"O Beijo" Gustave Klimt - 1907-08
- Isto não vai doer nada.
Não vai não, como se eu não soubesse já como são estas coisas.
- Descontrai e vais ver que daqui a pouco já tudo passou.
É mesmo isso.
- Não te vou mentir, dói sempre um bocadinho.
- Sim, eu entendo.
Olha, e se saísses de cima dos meus pés? Sabes que para espectro pesas muito; para além disso já tenho os pés transpirados.
Não vou pôr os travessões de fala porque esta é uma conversa entre o personagem e o seu anjo da guarda.
Sim, sim… e que esperas que eu faça. O meu lugar é aqui, aos teus pés. Mesmo que não acredites em mim (porque raio é que me ia calhar um agnóstico na rifa), vais ter que levar comigo.
Pois mas não estejas à espera que te vá passar a mão pelas penas. Que raio de anjo és tu que nem penas tens? Já não vos fazem como antigamente?!
Eu sou só o fruto da tua imaginação. Cada um de nós é feito à imagem do que vos passa pela cabeça.
E se fosses fazer algo de útil?! E se fosses ajudar quem realmente precisa?!
Ah! Já sei o que queres.
Segunda-feira; Porto; 19:37.
- Olá!
A voz doce corresponde aquilo que tinha imaginado. Bonita, bem feita e meiga, muito meiga; por trás da aparência adivinhava-se uma caixa de dinamite (vem sempre em pacotes pequenos).
- Era cego e agora vejo.
- Desculpa?
- É esta cena dos blind date’s…
Ela ri-se com os lábios perfeitos e rugas de expressão dignas de uma profissional. Ele sorri meio envergonhado e pensa que não há razão para icebergues entre eles, afinal já tinham selado o pacto com um abraço de boas vindas.
- Apeteceu-me.
A mão dela toca-lhe, primeiro a pele e depois o fundinho do coração que está pequeno, ou melhor, apertado de uma dor boa.
- Ainda bem que te apeteceu…
- E se fossemos jantar?
Duas horas depois, e com uma garrafa de tinto do Douro a acompanhá-los, saem do restaurante, já bem agarrados. A estranheza já havia desaparecido e sorriam como dois adolescentes. O frio e a chuva miúda provocavam o aconchegar dos dois corpos.
- Gosto de chuva.
- E se usasses os lábios para o que eles servem?
- Hmm…
Não foi coragem, foi empatia que precipitou o acontecimento. Ele agarra-a e rouba um beijo consentido.
- Estás-me a beijar?!
- Shiu…
Pronto eu vou lá. Se é o que queres…
É mesmo isso. Ajuda-a.
6 comentários:
Pepe: Queres que te ponha fora da cama?!
:D Pouco barulho !?
ADORO este quadro, ADORO este pintor!
Deixa-o piar...
"Solta-se o beijo o gato mia..."
Abraço da Zona Franca
Ana:
Eu não, já os meus personagens...
Tu sabes bem quem era...
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