segunda-feira, 6 de setembro de 2004

Não sei que título dar a isto...

Acordou nessa manhã com uma sensação estranha, meio física, meio psicológica. Olhou para o lado e a cama vazia, já há tempo demais, provocou-lhe um arrepio na pele clara.
Levantou-se tomou a porta à esquerda e entrou na casa de banho, enquadrada pelo pijama masculino de tartan escocês. Rotinamente aninhou-se e ligou o rádio. Pôs um CD e arrependendo-se resolveu tomar um banho de nostalgia. Convidou Jeff Buckley e abriu a torneira. A água começou a correr e a percorrer-lhe o corpo como se fossem as mãos que tanto desejava. A sua imagem condensava-se no espelho e séries de imagens fotográficas percorreram-lhe a memória, desenterrando um passado feliz com um terminus brusco e doloroso.
As lágrimas misturaram-se numa parafernália agridoce, com a água que corria em pequenos feixes sobre o cabelo arruivado. Escorreram de mãos dadas, a doce e a salgada, em direcção a uma calma, que lhe devolvia o equilíbrio, que neste dia e nos últimos, estava cada vez mais forte e coeso, como se a corda bamba em que caminhava constantemente engrossasse à medida que a recordação ficava lá para trás, enterrada.
O toalhão turco secou-lhe as curvas do corpo, bem conservadas para quem estava no limiar dos trinta, e com um sorriso amargo afastou todas as lembranças do passado.
A indecisão sobre o que vestir ficou para trás 16 peças de roupa depois, e foi encontrar a mãe na cozinha com o pequeno almoço na mesa. Relatou-lhe o fluxo anormal de recordações, que lhe causava estranheza e um pouco de aflição.
A mãe era uma imagem, de puro brilho, fazendo lembrar com a sua boa disposição uma amora no início do Verão, avermelhada mas não madura, com muito para viver, saudando o mundo a cada dia como se fosse sempre resplandecente e feliz. Comentou então, fugazmente, que nas recordações deve dar-se importância às boas e reportar o rancor e a mágoa para as costas da vida, aprendendo, todavia, sempre com estas coisas más. Anos de amargura e pensamentos mesquinhos tornam a memória enrugada e mordaz para nós próprios.
Continuaram a conversa recordando as pequenas coisas boas que tinham alimentado óptimos momentos, naquele passado longínquo e tão próximo.
-CONTINUA NÃO SEI QUANDO-

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