quarta-feira, 19 de abril de 2006

New born

Quando nasceste não eras bonito. Sempre disse que os recém nascidos não são bonitos e de parto natural muito menos. Eras uma bola de carne escura e não tinhas aquele cheiro bom de bebé.

Estavas amassado com a cabeça espalmada e foi estranho saber que eu tinha contribuído para te gerar. Não te consigo explicar a sensação, vais ter que passar por ela para saberes e tudo o que te estou a contar é com um alheamento de escritor, nunca com a presença emocional de um pai.

Gostei de ti desde o primeiro momento em que te vi, toquei, cheirei, exactamente como tinha acontecido com a tua mãe. À nossa volta estavam os teus avós, babados em conformidade com a situação e admiravam a continuidade genética ali deitada no berço. A enfermeira que estava a tratar de ti dizia que tinha os olhos do pai e o nariz da mãe. Eu suspirava e pensava no ridículo da situação, ninguém consegue discernir esses traços só de olhar para um ser tão pequeno, amassado e que só assume as características físicas identificadoras muito mais tarde.

Os teus olhos cinzentos reagiam à luz e pouco mais que isso, no entanto as pessoas diziam “já reconhece a mãe, olha que lindo”.

O engraçado disto tudo é que isto é tudo imaginação minha, afinal eu não estava lá para te ver nascer, para te ver crescer, não acompanhei a tua mãe e se queres saber porquê eu vou-te contar.

6 comentários:

Periférico disse...

Onde estavas afinal?;-)

Um abraço

Anónimo disse...

O filho que nunca conhecerei pois sou pai solteiro! Que bela merda me saiste, já não sabes quem aconchegas!?

noasfalto disse...

Despacha-te.

Essa da continuidade genética partiu-me todo!

Abraço

Humor Negro disse...

então pá? isto desenvolve ou não? estamos preguiçosos ou sem tempo? ou ambos?

Vince Vice disse...

és um exemplo de paternidade para todos nós. Esperarei pela continuação, prometo!

Fábula disse...

então conta, c'agente oube... ;)