Sempre gostei de viajar de comboio. Os outros transportes públicos fazem-me confusão mas o Quim deixa-me à vontade.
Tem espaço para as pernas (os autocarros são feitos para anões, eu com o meu metro e oitenta e um vejo-me desgraçado para caber naquele espaço), dá para esticar as pernas, para ler, para fumar um cigarro (já deu, agora é proibido) e não há perigo de um qualquer condutor provocar um acidente, afinal é só manter a máquina dentro dos carris.
Podemos conhecer montes de pessoas, é muito fácil, em especial naqueles que tem os bancos virados uns para os outros. Olha-se com interesse para a pessoa da frente, diz-se “ah e tal parece que vai chover” e passado pouco já se arranjou companhia.
Há uma espécie que é indissociável dos comboios, devido às tarifas reduzidas, os militares, vulgo “tropas”. Pelas histórias que ouço do meu pai (que foi paraquedista) no tempo dele é que era: porrada entre marinha e paraquedistas, feijões verdes (infantaria), era uma festa. Até combinavam. Agora hoje…
Já há uns anos que viajo de comboio e há coisas que não mudam. Os militares são uma coisa à parte. Andam sempre em rebanho, carregados de tralha e onde entram acabam logo com o sossego do resto das pessoas.
Sempre acreditei que só os cristãos novos é que podiam ir para a tropa porque afinal tem todos nomes de objectos. Tratam-se todos pelo apelido Oliveira, Castanheira, Silva, Laranjeira, Fogareiro. Nunca conheci nenhum tropa chamado Telles de Menezes, Marialva, Alenquer, o que me faz pensar que só a raia miúda é que vai cumprir o serviço militar. Os mancebos com nome mais elaborado vão logo para oficiais. Tenho a secreta certeza que é para não melindrar os instrutores.
Olhem lá se eu fosse para a tropa, dois minutos depois estava toda a gente a rir-se à gargalhada com as tentativas frustradas do senhor instrutor dizer o meu nome:
- Ó Treceleirus!
- Terceleiros meu primeiro.
- Ou isso.
Já para não falar dos serviços administrativos (ehehehehhe).
Outra coisa que me faz confusão: “Sim meu primeiro”. Primeiro quê? O primeiro a comer na cantina, o primeiro a mandar toda a gente fazer 3564 flexões?! Não percebo.
Também se dedicam a insultar e a ameaçar os superiores lá da caserna:
“Se apanho o sargento Tainha num canto escuro limpo-lhe o sebo, aquele filho da puta!”. Tudo em vão, parece que faz parte da cartilha dos recos.
A idade conta, estão naquela fase em que as hormonas começam a ficar irrequietas, graças a isto, têm a genitália muito perto da boca e cá vai aço. Uma rapariga que se encontre entre os 15 e os 30 e poucos é logo alvo de uma tentativa de graça (invariavelmente é desgraça), cá vem o galanteio fácil. Atrevo-me a dizer mais, basta ser uma mulher para os senhores se porem logo com coisas. Se por acaso a menina tiver uma saia com uma racha mais perto da homónima, a hipótese da qualidade e quantidade de bocas, centuplica. Note-se que é neste momento que estes senhores se parecem mais com lobos, atacam sempre em alcateia, um sozinho não se atreve a abrir a boca.
A seguir vem a praga dos telemóveis. Sempre que sai um modelo novo, lá vem eles comparar, toques, wallpapers, fotografias, enfim tudo. O militar é especialmente apto em relação a este tipo de equipamento. Conhecem tão bem todas as suas funcionalidades como conhecem a sua G3. Estou convencido que eles são os principais e únicos clientes dos 3939, 4002 e 6969.
“Envia ração de combate para o 4343 e receberás wallpapers camuflados no teu telemóvel”.
O tempo faz com que as coisas mudem um pouco. A nova moda são os computadores portáteis. De início é comprado para descarregar as fotos 41x41 pixel do telemóvel. Depois começam a comprar acessórios, pen drive, microfone, impressora, rato sem fios, gravador externo de DVD, placa wireless de infravermelhos para não usar cabos a passar as fotos… You name it!
Tudo isto é patrocinado pelo finório lá do quartel, o primeiro-cabo Azevinho, que só não vende a mãe porque ainda não encontrou o recibo.
Tem espaço para as pernas (os autocarros são feitos para anões, eu com o meu metro e oitenta e um vejo-me desgraçado para caber naquele espaço), dá para esticar as pernas, para ler, para fumar um cigarro (já deu, agora é proibido) e não há perigo de um qualquer condutor provocar um acidente, afinal é só manter a máquina dentro dos carris.
Podemos conhecer montes de pessoas, é muito fácil, em especial naqueles que tem os bancos virados uns para os outros. Olha-se com interesse para a pessoa da frente, diz-se “ah e tal parece que vai chover” e passado pouco já se arranjou companhia.
Há uma espécie que é indissociável dos comboios, devido às tarifas reduzidas, os militares, vulgo “tropas”. Pelas histórias que ouço do meu pai (que foi paraquedista) no tempo dele é que era: porrada entre marinha e paraquedistas, feijões verdes (infantaria), era uma festa. Até combinavam. Agora hoje…
Já há uns anos que viajo de comboio e há coisas que não mudam. Os militares são uma coisa à parte. Andam sempre em rebanho, carregados de tralha e onde entram acabam logo com o sossego do resto das pessoas.
Sempre acreditei que só os cristãos novos é que podiam ir para a tropa porque afinal tem todos nomes de objectos. Tratam-se todos pelo apelido Oliveira, Castanheira, Silva, Laranjeira, Fogareiro. Nunca conheci nenhum tropa chamado Telles de Menezes, Marialva, Alenquer, o que me faz pensar que só a raia miúda é que vai cumprir o serviço militar. Os mancebos com nome mais elaborado vão logo para oficiais. Tenho a secreta certeza que é para não melindrar os instrutores.
Olhem lá se eu fosse para a tropa, dois minutos depois estava toda a gente a rir-se à gargalhada com as tentativas frustradas do senhor instrutor dizer o meu nome:
- Ó Treceleirus!
- Terceleiros meu primeiro.
- Ou isso.
Já para não falar dos serviços administrativos (ehehehehhe).
Outra coisa que me faz confusão: “Sim meu primeiro”. Primeiro quê? O primeiro a comer na cantina, o primeiro a mandar toda a gente fazer 3564 flexões?! Não percebo.
Também se dedicam a insultar e a ameaçar os superiores lá da caserna:
“Se apanho o sargento Tainha num canto escuro limpo-lhe o sebo, aquele filho da puta!”. Tudo em vão, parece que faz parte da cartilha dos recos.
A idade conta, estão naquela fase em que as hormonas começam a ficar irrequietas, graças a isto, têm a genitália muito perto da boca e cá vai aço. Uma rapariga que se encontre entre os 15 e os 30 e poucos é logo alvo de uma tentativa de graça (invariavelmente é desgraça), cá vem o galanteio fácil. Atrevo-me a dizer mais, basta ser uma mulher para os senhores se porem logo com coisas. Se por acaso a menina tiver uma saia com uma racha mais perto da homónima, a hipótese da qualidade e quantidade de bocas, centuplica. Note-se que é neste momento que estes senhores se parecem mais com lobos, atacam sempre em alcateia, um sozinho não se atreve a abrir a boca.
A seguir vem a praga dos telemóveis. Sempre que sai um modelo novo, lá vem eles comparar, toques, wallpapers, fotografias, enfim tudo. O militar é especialmente apto em relação a este tipo de equipamento. Conhecem tão bem todas as suas funcionalidades como conhecem a sua G3. Estou convencido que eles são os principais e únicos clientes dos 3939, 4002 e 6969.
“Envia ração de combate para o 4343 e receberás wallpapers camuflados no teu telemóvel”.
O tempo faz com que as coisas mudem um pouco. A nova moda são os computadores portáteis. De início é comprado para descarregar as fotos 41x41 pixel do telemóvel. Depois começam a comprar acessórios, pen drive, microfone, impressora, rato sem fios, gravador externo de DVD, placa wireless de infravermelhos para não usar cabos a passar as fotos… You name it!
Tudo isto é patrocinado pelo finório lá do quartel, o primeiro-cabo Azevinho, que só não vende a mãe porque ainda não encontrou o recibo.
7 comentários:
É verdade...
eh eh eh
Leste a minha crónica da ida à inspecção?
Qto a comboios, é o melhor meio de transporte de todos... E as casas-de-banho são maiorzinhas e tudo!
um pequena precisão, é vulgo "magalas" que é um nome sinistro!:)
Deves ter estado no mesmo quartel em que estou neste momento.
Os comboios são fantásticos, principalmente cheios de tropas! O comboio azul, que liga porto a faro aos domingos, é surreal!
A tropa é uma amostra da sociedade actual, não é diferente de outros meios, é apenas mais teatral! Mais visivel.
Bom, temos que aproveitar essas viagens de comboio, porque a continuar assim não sei por quanto tempo vais ter comboio para as tuas paragens (ou lá perto!).
Abraço
A tua visão de um corriqueiro e tão tradicional passeio de comboio espelha muito uso teu deste objecto de transporte comunitário. è, no fundo, um veículo de histórias! Inspirou-me a escrever uma pequena crónica de uma das minhas experiências sobre carris. Obrigado pelos cigarros ontem... e pela conversa!
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