Exploding Dog
Estou num barco que tem um buraco no fundo. A água entra às golfadas pelo orifício onde cabem dois dedos. Lembro-me de uma história que me contaram em Amsterdão há uns tempos atrás em que uma criança meteu o dedito num buraco, que havia num dique, e salvou a Holanda toda. Imagino a coitada da criança com uma sonda no braço de alimentação inter-venosa ainda com o dígito no buraco a salvar os Países Baixos.
Olho para o buraco e enfio lá o meu dedo com a esperança de evitar as cãibras. Um não chega, tem que ser dois. Tento em vão meter outro mas não consigo. Algo estranho se passa. Tento com a outra mão e o efeito é o mesmo.
- Ora porra, que se passa aqui?
Do tombadilho salta um pequeno duende verde que se ri sarcasticamente. Não como o do homem aranha, não como o dos contos nórdicos, não como os d’ O Senhor dos Anéis, mas um da minha imaginação: metade esquerda madeira, metade direita aço orgânico, orelhas bicudas e dentes podres. Abre a boca e o hálito podre faz-me lembrar um professor meu da faculdade.
- Era bom não era?
- Era bom o quê, pergunto eu com arrogância.
- Era bom que fosse assim tão simples. Não querias mais nada.
- Por acaso até queria, se tiveres aí uma cervejinha…
- Engraçadinho… o Sarcástico aqui sou eu, não queiras que os teus leitores pensem que és melhor do que eu. Afinal, se bem te lembras, escreveste ali em cima:
“Do tombadilho salta um pequeno duende verde que se ri sarcasticamente.” Se me pões a rir sarcasticamente é porque sou sarcástico.
- Mas também te esqueces que eu costumo matar as minhas personagens no fim!
- Pois, mas eu não sou uma personagem comum; tudo indica que se alguém vai morrer, esse alguém és tu! Ah ah ah ah ah ah!
- Não posso morrer! Estás-te a esquecer que já morri aqui há uns textos atrás.
- Não estou a ver…Eu fui criado agora por isso não sei o que tens escrito.
- Eu não tenho escrito nada. Eu sou um narrador novo, mas como um Narrador já foi morto nos textos anteriores e este escritor maluco não costuma repetir a dose, acho que desta vez és tu!
- Ei! O que é isto?! Revolução no meu texto?! Estejam lá caladinhos, quem manda sou eu. Não vou admitir tentativas de condicionamento nos meus textos!
- Olha quem ele é! Estás bom ó Terceleiros?
- Ainda bem que apareceste! Eu e a tua nova criação temos aqui um desaguisado e só tu é que podes resolver.
- Resolver? Achas que ele vai resolver alguma coisa?! Anda sempre a alardear o livre arbítrio das personagens e depois é o que se vê. Dá-lhes corpo (e já agora não gosto muito do meu, metade madeira metade aço?) e alma, confiança e depois manda-lhes a paulada!
- Mas o que é isto?! Não estás contente com o teu corpo? Olha que eu trato-te da saúde com uma figura de estilo! Queres um pleonasmo para ficares mais meiguinho?
- Está bem. Eu calo-me, mais vale isto que nada.
- Juizinho os dois e continuem lá a história. Senhor Narrador prossiga se faz favor.
Ainda bem que o Terceleiros apareceu. Não há paciência para estas criações de segunda água. E por falar em água já tenho os pés molhados.
Espera… Aqui na caixa dos comentários está a solução.
- Menina Ana, se li bem, ofereceu-se para meter o dedo no buraco.
O duende dá um grito lancinante e abana a cabeça em desespero.
- Que é que tu vais fazer?! Andei eu a engendrar este plano maléfico montes de tempo para isto? Para aparecer alguém na caixa dos comentários e estragar tudo?!
- Tu está mas é caladinho ó Mr. Spock mal acabado!
Ana entra a matar.
- Mr. Spock?! Olha que esta! Queres que te amaldiçoe até à quinta geração?!
- É porque vais amaldiçoar! Olha lá ó narrador, que é que se faz com esta prateleira do IKEA?!
- Eu não sei, mas estava a pensar que podíamos pensar em tapar o buraco, é que enquanto estamos aqui a discutir com o tarreco ainda vamos ao fundo.
- Então metemos lá o dedo ou nem por isso?!
- Metemos.
Colocámos os dedos no orifício, a água parou de entrar e como que por magia, a que estava no barco secou.
O duende faz cara de aborrecido e foi buscar um baralho de cartas e uma garrafa de Bollinger e atira-a a na minha direcção.
- Já que são tão amiguinhos arranjem-se. Ainda têm duas mãos.
9 comentários:
Boa ideia!
I´m happy and also stupid (eheh)
Deves ter mostrado o dedo ao duende, para ele estar tão chateado...
Miguel
Entre o real e o irreal do texto, fica a convicção de que Terceleiros não gosta de duendes, especialmente aqueles que lhe estragam o que escreve!!!
Recebe grande abraço e Feliz Natal
Aiiiiiiiiiiiiiiiii! Que mandou meter aí o dedo!?!!? É parar com essas brincadeiras que não tem piada nenhuma! Da próxima vez #$&%"-vos!
Sempre a inovar;-)
Moral da história: Salvo pela caixa de comentários? ;-)
Um abraço
é para amanhã?:-)
Abraço...
temos de discutir isso em pessoa
é caso para dizer... mete uma rolha!
É porque meto!
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