“Estou a ver que tem também uma visão muito crítica das leituras que faz. Gosto de homens assim, críticos e com ideias próprias. Pensei que tinha lido muito, mas pela amostra, estou a ver que ao meu lado você é a biblioteca de Alexandria e eu uma simples alfarrabista de rua” é escusado dizer que me babei por dentro, afinal que melhor elogio podia ter do que um à minha cultura “mas diga-me, gostava de ler um livro de fantasia relativo à mitologia nórdica, o que me aconselha?” senti-me poderoso, como é óbvio. O meu cavalo de Tróia entrara em grande estilo dentro da sua cidade e os meus soldados estavam já com o nervoso miudinho para fazer o saque.
“Sobre mitologia nórdica, confesso que não lhe posso indicar nada de especial” disse com humildade disfarçada, para não parecer muito seguro de mim e não afastar a caça “mas em contrapartida posso-lhe dizer que um senhor chamado John Ronald Reuel Tolkien escreveu uma série de livros inspirados nessa Mitologia.
“O Hobbit”, “O Senhor dos Anéis”, um livro só e não três livros como muitos pensam, ou o “Silmarillion”, a bíblia que explica o Génesis de um fantástico mundo, criado de raiz, com língua, mitos e geografia próprios, tudo inventado a partir dessa interessante história sobre-humana que é o panteão de Odin e seus congéneres. Tolkien leu na língua original as sagas nórdicas e a partir daí criou uma alegoria do mundo industrializado contra a tradição, apoiado nas suas vivências nas trincheiras da primeira guerra mundial.
É interessante lê-lo à luz desses acontecimentos e tentar ver os paralelismos que existem. Dá também um alento para ler as mitologias nórdicas e ver o que é original, adaptado ou criado.”“Já deu para perceber que percebes muito de literatura e não és um leitor muito comum para a tua idade. Desculpa estar a tratar-te por tu mas temos os dois a mesma idade, mais coisa menos coisa. Não queres dar um salto até minha casa, tenho lá algo que vais gostar de ver.” Não me perguntou, ordenou.
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