“Como começar caros colegas? Reportar-me-ei aos acontecimentos do dia 22 de Outubro deste ano insuspeito.
Nesse dia saíra como já era costume para fazer a minha actualização mensal na biblioteca municipal e nas minhas livrarias de eleição. Na biblioteca fiz a resenha das novas publicações e nas livrarias fiz a recolha das publicações dos livros que iria ler nos próximos trinta dias.
Às vezes não é fácil escolher o que ler, principalmente quando a oferta é tanta. “Memorias de mis putas tristes”, “O velho e o mar”, “O Pêndulo de Foucault”, “Juliano”, “Os jardins de Luz”, “o Conde de Monte Cristo”, “A Voz dos Deuses”… cada um ao seu estilo chamava por mim e tornava cada vez mais difícil a decisão do que levar.
Ao meu lado uma rapariga de cabelos negros olhava de soslaio para a minha indecisão. Continuei a ler as anotações na contracapa dos volumes para ter alguma ajuda até que a rapariga, como a revelação da pitonisa de Delfos, me esclareceu.
“Umberto Eco é um óptimo autor, se bem que de vez em quando se torna muito denso.” Falava tão rápido que a frase lhe soou a “UmbertoEcoéumóptimoautorsebemquedevezemquandosetornamuitodenso".
“Desculpe menina, mas está a falar deste livro em particular ou dos outros títulos que existem na sua extensa bibliografia?”
“Estava-me a lembrar especificamente de um… “A ilha do dia antes.” Pensei que seria um teste à minha cultura e como sabem que não gosto de me ficar quando o tema é a minha cultura literária, senti aquilo como um desafio e resolvi entrar no jogo.
“Se acha que esse livro é denso é porque ainda não passou os olhos por este. Estava a pensar comprá-lo para o reler.
A primeira vez que passei os olhos por ele foi quando tinha dezasseis anos e confesso que muita coisa me passou ao lado, mas ao mesmo tempo atraiu-me para tudo que tivesse a ver com este autor. Este sim, é na realidade denso. Começa pela temática, que misturando Templários, Rosa-cruzes, sinarquias, satanismo e afins a torna numa obra per si densa e hermética. A forma como Eco brinca com a escrita e com as personagens e como introduz informação de várias áreas que vai cruzando, ainda complica mais a leitura e não há dúvida que o faz de forma magistral.”
“Muito bem… já me deixou com vontade de pegar nele e começar a ler. Li o nome da Rosa e a impressão que fiquei depois de ter lido a ilha foi que ele adensa muito a escrita por isso é que nunca mais peguei… num livro seu.
Mas tem aí um dos meus autores favoritos. Já leu “A Criação”?” Mais um teste. Estava mesmo tentado a dar-lhe uma lição de literatura. Senti-me como Édipo em frente à esfinge, com todas aquelas questões, mas isso excitava-me. O Cérbero é o maior dos órgãos sexuais e mulheres deste tipo despertam-me o desejo.
“Gostei, muito embora é uma perspectiva demasiado americanizada da cultura europeia. Gore Vidal é um bom crítico se bem que de vez em quando exagere. Não há dúvida que minimiza a cultura grega em relação às culturas do Médio e Extremo Oriente suas contemporâneas, como calara intenção de dizer que os europeus estariam mais bem servidos se estudassem melhor as filosofias orientais.Não discordo que a cultura de história europeia não dá atenção nenhuma a parte oriental da história universal, mas também não é assim tão grave para Vidal dizer que os gregos eram uma cambada de corruptos e homossexuais e que os orientalistas, esses sim eram porreiros. Há que haver um meio-termo.”
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