quinta-feira, 18 de novembro de 2004

Liga das Quecas Extraordinárias II

Cumprimentou Anfitrião, o dono da tasca, que com a sua penca proeminente reconhecia todos os bons clientes quando entravam na rua, e com simpatia fazia-os sentir em casa. Era um refúgio para estudantes com os seus preços sociais e arroz de feijão à terça-feira. Todas as faculdades da zona lhe conheciam o baixo preço e o cheiro a comida caseira que se
agarrava à roupa, ao corpo e à alma.

- Já cá estão os seus sócios, sorriu Anfitrião.
- Então mande para dentro o meu copo e a multa.

A multa era uma caneca de receita de vinho verde, feita com uvas que nunca viram arames, que era paga pelo último a chegar aos conciliábulos da primeira terça do mês, dia instituído das reuniões.

Escolheu a porta da esquerda, de batente a meio corpo, para a entrada em triunfo, muito de acordo com a sua personalidade exibicionista.

Encontrou-se na sala tão bem conhecida, onde inúmeras vezes matara a fome a crédito. Era um compartimento atípico das salas dos restaurantes e tascas da cidade. Não tinha televisão e em seu lugar autocolantes alusivos a tunas, associações académicas faculdades e afins, digladiando-se com fotografias crucificadas em placards de corticite, de convívios estudantis. Ao fundo, no canto, um aquário com um peixinho dourado, que se alimentava com os vapores da cozinha e as conversas díspares dos comensais.

E lá estavam os sócios.

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