quarta-feira, 19 de abril de 2006

New born

Quando nasceste não eras bonito. Sempre disse que os recém nascidos não são bonitos e de parto natural muito menos. Eras uma bola de carne escura e não tinhas aquele cheiro bom de bebé.

Estavas amassado com a cabeça espalmada e foi estranho saber que eu tinha contribuído para te gerar. Não te consigo explicar a sensação, vais ter que passar por ela para saberes e tudo o que te estou a contar é com um alheamento de escritor, nunca com a presença emocional de um pai.

Gostei de ti desde o primeiro momento em que te vi, toquei, cheirei, exactamente como tinha acontecido com a tua mãe. À nossa volta estavam os teus avós, babados em conformidade com a situação e admiravam a continuidade genética ali deitada no berço. A enfermeira que estava a tratar de ti dizia que tinha os olhos do pai e o nariz da mãe. Eu suspirava e pensava no ridículo da situação, ninguém consegue discernir esses traços só de olhar para um ser tão pequeno, amassado e que só assume as características físicas identificadoras muito mais tarde.

Os teus olhos cinzentos reagiam à luz e pouco mais que isso, no entanto as pessoas diziam “já reconhece a mãe, olha que lindo”.

O engraçado disto tudo é que isto é tudo imaginação minha, afinal eu não estava lá para te ver nascer, para te ver crescer, não acompanhei a tua mãe e se queres saber porquê eu vou-te contar.

terça-feira, 18 de abril de 2006

as palavras que nunca Te direi

Por muito que tente nunca fiquei louco, pelo menos no cânone que rege o resto da humanidade. Sou salubremente regido por uma lei que não se aplica ao resto das pessoas. A quantidade de insanidade que me atinge seria suficiente para deitar abaixo um animal de pequeno porte, todos os humanos que convivem à minha volta, mas a mim… isto é coisa pouca, atinge de raspão e poucas marcas deixa.

Não tenho antídoto para isso, a não ser que se considere a escrita como algo incluso nesta prateleira de boticário.

Muitas vezes tentei chorar, só para saber que não tinha essa capacidade; que estava seco como um pequeno deserto, que nada brotaria da minha nascente, pouco importa. Não sou insensível nem nada que se assemelhe, sou eu igual a mim e a ninguém que conheço, no entanto não me sinto mais forte por ser assim (muito menos fraco).

Não te conhecia mas sinto que já tinha conversado milhões de vezes contigo; nunca te tinha visto mas a tua face transparece familiaridade a cada sorriso ou expressão mais carregada.

Apaixonei-me por letras tuas que aos poucos me iam preenchendo bocadinhos, lacunas que cá estavam. Desde miúdo que sempre li muito, que os meus amigos e paixões foram os livros, naqueles momentos em que me sentia mais só eles socorriam-me, os meus amigos imaginários, reais, que cheiravam a papel e ainda hoje cheiram… a recordação que tenho deles é o cheiro e o lugar na prateleira para aqueles que nunca comprei (amigos não se compram, conquistam-se) …

O mesmo se passa com as nossas relações especiais… há pessoas que nos conquistam inexplicavelmente de um dia para o outro, sem que percebamos porquê nem como: descobrimos que já conhecemos o seu cheiro como livro e que era uma história que estávamos à espera de ler.

Abrimos o livro e encontrámos palavras familiares, de uma vida que é nossa mas não é de hoje. Conheço-te não sei de onde mas reconheço-te.

Tenho força para isto e muito mais, não são só palavras escritas, são sentidas e declamadas com fogo, cor e muito vermelho e cheiro à mistura.

Ronrono só de pensar.

note that a cApital is use to emphasize a diviNity or someone similAr.

sexta-feira, 7 de abril de 2006

Biclas II


Bem me avisaram que ali havia um buraco!



Candeia que vai à frente ilumina duas vezes!

Ora bem... Na boa tradição da Páscoa, fomos ao "Lava Pés".

Mais uma voltinha de bicicleta, desta vez com mais meia hora. Comecei com uma revisão cuidada à bicla e depois vamos lá que se faz tarde. Fomos mais numa onda de vamos por aqui a ver o que isto dá.

Chegámos ao rio Neiva e aconteceu o primeiro percalço: Asfalto na água (até tive medo que fosse com a enxurrada). - Consultar imagem 1.

Pude exercitar a minha expressão favorita: "Eu bem te avisei".

Mais ou menos 45 minutos depois, ia eu à frente e resolvi arriscar tudo e meter-me no lago: toca a espremer as meias e rir. - Consultar imagem 2

Entretanto planeámos uma coisa mais extensa, ir até Vila Verde, a muitos quilómetros da nossa "home base" e vir por aí abaixo a ver as azenhas.

É que é sempre bom ver o que de bonito temos por cá, até nos esquecemos de alguns ex libris.

Conclusão, vamos tentar andar de bicla várias vezes por semana e sobreviver com os pés secos.
Inscrições para futuras cirandagens aqui ou aqui.

A foto relativa ao NoAsfalto foi censurada por vontade do protagonista.

quarta-feira, 5 de abril de 2006

Biclas

Ora bem, o bom tempo voltou, por uns momentos, e com ele a vontade de fazer exercício. Eu e o companheiro No Asfalto, já nos vamos queixando da falta de combustão nos músculos e resolvemos pegar nas biclas e fazer-nos à estrada e ao monte.

Isto tem muito que se diga, nem é assim tão fácil como isso, e quando estamos com meio pé nos 30 as coisas deixam de ser como eram.

Havia duas alternativas de percurso, a subir ou a descer; é claro que escolhemos a subir porque no fim quando estamos mais cansados é sempre a descer e como a neste sentido todo o panteão dos canonizados ajuda, lá fomos.

800 metros depois, os pulmões, e o coração rebentavam e fizemos a primeira paragem com imprecações como "porque raio é que não vivemos na Holanda ou em Barcelona", "porque é que não há descidas nesta p#$% desta terra!".

Até há uns tempos atrás podíamos estar imenso tempo sem fazer exercício que tudo estava bem, pegávamos na bicla como se não fosse nada, agora a idade, o tabaco e o castrol pesam e de que maneira.

Já mais lá para a frente, dois ou três quilometros depois, começámos a descer e aí começou a diversão, saltos, solavancos e muita muita lama. Feliz ideia a minha de levar t-shirt branca, ficou castanha!

Quando erámos miúdos levávamos uma rabecada das mamãs por chegar todos enlameados a casa e agora elas até acham piada. É uma das vantagens da idade, poder fazer o que fazíamos em putos sem queixas ou recriminações das progenitoras.
Conclusão filosófica possível: na altura não havia máquinas de lavar roupa aos pontapés.

Depois desta reflexão, cheguei à conclusão que devo comprar uma bicicleta nova, o pedal direito não está nada saudável, ameaça sair a cada pedalada.

Fotografias tiradas ao depois da aventura, e toca a descer para o ponto de partida numa descida vertiginosa e convidativa à velocidade.
Uma hora depois da saída lá estávamos nós no tasco a beber uma água e a desgarrar mais alguns elementos castrólicos para a próxima voltinha que será um dia destes, quando não nos lembramos das dores no corpo.

Quem disse que a vida saudável era boa estava enganado.
Duas cervejas para a mesa 1 por favor!

Números:
15 km's mais ou menos;
10 fotografias;
7 paragens;
95 subidas, uma recta e 3 descidas;
7425 solavancos;
23 apertanços no pedal;
453672 salpicos de lama na roupa e na boca;
1 hora em cima da bicla.

segunda-feira, 3 de abril de 2006

1º caso de Gripe das Aves no Norte!

Miguel de Terceleiros - Correspondente.

Sexta-Feira passada a pacata Vila de Forjães, concelho de Esposende, acordou em sobressalto, quando uma galinha apareceu morta em circunstâncias algo suspeitas.

O espécime foi encontrado com uma corda ao pescoço pendurada na porta Norte da Igreja da referida Vila.
Uma missiva foi encontrada horas depois na tarimba da vítima dizendo o seguinte:

Adeus mundo cruel. Descobri agora que tenho a Vogel Grip (que é como quem diz gripe das aves) e vou pôr termo à minha vida.

A equipa do CSI - Vila Chã entrou em campo e reconstituiu o crime. "A vítima dirigiu-se à igreja para receber os últimos sacramentos e vendo a porta fechada resolveu enforcar-se ali mesmo. Ainda andámos à procura do cúmplice, porque uma galinha não se consegue enforcar sem ajuda." comentou José Batana, o criminalista de serviço.

Fontes próximas da vítima declararam que esta ficou inconsolável quando lhe foi diagnosticada a terrível doença.

Estão afastadas, para já, todas as suspeitas de uma cabala relacionada com queijos limianos e um grupo terrorista chamado Hamens.