descobri que uma história narrada por Umberto Eco no Baudolino, é realmente fundada em factos reais e não uma delirante ideia que lhe surgiu numa noite de insónia descontrolada.
Assim foi com um gáudio fora do normal que descobri que a palavra “Assassino” deriva da palavra árabe “haššāšīn”, que se escreve desta forma حشّاشين, embora não interesse por aí além, e que significa numa tradução à letra, os comedores de haxixe. Lindo, não é?

Esta nem é a parte gira da história, porque este nome advém de uma seita religiosa fundada por um dos dois filhos, Nizar, de Hasan-Ibn Sabbah, entre 1090 e 1094. quanto a isto ninguém se entende muito bem, mas datas... é uma diferença de quatro anos, se fosse há cinquenta anos atrás quatro anos era muito, em novecentos e tal... em relação ao nome do pai também não se tem a certeza disso mas pode-se tentar esclarecer isto com mais exactidão no futuro.
O que interessa da historinha é que os membros da seita eram viciados em haxixe desde jovens, misturando o narcótico com mulheres bonitas, vinho e mel, eram convencidos que este cenário era uma aproximação ao paraíso muçulmano, e que se morressem a matar um inimigo de Alá, voltariam para lá instantaneamente. Não acredito muito na parte do vinho, afinal a religião proíbe-o.

Se isto não tem a ver com a Jihad, guerra santa ou na tradução literal luta, então já não percebo nada.

Hasan-Ibn Sabbah, era também conhecido como o “Velho da Montanha”, que é referido no Baudolino. Os alvos desta seita eram indiferenciados, tanto facções muçulmanas inimigas, como cristãos, os Cruzados. Aliás o território dos Hashshashin era perto do famoso Krak dos Cavaleiros, uma das mais belas fortificações do Médio-Oriente, pertença dos Cruzados.
Reza a lenda que os nossos amigos tiraram a tosse a Conrad de Montferrat, rei de Jerusalém, e que foram provavelmente contratados para dar o mesmo xarope a Ricardo Coração de Leão.
Em meados do século XIII deram um tiro no joelho, mataram Jigati, um dos filhos de Genghis Khan, e os Mongóis que não tinham o hábito de se ficarem, dizimaram quase todos os Hashshashin e destruíram as suas fortalezas. Correu mal.
Se quiserem saber mais façam como eu, procurem! Mas se calhar é interessante ver estes dois endereços.

sexta-feira, 1 de outubro de 2004

Haxixe III

Voltando a esta temática mas numa onda envolta em conteúdos de Semiótica, cabe-me agora definir a forma como se explora o haxixe pelos dois autores que referi em dois post com este mesmo título, nomeadamente Haxixe e Haxixe II.

Não é de todo estranho que esta substância que provoca o delírio, introspecção, até loucura, seja perfeitamente nomeada na obra de Alexandre Dumas. É explícito mas por que necessidade? Enquanto Eco se limita a chamar-lhe “mel verde”, Dumas dá ao boi o seu merecido e mundialmente conhecido nome.
Bem não é muito difícil de explicar se pensarmos que no século XIX o haxixe seria conhecido muito provavelmente por uma minoria, e ainda por cima intelectual. Poetas, prosadores, pintores, escultores, compunham uma elite que transmitia de certeza as suas novas descobertas, não só na sua arte mas também no resto, dentro deste círculo restrito.
É claro que Dumas necessitava de dar nome à substância.
Já Eco o faz de uma forma diferente. O seu romance é publicado na transição do século XX para o XXI, e sabe à partida que o seu leitor modelo de nível 1 tem na sua grande maioria este conceito na sua cultura. Ora bem... substância verde que provoca dependência, alucinações e pode ser comida à colherada? Cannabis? Cocaína? Heroína? Haxixe em Bruto!!!
Se o leitor modelo de nível 1 não o sabe, pelo menos desconfia e quando descobre de certeza que salta do banho a gritar Eureka pela casa fora. Não é difícil.

O que acontece é que Dumas tinha que dar um nome à substância, ou os seus leitores ficariam a pensar numa coisa verde e não teriam como nomeá-la, enquanto que Eco joga com o poder da informação da actualidade, dá pistas para toda a gente chegar ao nome. Qualquer procura na WEB acerca de Cannabis vai remeter para Haxixe e explicar que o composto mais puro é verde, a resina.
Mas fiquemos por aqui, por agora.