quinta-feira, 29 de setembro de 2005

L00p?S


Livro Dois. Primeira página de +∞. A leitura é suave e automática. De alguma forma consegues antever o que vem a seguir mas não consegues entender que todo o texto que lês é um extenso anagrama que misturado dará um novo texto.

“Nas tuas veias corre acetato.” Lês e algo se transforma. Necessitas de te mover, a inércia solidifica o acetato e corta as tuas veias e artérias. Não és sábio na fisiologia mas sabes o que te pode acontecer, e nestas coisas da sobrevivência nunca se sabe.

Sabes agora que não podes parar. Mexes-te para que a tua cinética mantenha a liquefacção do acetato. Caminhas sem destino e caminhas. Os semáforos tentam parar-te e arriscas tudo, atravessas a rua por entre carros e buzinadelas, com a mente a arder entre a vida e a morte. Parar é morrer, andar também pode levar ao mesmo fim.

Diriges-te a casa, agora sabes onde ir. A morrer que seja em casa a discutir com a tua mulher. Pelo menos vai ficar com remorsos, até receber os resultados da autópsia. Que estupidez, que crueldade, nem ela merece isso.

Vagueias e inquires quanto tempo mais vais aguentar. Afinal qualquer dia terás que dormir. Entras num restaurante e pedes algo para levar, não interessa o quê, desde que seja rápido. Freneticamente vais convulsionando os músculos. Chega a comida então consegues comer. A tua garganta está bloqueada a comida, só entra ar. Não podes alimentar-te, vais morrer de uma forma ou outra.

Encontras um livro no chão.

Livro Dois. Primeira página de +∞. A leitura é suave e automática. De alguma forma consegues antever o que vem a seguir mas não consegues entender que todo o texto que lês é um extenso anagrama que misturado dará um novo texto.
“Nas tuas veias corre acetato.”

terça-feira, 27 de setembro de 2005

Cartago delenda est



Numa varanda sobre a Cidade das Carabóias. As estrelas são encobertas pelo smog das onze da noite mas as mais brilhantes assomam tímidas oferecendo luz aos olhos verdes e castanho mogno.
Debruçados fumam tabaco negro como a alma momêntanea dos pares. As cervejas ficaram pra trás e da banheira vizinha o convite dos baixos de C’mere entra-lhes nos ouvidos.
"The trouble is that you're in love with someone else"
Com lágrimas nos olhos, secas, como ele deseja que a alma esteja, Siecle Retro geme
- Detesto histórias de Amor. Acabam sempre mal.
Borg Hotui, que querendo chorar não pode, todo o sal fora usado para queimar a sua Cartago e impedir que nada mais lá crescesse, seca
- Arriscar dá nisto.
"And so may, we make time
To try and find somebody else
Who has a line"
Na rua um gato preto com pantufas brancas espera pacientemente que um carro lhe passe por cima. No último momento arrepende-se e desaparece.
Siecle dirige o olhar para uma clarabóia e finalmente chora, só no interior, para não dar motivos a Borg. Despede-se e vai para casa. O gato está à espera dele e abre-lhe a porta. Ainda não é desta que vai ser atropelado.
"And in the evening, when we are sleeping
We are sleeping. Oh, we are sleeping"

segunda-feira, 26 de setembro de 2005

cris.pt


"O homicida" Munch - 1919

É luminosa. De carro vago as ruas que não o são na sua essência. Difusas, as paredes mostram o interior das casas. Não é vidro nem acrílico, antes uma sensação estranha tipo twilight zone. Onde circulo só vejo paredes que são transponíveis pelo meu olhar e o céu, que sei que está azul por cima de mim, é castanho cor de madeira. Descubro sem surpresa que é coberto a telha verde, não de cerâmica mas de algodão tingido por cobre.

A minha mente tempera o carro a electricidade para silenciar o incómodo que poderia atirar às pessoas que não existem dentro das casas.
Castanho, tudo o é à minha volta, e conforta-me. De uma bifurcação com sentido obrigatório vermelho com barra branca no centro sai um carro fantasma, atravesso-o e sinto-me frio na emoção, quente no corpo.

Corto a correia que me salva a vida e com a certeza que vou transpor um qualquer limite bocejo ao ver que nada acontece.
O inesperado faz-me sempre viver, mas agora sou deixado à ceifa. Amarelo como estou, vejo um foco de luz que me prepara para o que se segue e no entanto considero-me nulo, como cheio de toda informação mas sem os mecanismos para a manipular. Sou um computador sem sistema operativo.

Saio do carro que era e passou a bloco de gelo seco. Não me molha mas a minha transpiração cria cubos de fumo que corto com a minha linha de realidade aparente. Quebro-a e vejo uma árvore a correr na minha direcção. Não tem olhos e boca como eu esperava mas fala comigo em arvorês.
- Fica comigo e ama-me. Sente o que eu sinto e diz-me como crescer sem seiva, seca e mole. Feliz.

(Five minutes later after a fade to black)

Cut to the original text. Out of the movie but always important if you want to see it.

One thread of olive oil covers Leugim eye, left one and blinds him with white light. He needs a beer.
Get it now please, for the sake of your sanity.
A Nice Surprise
Messenger 1915
script
Leugim diz:
acordei,
Leugim diz:
tinha qualquer coisa na cabeça
Leugim diz:
e não sabia descodificar.
Kaim diz:
sim
Kaim diz:
e então...
Leugim diz:
continuava o sonho que estava a ter
Leugim diz:
entrava numa cidade com um carro barulhento
Leugim diz:
e descobria que as ruas eram o interior das casas.
Leugim diz:
o resto veio por acrescento
Leugim diz:
deu nisto.

sexta-feira, 23 de setembro de 2005

Clockwise

Melting Clock - Salvador Dali

Vejo-o com a mão a tapar a boca, controla o vómito, saboreia-o. As entranhas revolvem-se, acidulam a língua, destroem tudo aquilo em que acredita.
Algo se perdia e tinha o fio na mão. Um puxão seria o suficiente para inverter o fluxo activo. Os calos impediam o atrito e não sabia como encontrar o caminho para o destino desejado odiado.
Não era uma questão de indecisão que lhe criava problemas antes as certezas.

Na noite encontra-se tudo aquilo que mais tememos e essa noite estava pejada de sentimentos confusos que lhe mordiam a consciência, a moralidade. Assombravam-no como nunca antes o haviam feito. Aos poucos sentia que deixava de ser dono de si e que um sentimento anti ego agarrava as rédeas com mãos de vidro.

Prolekult proclama: - Melhor seria deixar essa moralidade amedrontada para trás.

Seria esta a solução do problema?! Se assim agisse as coisas seriam mais fáceis… não de todo. Quando vemos a vida dos outros através da nossa visão prismática tudo se torna fácil e é tentador dar a nossa opinião. Emprestar.

Escuteiro dirige: - Não quero que aceites os meus conselhos, sente o teu coração.

Já não sente o coração nem nada que se compare. O sentimento de urgência atravessa-lhe os neurónios e tudo o que quer é terminar com aquilo.
O fim dos dias está próximo, a espuma lambe-lhe a moral mas não a lava.

Bleab estava sentado a beber um copo, uma fracção de uma imagem inspirou-me. A mão a tapar a boca e um prenúncio de agonia, o suficiente para criar este turbilhão.

quinta-feira, 22 de setembro de 2005

Sevilha




Em Sevilha tive uma série de agradáveis surpresas. A cidade para a quem conhece como vulgar turista é capaz de não impressionar muito, embora a Giralda e toda a zona histórica tirem a respiração a qualquer um. Mas…

Eu e o meu luso companheiro resolvemos ir à aventura sem mapa, só para ver no que dava. Ir sem rumo traz-nos sempre agradáveis surpresas e assim foi. Pelas ruas estreitas da zona histórica encontrámos praças, pracetas, cantos e recantos de inigualável beleza. De boca aberta e com a baba a escorrer íamos comentando, na medida do possível, pequenos pormenores arquitectónicos como as varandas em ferro forjado, as marquises em vidro e ferro com revolteios dignos de um bom escultor, imitando lanças e flores. Os estores em palha castanha que quando recolhidos iludiam a vista e singularmente se tornavam belos a cair em duas partes iguais só sustentados por uma cordita.

Os panais que cobriam as ruas para ocultar o branco e castanho das ruas do sol do meio dia que dizem, em Agosto ser o mais impiedoso da Península. Atravessam a rua lá nas alturas de um edifício ao outro dançando quando tocados por uma pequena brisa. Era capaz de me sentar e ficar horas a observar estas ondulações deste mar branco no céu.

As ruas estreitas mais que uma sensação de claustrofobia davam uma sensação de conforto e calor, muito graças às cores alegres com que os sevilhanos decoram as suas casas.
Em cada esquina hotéis simpáticos de duas e três estrelas que mais pareciam de 4 e 5 quando dávamos uma espreitadela no interior, sempre com uma sorridente e bonita sevilhana no balcão da recepção.

A simpatia é aliás um ex-libris desta cidade, mas também não é de admirar, a cidade respira turismo, no entanto não fazem como no Algarve em que é raro encontrar a simpatia. Arrisco-me a dizer que esta característica foi canalizada toda para aqui.

As pessoas parecem rudes no trato mas é uma espécie de capa, um pouco da amostra do seu humor. Cinco minutos depois já piscam o olho e riem-se enquanto mandam uma piadinha cáustica, bem ao meu gosto. Devem ter tirado um curso de humor negro.

quarta-feira, 21 de setembro de 2005

Andaluzia

Estava eu no aeroporto de Sevilha e deparei-me com estes poemas que ilustram a Andaluzia. Com eles vos deixo.

Vinieras y te fueras dulcemente,
De outro camino
A outro camino verte,
Y ya outra vez no verte.
Pasar por un puente a outro puente.

Vicente Aleixandre


Cuerpo feliz que fluye entre mis manos,
rostro amado donde contemplo el mundo,
Donde graciosos pájaros se copian fugitivos,
volando a la región donde nada se olvida.

Vicente Aleixandre


Qizá mis lentos ojos no verán mas el sur
De ligeros paisajes dormidos en el Aire,
Com cuerpos a la sombra de rams como flores
O huyendo en un galope de caballos furiosos.

Luís Cernuda

terça-feira, 20 de setembro de 2005

Vamos a comer

Nos primeiros dias estranhei um bocadillo a comida… Pudera, quem está habituado à nossa gastronomia não vê com bons olhos a comida espanhola, mas há sempre boas surpresas.
Descobrindo-se as tapas todo e qualquer português fica contente, e na Andaluzia são sem dúvida fabulosas.

Em Almonte, já referida no artigo sobre el Rocio, encontrei um restaurante delicioso que recomendo a todos. Chama-se Mesón El Tamborilero com o slogan “Selecta cocina casera” e é bem verdade. Escondido numa das ruas pintadas de branco e azul, é um local muito simpático e acolhedor, e pelo que me disseram é uma espécie de local tradicional na região, já em extinção, o que é pena.

Quinze minutos à espera de mesa e o camarero diz-me que já posso escolher. Fico à espera da lista e nem sombra dela. Leva-me e ao meu companheiro andaluz até à cozinha e o cozinheiro, dono do estabelecimento, mostra uma parafernália de pratos semeados em panelas, tachos, fornos, travessas enquanto vai descrevendo em andaluz cerradíssimo.

Júan, o meu guia diz-lhe que sou português para ele falar mais devagar. A resposta foi um aperto de mão à homem e “qué te voy a preparar algo especial”.
Vamos lá para a mesa. Como entrada feijão branco com presunto pata negra e como segundo duas postas de peixe fresco com molhos divinais, e o mesmo para o Juán. Simplesmente divinal. Um dos peixes era atum e o outro não me lembro do nome, paciência. Preço com duas cervejas cada um:
€22.60

Voltei lá com o meu companheiro português por volta da meia-noite. O senhor Rosendo fez uma festa quando me viu e perguntou se queria comer. À anuência disse sentem-se. Foi o que fizemos e um minuto depois tínhamos uma posta de bacalhau fresco com bechamel, lombo com um molho indecifrável e uma garrafa de Rioja. Sem questões e uma palmada nas costas lá nos deliciamos. Tudo muito bom, volto lá concerteza.

Em Gerena duas surpresas fenomenais. Salvi e La Laguna, dois tascos manhosos que servem comida fabulosa a preços muito em conta.
No Salvi destacam-se o Filet de Buey, qual picanha qual quê, e o Solomillo al whisky, carnes fabulosas que dão vontade de repetir.

La Laguna… Salmorejo, uma sopa fria muito bem ralada, com um prato ao lado com ovo picado e presunto pata negra para misturar, de comer e chorar por mais. E porque não seguir o exemplo dos nuestros hermanos e meter uns picos ao barulho (tostas de todas as formas e feitios, até nos desafiam a tentar comer todos os existentes no mercado, é virtualmente impossível!).

Aliño, ai a minha perdição! Tomate, pimento verde, cebola, tudo muito picadinho, como se fosse cebola, regado com azeite e vinagre e com uma pitada de pimenta preta, levando o nome do último elemento: pulpo, pollo, huevas de merluza, you name it. É simplesmente delicioso e refrescante!!!

segunda-feira, 19 de setembro de 2005

La Vírgen del Rocío

El Rocío - Fonte Google Earth
Começa hoje uma série de escritos acerca das minhas andanças pela Andaluzia.
Para começar escolhi um tema que me intrigou e divertiu, mas já lá vamos.

Para que todos fiquem informados, não fui de férias mas sim em trabalho, se bem que é um tipo de trabalho que é muito parecido com férias, mas depois de verem as fotos vão perceber mais ou menos com que linhas se coze a minha manta.

El Rocío é um pequeno lugar que pertence a Almonte e está carregadinho de pormenores interessantes e deliciosos.
Em primeiro lugar parece uma daquelas cidades do Farwest americano a roçar os vilarejos mexicanos. As ruas são todas em areia devido ao intenso tráfego de cavalos – os puro sangue andaluz – enchendo os sapatos de areia e atolando qualquer viatura motorizada que ali queira passar. É uma realidade diferente daquela que estamos habituados e sentimo-nos abraçados por uma mística ambiental fora de série. Quase que vemos o Clint Eastwood a aparecer ao dobrar da esquina com a banda sonora de Morricone… É fantástico!

Mas o lugar tem mais, muito mais! Nasceu da devoção à Vírgen del Rocio, que possui uma história que vos vou contar num outro artigo, que constitui um exemplo perfeito de fanatismo religioso.

Todos os anos no Pentecostes, 1 milhão de peregrinos, leram bem 1 000 000(!), dirige-se às ruas poeirentas para ver a virgem e tentar a todo custo tocar na imagem que desfila por um percurso pré definido.
Os almonteños cercam o andor criando uma barreira intransponível e quem tentar furá-la é gentilmente tratado a soco e pontapé. Morrem cerca de seis pessoas na peregrinação em cada ano. É de loucos!

Neste momento, contadas por mim, há 101 confrarias da virgem, com nomes curiosos como Hermandad de Pilas. Não é brincadeira, depois mostro a foto.
De sete em sete anos a imagem é levada a braços para Almonte que fica a cerca de vinte quilómetros. Por acaso este é o ano em que está lá depositada, por isso lá fui ver a senhora. Mal a vi percebi porque raio é que foi virgem até morrer. Feia como a noite e dada a adiposidade denunciada pelas vestes deve ter vindo das baleares. Aqui é que eu presenciei o fanatismo, qual senhora de Fátima qual quê. Estava numa esplanada a beber uma caña cruz campo, bem boa por sinal, por volta das onze e meia da noite e ouvi uma senhora a gritar “viva la vírgen del Rocio” e a multidão respondeu em fervor “viva”. Na igreja vi pessoas a chorar só de ver a dita senhora, deviam estar a pensar “Coitadita, tan fea qué era”.

Talhos, Ferreterias, restaurantes, mésons, tudo o que é estabelecimento só tem dois nomes ou qualquer coisa Vírgen del Rocio ou qualquer coisa pastorcito, já que a virgem foi vista por um pastorzinho… Não vos traz nada à memória?

Qué fea es!

sexta-feira, 2 de setembro de 2005

Para todos aqueles que adoro, gosto de vocês e sabem que sim.
"As mulheres amigas" Gustav Klimt - 1916/17
- Gosto de ti.
- Que raio…
- Apeteceu-me, que queres?!
- Ok… mas se estás à espera de uma resposta consensual…
- Nada disso, só me apeteceu que soubesses que gosto de ti.

Quando exprimo os sentimentos não estou à espera de uma resposta à altura do meu expressionismo, ou será que estou? Talvez uma parte de mim queira uma resposta à mesma cota emocional que a minha transmissão, mas nunca é propositado, por isso é que enviei um Spam a todos os meus contactos

- Gosto de ti.

E descobri que há pessoas que reagem muito bem ao estímulo, outras que ficam incomodadas sem saber o que dizer e outras ainda mantém-se silenciosas, muito embora eu saiba exactamente qual é o sentimento que nutrem por mim, ou pelo menos calculo...

Não é que eu goste de Spam, mas se me enviassem isto ia gostar. Se fosse uma carta em corrente provavelmente ia destruí-la, mas é uma simples expressão que não custa ler e faz muito bem, se bem que seria muito mais honesto da minha parte dizê-lo nos olhos, mas à distância é difícil.

Difícil também é dizê-lo nos olhos. Acho que não estamos habituados a expressar-nos da forma correcta. Até parece que ficamos engasgados, que uma coisa tão simples e tão pura possa ser mal interpretada ou provocar uma demolição numa relação.

Acho que também temos medo de a gastar. Quando se diz muitas vezes deixa de ter tanto sentido, as pessoas habituam-se e não lhe dão o devido valor. Se a dissermos poucas vezes provoca um brilho nos olhos que é a melhor recompensa para a ousadia ou a coragem que temos ao pô-la cá para fora.

Meus amigos, com estes pensamentos vos deixo e durante duas semanas estarei ausente pela Hispânia, mais exactamente pela Andaluzia. Espero voltar com o Moleskine carregado.

quinta-feira, 1 de setembro de 2005

Os hóspedes


"Viajante em frente ao mar" Caspar Friedrich - 1818

Residencial D’Ouro – Praça dos Leões, Porto

Dois senhores estão à espera de ser atendidos. Um, já com os pés nos cinquenta, carrega um chouriço de marinheiro. A barba de dois dias, grisalha na sua quase totalidade, encobre algumas rugas e uma pele vincada pelo tempo e pelo trabalho. Pelo aspecto trabalha nas obras.

O outro, moreno também, aparenta 30 e pela metro-sexualidade do trato sugere um turista acabado de chegar à cidade. Carrega duas mochilas, uma de montanha e outra de trekking mais pequena. Está vestido para caminhada e dentro em pouco vamos encontrá-lo a beber umas cervejas na esplanada do Piolho.

Será um desses jovens que se lança à aventura pelo mundo fora?! Não desses que compra um bilhete de inter rail, mas dos outros, que vai sobrevivendo por aqui e por ali, sem raízes, só com o ideal de conhecer novas pessoas e novas culturas, o recolector de experiências.

De uma porta surge o recepcionista com o sobrolho carregado e informa que só existem dois quartos sem televisão. O mais velho insiste que só quer um quarto com televisão

- Não tenho vida para me deitar às nove e meia nem para andar aí a dar água sem caneco

o mais novo, indiferente,

- Desde que tenha uma cama para dormir já é suficiente.

Informa que um dos quartos é pequeno e custa €15 e o outro, maior €20. Aqui o jovem já faz questão, quanto mais barato melhor. Dissipadas as dúvidas do mais velho, fecha-se o negócio, há que fazer o check in.

Pensão pequena só exige o BI para a ficha e como é pago adiantado não há necessidade de conservar o documento. Faz a ficha primeiro ao jovem.

João Miguel da Silva; natural de Vinhais, Bragança; Filho de António Ribeiro da Silva e Maria da Encarnação Almeida da Silva; nascido a 07-11-1974.

- Ok, o seu quarto é o número 26, suba as escadas, primeira porta à direita.

Pegou na documentação do senhor e com o automatismo começou a escrever os dados.

António Ribeiro da Silva; natural de Vinhais, Bragança; filho de Mário da Silva e Joana Ribeiro; nascido a 03-06-1950.

- O seu quarto é o número 25, suba as escadas, segunda porta à direita.