quinta-feira, 19 de outubro de 2006

artigo 1, alínea b)

art. 1, a)

Nessa manhã o hirsuto mensageiro, que eles julgavam patrão, surgiu postulando a direcção da jornada. Conseguiam entendê-lo muito a custo; cuspia as palavras célere, e a piurreia em conjunto com as faixadas de porrada que levava de vez em quando, expeliam, também bocados de esmalte castanho.

Não os lavava, e no entanto eles voltavam a crescer. O ciclo dental do Hirsuto não era muito comum, e parecia que lhe era exclusivo, para poder cuspir dentes quando indicava o trajecto aos três homens.

1 levou com um perdigoto do tamanho de um pedaço de carvão e redobrou a atenção. Soou-lhe como esquerda e direita, frente e no y voltam para trás até à bifurcação x.

Uma amálgama alfabética criou-se-lhe no cérebro e as letras começaram a saltar-lhe em frente aos olhos. Hirsuto transformou-se num enorme AGÁ, e os seus companheiros num DOIS e num TRÊS.

- 1! 1 - insistiu 2.

- Parece catatónico - observou 3.

- Mas vocês prestam atenção ao que eu estou a dizer? Não tenho o dia todo - cuspiu Hirsuto.

Prestaram atenção porque o patrão não tinha o dia todo.

Ele não era o patrão, era o mensageiro.

3 comentários:

purita disse...

isto parece uma cena do Miyazaki! blargh!

Maria João Resende disse...

Dá Deus dentes a quem não os estima!!!! E eu, que lavo tanto os meus, mas nem por isso me nasceram substitutos para os que se foram estragando e arrancando com o tempo. Estes substitutos que cá tenho nasceram de uma conta bancária que ía ficando a zeros...

Miguel de Terceleiros disse...

Purita:
Mio onde?

Optimist:

Vou ter que inventar mais alguma coisa para fazer os dentes crescer sem contas bancárias...