sexta-feira, 1 de outubro de 2004

Haxixe III

Voltando a esta temática mas numa onda envolta em conteúdos de Semiótica, cabe-me agora definir a forma como se explora o haxixe pelos dois autores que referi em dois post com este mesmo título, nomeadamente Haxixe e Haxixe II.

Não é de todo estranho que esta substância que provoca o delírio, introspecção, até loucura, seja perfeitamente nomeada na obra de Alexandre Dumas. É explícito mas por que necessidade? Enquanto Eco se limita a chamar-lhe “mel verde”, Dumas dá ao boi o seu merecido e mundialmente conhecido nome.
Bem não é muito difícil de explicar se pensarmos que no século XIX o haxixe seria conhecido muito provavelmente por uma minoria, e ainda por cima intelectual. Poetas, prosadores, pintores, escultores, compunham uma elite que transmitia de certeza as suas novas descobertas, não só na sua arte mas também no resto, dentro deste círculo restrito.
É claro que Dumas necessitava de dar nome à substância.
Já Eco o faz de uma forma diferente. O seu romance é publicado na transição do século XX para o XXI, e sabe à partida que o seu leitor modelo de nível 1 tem na sua grande maioria este conceito na sua cultura. Ora bem... substância verde que provoca dependência, alucinações e pode ser comida à colherada? Cannabis? Cocaína? Heroína? Haxixe em Bruto!!!
Se o leitor modelo de nível 1 não o sabe, pelo menos desconfia e quando descobre de certeza que salta do banho a gritar Eureka pela casa fora. Não é difícil.

O que acontece é que Dumas tinha que dar um nome à substância, ou os seus leitores ficariam a pensar numa coisa verde e não teriam como nomeá-la, enquanto que Eco joga com o poder da informação da actualidade, dá pistas para toda a gente chegar ao nome. Qualquer procura na WEB acerca de Cannabis vai remeter para Haxixe e explicar que o composto mais puro é verde, a resina.
Mas fiquemos por aqui, por agora.

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