segunda-feira, 28 de fevereiro de 2005

14 Euro de Táxi I

Baixa do Porto. Olhas para o relógio da Câmara e descobres que faltam três minutos para as cinco da manhã.

O Jack Daniel’s diz-te o que deves fazer, diriges-te ao Mercedes creme e abres a porta. Um homem dos seus quarenta e muitos está lá sentado. Barba cuidada, mas com as manchas amareladas típicas de fumador, rugas que marcam os que optam pelos turnos da noite e o inevitável casaco de cabedal preto, está a fumar e faz o gesto para deitar fora o cigarro.

“Boa noite. Deixe estar, eu também sou fumador”. Ele agradece com o olhar e pergunta “para onde”. “Vou-lhe ser muito sincero. Tenho no quarto do hotel uma rapariga lindíssima e preciso de preservativos. Leve-me a uma bomba de gasolina!” O homem arregala os olhos e irrompe numa gargalhada que te dá vontade de rir também, no entanto ficas sério o que faz com que o taxista se sinta mal por ter rido. Sorris e o ambiente desanuvia-se.

“Ok vamos a uma aqui perto que me parece que estás bem fornecida. Mas diga-me o senhor não é de cá pois não?!”

Abres a boca para falar e reparas que tens falado com sotaque do Sul, involuntariamente disfarçaste-o porque achas que deves passar incógnito nesta delicada missão. Resolves alinhar na conversa dele.

“Sou do Sul, já estudei cá, mas agora trabalho e vivo lá em baixo. Venho cá de vez em quando em negócios e hoje, quando menos esperava, vem uma mulher ter comigo, e sabe como são estas coisas…” Mentes com todos os dentes que tens na boca mas achas que foi bem improvisado. Acrescentaste que viveste na cidade para assegurar qualquer falha no sotaque e para o taxista não se pôr a dar voltas desnecessárias para te comer o dinheiro.
“Pois amigo, se eu tivesse a sua idade também aproveitava. Até é pecado recusar uma mulher que nos cai nos braços vinda dos céus. Eu, no meu tempo, também fiz das minhas e digo-lhe que nestas coisas temos é que ser uns para os outros. Estamos com azar.”

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