Quando nasceste não eras bonito. Sempre disse que os recém nascidos não são bonitos e de parto natural muito menos. Eras uma bola de carne escura e não tinhas aquele cheiro bom de bebé.
Estavas amassado com a cabeça espalmada e foi estranho saber que eu tinha contribuído para te gerar. Não te consigo explicar a sensação, vais ter que passar por ela para saberes e tudo o que te estou a contar é com um alheamento de escritor, nunca com a presença emocional de um pai.
Gostei de ti desde o primeiro momento em que te vi, toquei, cheirei, exactamente como tinha acontecido com a tua mãe. À nossa volta estavam os teus avós, babados em conformidade com a situação e admiravam a continuidade genética ali deitada no berço. A enfermeira que estava a tratar de ti dizia que tinha os olhos do pai e o nariz da mãe. Eu suspirava e pensava no ridículo da situação, ninguém consegue discernir esses traços só de olhar para um ser tão pequeno, amassado e que só assume as características físicas identificadoras muito mais tarde.
Os teus olhos cinzentos reagiam à luz e pouco mais que isso, no entanto as pessoas diziam “já reconhece a mãe, olha que lindo”.
O engraçado disto tudo é que isto é tudo imaginação minha, afinal eu não estava lá para te ver nascer, para te ver crescer, não acompanhei a tua mãe e se queres saber porquê eu vou-te contar.
6 comentários:
Onde estavas afinal?;-)
Um abraço
O filho que nunca conhecerei pois sou pai solteiro! Que bela merda me saiste, já não sabes quem aconchegas!?
Despacha-te.
Essa da continuidade genética partiu-me todo!
Abraço
então pá? isto desenvolve ou não? estamos preguiçosos ou sem tempo? ou ambos?
és um exemplo de paternidade para todos nós. Esperarei pela continuação, prometo!
então conta, c'agente oube... ;)
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