terça-feira, 11 de outubro de 2005

21

Andrajosamente lúcido revira os olhos à procura da página certa. Lê na diagonal, com pressa, embora saiba que esta leitura nunca resulta (pelo menos com ele). Obtém produtividade na leitura com atenção; ao sobrevoar as páginas sente que está a perder tempo; não vai encontrar o que deseja mas teima.

O mofo invade as narinas e fá-lo abafar um espirro. Não podem saber que está ali, pelo menos agora. Há que esticar (alargar) os limites cronológicos para lá do razoável. Esquartejar os relógios do mundo para ter o tempo multiplicado por quatro. Não é possível nesta história, nesta sala, com este corpo; há que aproveitar [(explorar (exaurir)] ao máximo, o tempo.
Demorara a encontrar o livro e agora, que o tinha na mão, a passagem teimava e escapava. Procura nas entrelinhas.

Olhou para as linhas e atingiu a forma de encontrar o que queria. Da pasta de couro coçada e áspera como a vida, retirou papel pautado, com um allegro que estava a compor já há anos, e colocou-o sobre as páginas do livro. Semitransparente, misturava as letras com os símbolos musicais e concentrava nas entrelinhas só o essencial.

Esta procura tornava-se uma obsessão e instava-o a prolongar a demanda. A felicidade dependia daquilo ou talvez não. Da mesma forma que outros procuravam Graal’s de múltiplas formas e conteúdos, este era o seu.

Horas sem fio nem textura aparente entraram nos seus olhos atingindo os neurónios construindo cansaço com tijolos de informação. 110 páginas absorvidas com atenção, lidas de uma forma nunca antes lida; música e letra em conjunção absoluta de uma forma que agora a música era lida pelos olhos e a leitura pelos ouvidos.

Vinte e um anagramas. Aqui está a linha que procurava. Nunca a iria encontrar se não fosse desta inventiva forma de ler nas interlinhas. Espaço, espaço, ponto final.Levantou o papel pautado e viu a frase original.

A ARMATA MEN GUN VIS.
O autor brincara com uma espécie de latim macarrónico e inglês. Repetia ideias.
Traduzia-se como:
A força (Armata) dos homens (Men) é a quantidade (Vis) de armas (Gun).
Não lhe interessava esta frase.
Não fazia sentido nem nunca fizera, mas agora parecia que estava no caminho certo. A frase do texto que dava origem a esta era:
Quanto pesa o Amor?
Vinte e um anagramas.

Mais uma brincadeirinha. Divirtam-se

6 comentários:

Hugo Brito disse...

:)20ne less is 20

Hugo Brito disse...

Mas o meu amor anda à roda dos 50 kilos:D

noasfalto disse...

São as 21 grama que perdes ao morrer.

ABR

Humor Negro disse...

A alma também pesa 21 gramas.

Freddy disse...

Olha, adorei conhecer-te ontem, acho q és muito giro, castiço, fofinho e humano. O brilho que emana de ti enche qulaquer sala e só espero que nos continuemos a encontrar regularmente nesta caravana de circo que é a vida...

Abraço grande da Zona Franca

Sukie disse...

O amor não pesa...é leve porque é trazido por uma brisa, por um momento em que nos encontra-mos desprevenidos. Não pesa? bem, depende do tipo de amor: há amor que se torna num fardo difícil de suportar e há amora que além de não pesar, ainda nos retira outros pesos da alma! Espero que o teu caso seja o seugundo :)