«Todas as manhãs o eunuco tirava de um certo armário uns vasos de prata que continham uma pasta densa como o mel, mas de cor esverdeada, passava diante de cada um dos prisioneiros e nutria-o daquela substância. Eles saboreavam-na, e começavam a contar a si próprios e aos outros as delícias de que falava a lenda. [...] passavam o dia de olhos abertos, sorrindo felizes. Pela tardinha sentiam-se cansados. Começavam a rir-se, umas vezes baixinho, outras imoderadamente, e depois adormeciam.1
[...] creio que o mel verde faz ver o que alguém deseja bem do fundo do coração.»2
Agora é a vez do meu tão adorado Umberto Eco referir o haxixe. Este é um pequeno parágrafo que escolhi deste livro, mas as referências ao mel verde multiplicam-se. De facto, Baudolino, mentiroso compulsivo, com a ajuda dos amigos, todos drogados com o misterioso mel verde, inventam maravilhosos mundos, como só o haxixe consegue fazer, à colherada.
ECO, Umberto, Baudolino, Difel, Algés, 2002, p. 87.
Idem, p. 88.
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