Saiu da discoteca com a acidulência a queimar o estômago, os olhos a arder nas chamas do Inferno de Alighieri e respeitosamente amaldiçoou a sua sorte.
Olhou ao redor e viu toda a esterquície humana a esvair-se pela porta pútrida daquele antro de dinheiro mal gasto e álcool na demoníaca proporção.
Meteu-se num táxi e à medida que o seu condutor se lamuriava da crise instalada por todo o lado, que não me dá uma noite de trabalho em condições há muito tempo, conduziu a sua mente para pensamentos mais elevados, procurando encontrar o que tinha perdido no meio da música.
Os ouvidos zumbiam num síndrome de dependência síncopado e o pulso aumentava quando pensava no que tinha acabado de fazer. Saiu na lota e entrou no primeiro tasco aberto.
Pescadores de caras vincadas por rugas de suor e sal, comiam a bucha da noite, afastando assim o frio ao mesmo tempo que consolavam o estômago. As vozes grossas de muitos anos de mar, criavam um ambiente sónico que lhe embalava a mente.
Sorriu ao pensar que mais uma vez ia trabalhar sem dormir.
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