- Temo que não me esteja a entender. Não vai ter que pagar nada, afinal o encomendador já o fez por si. Só queremos que seja você a fazer o serviço, não pedimos nada em troca.
O carro pára suavemente e o motorista, até agora invisível graças ao separador, revela-se e abre a porta.
- Faça o favor, diz-lhe o homem de fato.
- Estava à espera de um macaco de ginásio.
- Nós somos anti-estereótipo.
- Já deu para notar.
Uma floresta de salgueiros cercava uma casa em xisto. Olhando para trás, a única coisa que se via eram salgueiros e mais salgueiros, cortados pela estrada que conduzia à casa. Não se vislumbrava nenhuma luz a não ser a que vinha de uma janela, o que tornava difícil a identificação do local.
A porta de entrada, em carvalho, deu acesso a um corredor decorado com serigrafias numeradas de diferentes artistas, a julgar pelos rabiscos nas telas.
Conduzido pela figura esbelta da loira, chegam a uma sala com sofás de couro e uma lareira em xisto a ambientar. A cobrir grande parte das paredes quadros surrealistas que se tornavam vulgares pela quantidade.
- Estes quadros vêm mesmo a propósito. Escolheram-nos para esta noite?
- É para se sentir confortável. Ainda tentamos arranjar sarcásticos mas já estavam esgotados.
- Eu sei, estão todos em minha casa. São verdadeiros?
- São, fazem parte do nosso fundo. Temos que gastar o dinheiro em alguma coisa.
- Não tem por aí o retrato do Dorian Gray?
- Não, reza a lenda que o retrato se transformou em carne, mas isso já deve saber.
- Pois. Mas diga lá, continue a expor a sua proposta.
- Primeiro uma bebida. Jack Daniel’s, certo?
Tinha-se deslocado a uma mesa de apoio e voltava com dois copos quadrangular da marca do Tenessee.
- Sabe que este bourbon sabe a
- Banana, eu sei.
-?!
- Temos estudado os seus hábitos, gostos, leituras, tudo, por isso não se espante com o que possa acontecer.
Mas agora… Quero saber se aceita a nossa proposta.
- Desculpe. Eu nem sei quem é a pessoa em questão.
- A pessoa em questão é a sua esposa.
Os olhos dele brilharam de raiva e de satisfação e, sem pestanejar, entendeu que lhe tinha saído a lotaria. Era a melhor forma de se livrar daquela megera.
- O que é que tenho de fazer?
- Nós sabíamos que o senhor ia aceitar, afinal as coisas entre vocês não estão assim tão boas.
- Ai isso é que estão, eu quero é ver-me livre dela porque a amo.
A nota de ironia transparecia raiva e impaciência e, enquanto foi buscar a garrafa à mesa de apoio, acrescentou:
- Vamos lá despachar isto.
- O plano é o seguinte:
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