O grupo olhou ansiosamente para Tântalo, começava a remexer nos seus catrapássios. As suas histórias costumavam ser uma mescla trágico/cómico, com alguns laivos de loucura saudável.
“No dia 29 de Dezembro meti-me no comboio com destino a ******, com o intuito de passar o fim de ano num sítio diferente. Sentia-me cansado de fazer sempre a mesma coisa, ver sempre as mesmas caras, respirar o mesmo ar, e não me ia fazer mal mover-me num ambiente diferente.
Apanhei o comboio rápido a meio da tarde, e como a viagem demorava pelo menos quatro horas, recostei-me confortavelmente, na medida do possível, no meu banco, com o Penedo ao meu lado, encostada ao meu ombro.
Acho que não há necessidade de explicar como as mulheres tornam as coisas mais difíceis do que elas tem que ser. É fodido quando temos namorada nestas alturas. Ninguém no seu perfeito juízo leva areia para a praia. Queremos ir para a rambóia com os amigos, conhecer outras pessoas, de preferência do sexo oposto, mas a namorada começa com aquela chantagem psicológica que só ela consegue fazer, ela e todas as namoradas do mundo. Choraminguices, lamúrias, “não gostas de mim”, “dás mais importância aos teus amigos que a mim”, maldito umbiguismo!!! Olhar para o seu próprio umbigo é nestas situações uma característica eminentemente feminina.
Então, e como era inevitável, bati o pé, discuti, esperneei, e acabei por lhe fazer a vontade, mais uma vez. Não há nada mais desgastante que o capricho de uma mulher, às vezes preferia que um abutre me devorasse as vísceras todos os dias, o efeito seria mais suave, nem nada tão eficaz como a vontade delas, senão vejam o papel de Helena na guerra de Tróia.
Estava eu a considerar alguns dos aspectos da minha tese, quando descobri um olhar feminino que me ia fixando com atenção. Tinha cerca de quarenta anos, cabelo pintado com aqueles reflexos de acaju, olhos castanhos e uns lábios finos mas bem desenhados. Não obstante a idade estava bem conservada e pela roupa que usava, notava-se um gosto requintado mas descontraído.
A certa altura o olhar dela começou a desconcentrar-me. Ao meu lado, a minha senhora já ressonava com suavidade, e já que estavam a tentar gozar comigo ia entrar no jogo. Olhei-a com interesse e sorriu enigmaticamente, tirou um cigarro e anuiu com um gesto da cabeça. Com suavidade desviei a cabeça da minha companheira e segredei-lhe que ia ao bar.
1 comentário:
Rai's te parta!
Como consegues definir tão bem a natureza capante de uma relação a dois....
Ass.: Martelo Penumático
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