quarta-feira, 7 de novembro de 2007

Hoje

Já não é fácil escrever, não como antes, fluído directo, bem-humorado, algo mudou e não sei se foi para melhor. Ainda é positivo pensar assim.

Percebo que o teclado está cheio de pó, sinal de pouco uso - na ponta dos dedos, na garganta a pequena comichão alérgica…

Nem isso nem nada interessa. Sonhei, ainda ontem, com algo estranho, peças alheias ao puzzle, que são colocadas propositadamente em cenas erradas, com a única intenção de confundir quem tenta solucionar o enigma. Pessoas que estão em situações que fariam sentido num espaço/tempo afastado desta realidade alguns meses, anos atrás, ou no futuro. Confuso, estou confuso nesse sonho.

Esta é uma visão alternativa da vida como ela é ponto final, ponto final, ponto final, reticências.

Encontrei Helena a chorar no canto do café Ceuta. Conhecia-a de vista das aulas. Era-me indiferente, podia ser mais uma cadeira ou mesa na sala, mas era uma pessoa que não me dizia nada, nem eu a ela tão pouco.

Neste dia, talvez por estarmos num habitat diferente, reparei nela, que chorava e resolvi meter-me na minha vida, com o Público no balcão.

Passados minutos que pareceram uma eternidade, daquelas “Eu devia tê-la cumprimentado mas agora é tarde” ,ela senta-se no balcão ao meu lado.
Sorrio e abano a cabeça com um rouco olá.


- Estive mesmo para não te vir cumprimentar mas o egoísmo é a única coisa que me resta da auto-estima.
- Não tem importância - calei-me sem querer prolongar o constrangimento mútuo.
- Preciso de falar com alguém que não fale, podes ser mudo por um pouco?

- Mudo como um pato - assenti.
- Não sei porquê mas já há algum tempo me apetece esborrachar o focinho de algumas pessoas que me desaguaram na vida sem autorização prévia ou póstuma. Não tens nada com isso, mas sinto que no fim de tudo vais entender a minha intenção.

A sua voz transparecia uma mágoa enraivecida, acentuada pela vermelhidão dos olhos. Havia ali uma perda genuína, carregada até à boca de pólvora pronta a explodir.

-Luís, chama-se Luís. A minha desgraça chama-se Luís, esse grande filho da puta que me estragou a vida.

3 comentários:

Anónimo disse...

que bom ver-te de volta!!!!

noasfalto disse...

Gajas!

Voltaste e em Grande.

Lembra-te:nada de parolo misturado com espanhol e a outra escapou-se. Espero que te lembres...


Abraço

Anónimo disse...

Olá,

Há tanto tempo..... felicito-te pelo regresso!

Estava com saudades de ler as tuas histórias ...