quarta-feira, 8 de setembro de 2004

Não sei que título dar a isto...II

Acordou nessa tarde com a cabeça fora do sítio. As remelas nos olhos mostraram-lhe, sem surpresas, que nessa noite chorara durante o sono. O karaoke da noite anterior fora óptimo, com uma mulata a aplaudir-lhe sedutoramente ao ouvido, a sua prestação. Educadamente agradeceu, e ao contrário do que era hábito nem troco lhe deu.
Exagerara no Martini e sentia o estômago a amaldiçoar o excesso. Levantou-se a custo, insultando-se de bêbado e alcoólico, tomou a porta à direita e entrou na casa de banho. Pôs a água a correr na banheira, foi buscar um cigarro e os documentos que andava a transcrever e sentou-se na marquise. Abriu uma janela e o ar fresco da manhã ajudou-o a corrigir quatro palavras que tiveram o condão de explicar ao texto como devia estruturar-se para fazer sentido. Ao olhar pela vidraça viu o sol a ser enganado por uma nuvem mais atrevida. Pensou no sonho estranho que tivera, e que se tornava recorrente nessa última semana. Escolheu um CD da secretária e melancolicamente sorriu, com a escolha involuntária. Estamos saudosos de algo? “The Cult”. Escolheu a faixa e pôs no repeat.
O vapor indicou-lhe que a água já estava à temperatura. Deixou-se envolver pela água e as recordações tocaram-lhe o coração. Abriu a água fria e acordou para o dia que se avizinhava.
Saiu de casa com a ideia fixa de terminar com aquele sonho recorrente que lhe atormentava a alma.
Meteu o carro à estrada e conduziu pela marginal à velocidade do seu pensamento conturbado.
-CONTINUA DEPOIS DO INTERVALO-

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