Sentiu, com surpresa, algo a encostar-se aos rins.
- Não diga nada, isto é uma 35mm com silenciador. Qualquer gesto e já sabe, é como nos filmes.
A voz grossa, igual a tantas outras, induzia respeito, para não dizer medo. Decidiu obedecer mesmo sem compreender.
- Está a ver o carro preto que se aproxima? Abra a porta e entre.
Anui com a cabeça e quando o automóvel pára abre a porta e dá de caras com o orifício de outra automática, empunhada por uma loira dos seus trinta anos.
- Boa noite.
- Para mim não está a ser muito boa…
- Pode ser que melhore. Sabe porque está aqui?
- Não faço a mínima ideia mas suponho que não é para ir às compras.
- Não lhe falta o sentido de humor.
- Não, só o de orientação, e o de humor só o perco quando me oferecem flores; sei que me vão pedir alguma coisa a seguir.
- E um calibre 35 não?
- Não, antes pelo contrário, na pior das hipóteses ainda me dão qualquer coisa, umas onças de chumbo.
A loira sorri com a piada.
- Bem visto. Joga poker?
- Não mas, tive aulas de bluff com o James Woods.
O sarcasmo sempre foi o seu forte, e se era desta que ia morrer, o que não lhe parecia, ao menos que fosse com boa disposição.
- Minha senhora, se me enfiar uma bala no peito acredite que me vai fazer um favor.
- Nós não fazemos nada disso, isto – faz um gesto com a arma – é só para não se pôr com ideias. Relaxe, só quero ter uma conversa consigo.
- Ok. Vamos lá à conversa mas baixe o canhão. Com as estradas que temos aqui em Portugal ainda me acontece como no Pulp Fiction.
- Ah ah ah ah! Não consigo fazer com que perca a piada mas isso já eu sabia. Comecemos então pelo início. Eu sou uma das executoras de uma empresa que trabalha com pedidos especiais; chamemos-lhe Poço dos Desejos. Realizamos coisas que as pessoas não conseguem realizar.
- Como saltar de um comboio em andamento e sobreviver?!
- Nada disso, mas se a pessoa quiser…
- Eu gostava.
- Pois… Há uma semana atrás fomos contactados com um pedido que tem a ver consigo. Citando:
“Quais são as possibilidades de fazer desaparecer a pessoa §$%#%&?”
Deve compreender que havia um email, falso é claro, bem como informações detalhadas em relação a si. Respondemos ao mail e resolvemos saber se o encomendador estava mesmo disposto a prosseguir com o pedido.
- Não consegue marcar uma mesa para três no D. Tonho para discutirmos o assunto? A senhora podia ser a mediadora da conversa.
- Bem, não brinque. Já lá vamos. A pessoa em questão insiste em ficar anónima, mas não somos amadores e depois de uma troca de email’s marcámos um encontro físico.
- Sempre gostei de blind date’s.
- Compareceu ao encontro e seguiu as instruções à risca cumprindo a sua parte do acordo.
- Que era?
- Depositar uma determinada quantia numa conta cifrada e indetectável.
Compreende que neste momento temos a faca e o queijo na mão.
- Compreendo e quer dizer que em estão a levar a uma sapataria para me oferecer uns sapatos novos e servir de comida para os peixinhos.
Continua...
3 comentários:
Para loira é muito esperta!
Continuo para onde?
Abraço
Kaboom, kaboom, kaboom...
Abraço grande da Zona Franca
To be continued...detestava quando isso me acontecia num filme interessante que estava a ver...
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