terça-feira, 3 de janeiro de 2006

Time bomb II


"Starlight lakel" - Ojeda - 2000

A água cai em fluxos intermitentes no pequeno lago. Dá para entender que há um qualquer sistema eléctrico que controla os jactos de água. Capta-lhe a atenção durante algum tempo até que compreende o padrão e perde o interesse. À sua volta estão sentadas pessoas entre as quais duas raparigas, que entre divertidas e concentradas vão dissecando a matéria que se distribui, entre livros e cadernos, na mesa caótica. O interesse recai sobre a ruiva, mais na roupa que na rapariga. A importância do que tem (terá) em mãos devolve-lhe a atenção à realidade.

- Boa tarde, o que vai ser, pergunta-lhe a empregada de avental azul com as insígnias do bar.

“O que vai ser? Quando for grande?” pensa na construção frásica e morde-se para não corrigir. “Low profile, não te esqueças” e responde:

- Boa tarde, queria um café.

Espera a resposta “Se queria é porque já não quer” e arrepia-se de ter usado o Passado na frase.

- Concerteza.

A empregada dirige-se a outra mesa depois de digitar o código numérico na maquineta.

Pega no telemóvel e vai lendo as mensagens antigas tentando encurtar a espera. Completamente natural quando se aguarda por qualquer coisa ou alguém.

- Cá está, são 2 euros.

“Carotes”. Tira as moedas e paga sem articular palavra. Ainda olha para a rapariga na esperança que seja ela a desbloquear a situação mas nada acontece.

Abre o pacote de açúcar a dois terços, deita um terço na chávena enrola o resto e coloca no pires - força do hábito.

Hoje algo está diferente: o pacote é bem conhecido mas não enrola como os outros. Desenrola-o e nota que o papel é diferente do comum: a textura é próxima do acetato mas maleável; ao desenrolar torna-se momentaneamente translúcido mas retoma a cor original rapidamente.

Era disto que estava à espera, agora tinha a certeza. Toma o café com calma e abandona o bar para estudar o papel com calma.

Abre a porta da casa de banho e entra num dos compartimentos. Observa o papel depois de o desdobrar e lê:

www.wishinghell.net

Activation code: M1RACLE

Tira o portátil da mala, activa o Kanguru e escreve o endereço. A página está em branco excepto uma caixa com o título “make a wish”.

Digita o código de activação e lê:

Please create a mail adress on www.shemail.net

Carrega no link e cria uma conta com o nome de usuário:

Augustocomte@shemail.com

Abre a conta e com surpresa vê uma mensagem de Wishinghell.

Esta mensagem de email, como deve compreender, deverá ser apagada. Siga as instruções e o seu desejo será concedido.

Deverá fazer uma transferência bancária para a conta 00000153786921299.720.5 com a quantia já estipulada.

O assunto será resolvido no prazo de quarenta e oito horas após o dinheiro se encontrar em nosso poder.

Tenha uma boa vida.

Copia o número para um talão e dirige-se ao banco. Na ATM escolhe transferências e com frieza digita o código de destino e a quantia. Nem se dá ao trabalho de saber o destinatário, calcula que serão dados falsos ou momentaneamente verdadeiros.

Coloca os Armani e chora ao pensar nos momentos bons.

Continua...


4 comentários:

Miguel de Terceleiros disse...

Sinceramente prefiro as loiras (cervejas)...
Esperas até amanhã como toda a gente!

Freddy disse...

Isto, com este ganapo, há q ter paciência... Despacha-te homem!

Abraço grande de bom ano, da Zona Franca

noasfalto disse...

amanhã passo cá.
abraço

kiko disse...

Hummm, isto está a ficar dapitalizado... 2 euros de café, um portátil, um kanguru, uma conta bancária e por fim uns óculos Armani!?!? Estarás a ser formatado pelo capitalismo enraivecido? :D Abraço e bom ano caralho! Já agora, um parêntesis(?)... o código de acesso para esta posta foi REBAL, será sintomático do homem civilizado que dá o rebal pela moedinha!? ABRAÇO Over and out