"Os bêbados ou festejando o S. Martinho"
José Malhoa - 1907
Não pretendo nem quero ser, algum dia, o dono da verdade, muito embora dê algum jeito ser possuidor de alguma. O que vão poder testemunhar nos textos PCP (Portugal
#1 O café (vulgo tasco)
Acho que todos, uns mais outros menos, já entraram num café de aldeia ou mesmo de vila. Bem esmiuçada a metrópole, também se encontra o café de que vos vou falar.
É gerido por uma família, com pelo menos 4 gerações presentes. O Avô que já se deixou de se chatear com o trabalho, passa o dia sentado na Sua mesa a falar com este e aquele; os pais servem ao balcão e dão galhetas nos filhos que também já dão os primeiros passos ao fim de semana, os netos lá andam em correria desvairada a azucrinar o juízo aos clientes (que vão aproveitando e ensinando as primeiras malandrices).
As mulheres do clã estão, como não podia deixar de ser, na cozinha a preparar moelas, rojões, tripas, que colam aquele cheiro gorduroso na roupa e no cabelo da clientela.
Se algum elemento se casa, o cônjuge é sempre bem-vindo para trabalhar no café.
Café que se preze, tem algumas coisas de que se orgulha: o balcão de alumínio, que por muito que se limpe, e seja naturalmente asséptico, está sempre, algo, sujo; a máquina do café, já antiga (anos 30), que não pode ser lavada senão perde-se o gosto do café; as mesas e cadeiras a imitar o mármore, que tão bem combinam com o balcão; uma televisão de dimensões generosas para ver o futebol; e como não podia deixar de ser, um ou dois bêbados que constantemente cravam um copo a este e àquele.
E as cartas? Sueca, Sobe e Desce, Lerpa, Escova, Truco… E as damas, o dominó! Alguns cafés têm uma sala só para os jogos, outros fazem-no na sala principal, mas é certo e garantido nunca faltar parceiros para as cartas. Por vezes é mais religioso que o futebol.
Raro, raro é ver uma mulher entrar nestes locais, se bem que há algumas que vão buscar os maridos pelas orelhas (há casos disso). Evitam entrar, porque à partida serão comentadas desde a bainha das calças ao último folículo capilar, e isto com sorte. Alguém mais atrevido (acompanhado de um copo a mais) pode mandar a boquinha da reacção, capaz de fazer corar a meretriz mais qualificada da Trindade.
Não quero insinuar que o meu café é um antro de machistas… Prefiro qualificá-lo como um local onde os machos entram sempre em competição. Qual faz o melhor comentário, quem bebe mais cervejas, quem comeu mais gajas, quem pega em mais sacos de cimento…
Atenção que é frequentado por toda a gente, desde que seja do sexo masculino. Os mais educados (academicamente) são tratados por doutores ou engenheiros (mesmo que não o sejam) e o proletariado tem orgulho em ter ali tão importantes personagens.
Mas as coisas já não são como antigamente, este mundo está perdido. Entrei no café da terra há uns dias e, numa das televisões estava a dar o Chelsea, enquanto no ecrã gigante a telenovela, e os machos, confessos, todos a babar com aquilo.
Em conversas, a que já assisti várias vezes, discute-se a vida de fulano e cicrana (tudo se sabe) e ainda se advogam ao direito de criticar as cabaneiras, beatas, que vão para a porta da igreja falar da vida dos outros.
Será que o café está a entrar em vias de extinção!?
10 comentários:
è a Globalização meu caro!!!!!!!!!!!!!
( o pior dela pois está claro;) )
fiquei com a sensação que vivemos na mesma terra e este é o café da Dona Maria..........enfim De já Vous!!!!!!!!!
até os bloggers já lá chegaram...
Montaste a biblioteca lá em cima...? Mto bem!
abraço da Zona Franca.
PS - amanhã é pra rambóia,certo?
Achas?
Ou o café está em vias de extinção, ou os machos que lá vão andam a desviar-se :) Cof cof!
Bom Natal!
Olá Miguel,
Passo por cá para deixar os meus votos de um Santo e Feliz Natal para ti e para todos aqueles que fazem parte da tua vida.
Que o Pai Natal seja generoso.
Um forte abraço natalício.
Vinha desejar-te aquele blá-blá da quadra e acabei encostada ao balcão a beber traçadinhos.. hic
E que no verão se enchem de emigrantes que estacionam as suas "bombas" à entrada e vão lá visitar os velhos conhecidos.
Conheço alguns exemplares destes mas que se têm vindo a extinguir
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