A esplanada está cheia de pessoas a comer areia. Há pouco alguém mandou um chuto no areal, quando o vento ainda estava calmo e acabou por provocar esta algazarra de sílica voadora.
Tudo estava a correr muito bem. O dia bonito, o almoço saboroso, algumas lágrimas de ressaca, teimosas, a querer sair e um belo dia de praia a perspectivar-se. Miguel chega e dá um pontapé na areia e de um minuto para o outro, sem pré-aviso nem carta registada, o bom tempo despede-se e lá vem a ventania.
- Isto passa, diz Hugo com areia a invadir os seus caracóis, já de si revoltos, que de preto passam a loiro com tanta areia que o fustiga.
Pepe nem precisa de convite, deita-se sem tirar a roupa, cobre-se com a toalha e agarra-se à ressaca para dormir uns vinte minutos que sejam. Hugo abana a cabeça e ri-se da posição que Pepe arranjou; Miguel gargalha.
- Só mesmo ele para dormir nestas condições.
Dois minutos de sono e já tem a cara com areia por todo o lado; Hugo enquanto vai trincado alguma informa:
- Acho que provocaste aqui uma revolução. Aquele chuto que deste perturbou os camaridinhos e agora estamos fodidos.
- Ando eu a perturbar este microcosmos sem necessidade nenhuma. Olha se tivesse dado um chuto num penedo, aí é que estávamos fodidos.
Armaram a tenda à canadiana e foram-se rindo até que a situação se tornou incomportável; a areia fina invadira tudo e Pepe acordou a cuspir que já tinha areia nas pregas dos sacos, o que bastou para se porem a caminho para ambientes mais livres de particularidades.
Como eu estava a dizer ali em cima: a esplanada está cheia de pessoas a comer areia, por isso vou mandar estes três senhores para dentro do bar, não há cá esplanada para ninguém.
Estamos em Caminha, mais em concreto, na praia do Camarido, com vista para a Galiza e para o estuário do rio Minho que se permeia com o mar já ali, uns metros à frente. Estão os três acampados no parque já bem conhecido, com muitas histórias para contar a quem as quiser escutar, e agora querem qualquer coisa para molhar o bico de caçadores insaciáveis.
Sentam-se e pousam todas as tralhas na mesa, nas cadeiras, trazendo o pandemónio do exterior em forma de objectos.
- Lembrei-me agora de um sketch para o Gato Fedorento… - diz Miguel enquanto se engasga com a Super Bock e com o riso – Homens com problemas de nomenclatura!
- Ora explica lá isso – ri-se Pepe com as suas características gargalhadas mudas.
- Já vais ver.
Miguel faz sinal à empregada, moça dos seus vinte e muito poucos anos, que deve muito à beleza e nada à simpatia. Aponta para a garrafa vazia, ela entende o que bem entende e dirige-se ao balcão.
- Sempre com sede caralho.
Pepe é lento como mel a escorrer pelo vidro, era bom para ir buscar a morte, e às vezes há um lampejo de espanto quando vê Miguel e Hugo a emborcar cerveja.
A rapariga chega com uma Super acabada de abrir.
- Desculpe… - Diz Miguel quando ela já deu meia volta – Eu só queria que visse que a minha garrafa estava vazia.
As faces da rapariga passam por toda a paleta cromática do photoshop e diz timidamente:
- Desculpe… mas… eu pensei que queria outra.
- Estava a brincar! Deixe ficar.
Miguel ri-se e a rapariga suspira de alívio. Afasta-se e Hugo comenta:
- És fodido…
- Estava só a brincar, e não me parece que ela tenha ficado chateada.
- Olha, mas que raio é que isto tem a ver com os homens com problemas de nomenclatura?
- Esqueci-me disso… já sabes que as minhas ressacas são assim, dá-me assim umas brancas; mas já te mostro.
Passados dois minutos a rapariga volta a cirandar ali perto e Miguel volta ao ataque:
- Desculpe!?
- Sim – a voz dela denuncia insegurança, como se Miguel lhe fosse fazer um pedido difícil.
- Olhe menina… Eu quero uma coisa mas não me lembro do nome.
- Sabe é que ele tem problemas de nomenclatura – Pepe resolve, com o seu ar sério e neutro, deitar algumas achas para a fogueira.
- Nomencla quê?
- Nomenclatura: por vezes não consegue dar nomes às coisas… Não se lembra dos nomes.
- Bem, eu quero (não sei como se chama)… é um líquido meio castanho, quase preto; geralmente vem dentro de um recipiente branco, com desenhos ou letras por fora, em cima de um disco branco, e depois vêm acompanhado por um invólucro colorido que pode ser de papel ou plástico com uns grãos brancos no interior, que misturados com o líquido o tornam doce.
- Café – Pergunta a rapariga a medo.
- É isso mesmo, enfim, alguém que me compreende!
Ela retira-se na demanda do líquido blá bá blá, e os três ficam a rir-se.
7 comentários:
Pouco loucos!
Esses problemas de momencratura devem ter sido acicatadas pela areia nos sacos... mas que traziam os sacos, num percebi... ;) abraço
Olha o pepe maroto e maaaau, também comenta por aqui... miauuuuuuuu ;)(K)(K)
Menina Marota:
O Pepe sempre passou por cá, a menina é que está aqui de fresco...
Bem vinda!
Leia e delicie-se...
convencido.
mais uma louca que entra e vai saindo...
ah! bom fds
Sp no teu melhor
continua assim
jokas
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