"Girafa em chamas" - Salvador Dali 1936-37
A mesa de madeira geme com o copo de Jack Daniel’s. Aos poucos vou ficando embriagado mas não consigo reprimir a vontade de continuar: anestesiado nem vou sentir nada; a intenção até é essa.
Um par de olhos destaca-se do azul do saco-cama e repete a pergunta. Abano a caberça e digo que não. Algumas coisas começam a irritar-me: é esta postura de detective noir, os balões de pensamento a solidificar-se no fumo do meu cigarro, a reproduzir a voz-off do meu inconsciente. Sempre quis ser o Corto Maltese e acabo por ser um sucedâneo, sem piada, do Bruce Willis, no Modelo e Detective, sem modelo.
Toda esta história parece irreal, como que saída de uma noite de insónia. Ninguém, com todas as balas no tambor da sua calibre 35, está sentado num tasco de estrada, acompanhado por uma mulher vestida com um saco cama até aos ombros. Correcção, até ao ombro esquerdo; o direito está desnudo e prolonga-se até uns dedos brancos que seguram uma garrafa de água.
Sei que não tem mais nada vestido a não ser a pele e um pouco do meu suor. O meu pai sempre me disse “uma mulher vestida com o teu suor é bem pior que aquela que te oferece a aliança”. Nunca tinha percebido o que ele dizia, nem ia ser hoje, mas lembrei-me.
Não estamos sentados há muito tempo mas parece uma eternidade. O meu copo já criou uma espécie de receptáculo quadrangular, com a sua forma, o que me faz desconfiar da qualidade das mesas, não serão de madeira mas de gelatina.
O braço dela tem sinais aleatórios como uma constelação; pego na esferográfica e começo a ligá-los, fazendo um desenho do que me parece ser o futuro (não me agrada mas também nunca tive jeito para o grafismo). É abstracto mas significa algo.
Ela sabe, que no fundo sou uma alma errante, não o consigo esconder como já o fiz com tantas. Pela primeira vez sou sincero, sem merdas.
O fecho do saco cama abre-se um pouco e mostra aquilo que não quer esconder: uma porção do seio bem feito espreita em forma de convite. O desejo é bem maior que a insegurança e a necessidade bloqueia o discernimento. Salto sem pára-quedas, pego nela ao colo e subo as escadas, de corrimão bem torneado como as pernas dela. O calor dela trespassa-me e o cheiro já há muito que me hipnotizara.
Um par de olhos destaca-se do azul do saco-cama e repete a pergunta. Abano a caberça e digo que não. Algumas coisas começam a irritar-me: é esta postura de detective noir, os balões de pensamento a solidificar-se no fumo do meu cigarro, a reproduzir a voz-off do meu inconsciente. Sempre quis ser o Corto Maltese e acabo por ser um sucedâneo, sem piada, do Bruce Willis, no Modelo e Detective, sem modelo.
Toda esta história parece irreal, como que saída de uma noite de insónia. Ninguém, com todas as balas no tambor da sua calibre 35, está sentado num tasco de estrada, acompanhado por uma mulher vestida com um saco cama até aos ombros. Correcção, até ao ombro esquerdo; o direito está desnudo e prolonga-se até uns dedos brancos que seguram uma garrafa de água.
Sei que não tem mais nada vestido a não ser a pele e um pouco do meu suor. O meu pai sempre me disse “uma mulher vestida com o teu suor é bem pior que aquela que te oferece a aliança”. Nunca tinha percebido o que ele dizia, nem ia ser hoje, mas lembrei-me.
Não estamos sentados há muito tempo mas parece uma eternidade. O meu copo já criou uma espécie de receptáculo quadrangular, com a sua forma, o que me faz desconfiar da qualidade das mesas, não serão de madeira mas de gelatina.
O braço dela tem sinais aleatórios como uma constelação; pego na esferográfica e começo a ligá-los, fazendo um desenho do que me parece ser o futuro (não me agrada mas também nunca tive jeito para o grafismo). É abstracto mas significa algo.
Ela sabe, que no fundo sou uma alma errante, não o consigo esconder como já o fiz com tantas. Pela primeira vez sou sincero, sem merdas.
O fecho do saco cama abre-se um pouco e mostra aquilo que não quer esconder: uma porção do seio bem feito espreita em forma de convite. O desejo é bem maior que a insegurança e a necessidade bloqueia o discernimento. Salto sem pára-quedas, pego nela ao colo e subo as escadas, de corrimão bem torneado como as pernas dela. O calor dela trespassa-me e o cheiro já há muito que me hipnotizara.
3 comentários:
Interessante :) Faz assim:
Ao lado do segundo sinal aleatório, pegando na caneta de feltro, desenha um pequeno ponto a vermelho, conecta-o aos outros todos.
A (re)volta da mulher macaco! Andamos à volta dela e no final... mais um King Kong a tentar apanhar o avião! Abraço
olha lá, o Bruce Willis era muiiiiiiito cool!:D
ps.boa noite!
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