terça-feira, 13 de dezembro de 2005

És Duende


Exploding Dog

Estou num barco que tem um buraco no fundo. A água entra às golfadas pelo orifício onde cabem dois dedos. Lembro-me de uma história que me contaram em Amsterdão há uns tempos atrás em que uma criança meteu o dedito num buraco, que havia num dique, e salvou a Holanda toda. Imagino a coitada da criança com uma sonda no braço de alimentação inter-venosa ainda com o dígito no buraco a salvar os Países Baixos.

Olho para o buraco e enfio lá o meu dedo com a esperança de evitar as cãibras. Um não chega, tem que ser dois. Tento em vão meter outro mas não consigo. Algo estranho se passa. Tento com a outra mão e o efeito é o mesmo.

- Ora porra, que se passa aqui?

Do tombadilho salta um pequeno duende verde que se ri sarcasticamente. Não como o do homem aranha, não como o dos contos nórdicos, não como os d’ O Senhor dos Anéis, mas um da minha imaginação: metade esquerda madeira, metade direita aço orgânico, orelhas bicudas e dentes podres. Abre a boca e o hálito podre faz-me lembrar um professor meu da faculdade.

- Era bom não era?

- Era bom o quê, pergunto eu com arrogância.

- Era bom que fosse assim tão simples. Não querias mais nada.

- Por acaso até queria, se tiveres aí uma cervejinha…

- Engraçadinho… o Sarcástico aqui sou eu, não queiras que os teus leitores pensem que és melhor do que eu. Afinal, se bem te lembras, escreveste ali em cima:

“Do tombadilho salta um pequeno duende verde que se ri sarcasticamente.” Se me pões a rir sarcasticamente é porque sou sarcástico.

- Mas também te esqueces que eu costumo matar as minhas personagens no fim!

- Pois, mas eu não sou uma personagem comum; tudo indica que se alguém vai morrer, esse alguém és tu! Ah ah ah ah ah ah!

- Não posso morrer! Estás-te a esquecer que já morri aqui há uns textos atrás.

- Não estou a ver…Eu fui criado agora por isso não sei o que tens escrito.

- Eu não tenho escrito nada. Eu sou um narrador novo, mas como um Narrador já foi morto nos textos anteriores e este escritor maluco não costuma repetir a dose, acho que desta vez és tu!

- Ei! O que é isto?! Revolução no meu texto?! Estejam lá caladinhos, quem manda sou eu. Não vou admitir tentativas de condicionamento nos meus textos!

- Olha quem ele é! Estás bom ó Terceleiros?


Exploding Dog

- Ainda bem que apareceste! Eu e a tua nova criação temos aqui um desaguisado e só tu é que podes resolver.

- Resolver? Achas que ele vai resolver alguma coisa?! Anda sempre a alardear o livre arbítrio das personagens e depois é o que se vê. Dá-lhes corpo (e já agora não gosto muito do meu, metade madeira metade aço?) e alma, confiança e depois manda-lhes a paulada!

- Mas o que é isto?! Não estás contente com o teu corpo? Olha que eu trato-te da saúde com uma figura de estilo! Queres um pleonasmo para ficares mais meiguinho?

- Está bem. Eu calo-me, mais vale isto que nada.

- Juizinho os dois e continuem lá a história. Senhor Narrador prossiga se faz favor.

Ainda bem que o Terceleiros apareceu. Não há paciência para estas criações de segunda água. E por falar em água já tenho os pés molhados.

Espera… Aqui na caixa dos comentários está a solução.

- Menina Ana, se li bem, ofereceu-se para meter o dedo no buraco.

O duende dá um grito lancinante e abana a cabeça em desespero.

- Que é que tu vais fazer?! Andei eu a engendrar este plano maléfico montes de tempo para isto? Para aparecer alguém na caixa dos comentários e estragar tudo?!

- Tu está mas é caladinho ó Mr. Spock mal acabado!

Ana entra a matar.

- Mr. Spock?! Olha que esta! Queres que te amaldiçoe até à quinta geração?!

- É porque vais amaldiçoar! Olha lá ó narrador, que é que se faz com esta prateleira do IKEA?!

- Eu não sei, mas estava a pensar que podíamos pensar em tapar o buraco, é que enquanto estamos aqui a discutir com o tarreco ainda vamos ao fundo.

- Então metemos lá o dedo ou nem por isso?!

- Metemos.

Colocámos os dedos no orifício, a água parou de entrar e como que por magia, a que estava no barco secou.

O duende faz cara de aborrecido e foi buscar um baralho de cartas e uma garrafa de Bollinger e atira-a a na minha direcção.

- Já que são tão amiguinhos arranjem-se. Ainda têm duas mãos.

9 comentários:

Miguel de Terceleiros disse...

Boa ideia!

Sukie disse...

I´m happy and also stupid (eheh)

Hugo Brito disse...

Deves ter mostrado o dedo ao duende, para ele estar tão chateado...

Anónimo disse...

Miguel
Entre o real e o irreal do texto, fica a convicção de que Terceleiros não gosta de duendes, especialmente aqueles que lhe estragam o que escreve!!!

Recebe grande abraço e Feliz Natal

Anónimo disse...

Aiiiiiiiiiiiiiiiii! Que mandou meter aí o dedo!?!!? É parar com essas brincadeiras que não tem piada nenhuma! Da próxima vez #$&%"-vos!

Periférico disse...

Sempre a inovar;-)

Moral da história: Salvo pela caixa de comentários? ;-)

Um abraço

PR disse...

é para amanhã?:-)

Abraço...

temos de discutir isso em pessoa

Unknown disse...

é caso para dizer... mete uma rolha!

Miguel de Terceleiros disse...

É porque meto!