"The Art of Painting" - Vermeer - 1666-1668
Deserta, é assim que está a sua mente. Procura, em vão, algo que mostre que a consciência está activa; frustrado verifica que só areia fina permanece agregada em estado bruto.
Como uma máquina a carvão, barulhenta, fumacenta, começa a funcionar. Fumo fá-lo espirrar; no outro lado do renque de árvores um homem de fato preto e gravata branca diz-lhe algo.
Ao longe um altifalante de uma igreja ou capela que seja, ecoa o Ave Maria, prologando o anunciar das nove da noite. Neste sítio é sempre escuro mas é noite, como assim foi declarado pelos antigos que ainda testemunharam a existência da luz; agora é artificial, amarela baça, que transforma todos em fantasmas alaranjados.
Como uma máquina a carvão, barulhenta, fumacenta, começa a funcionar. Fumo fá-lo espirrar; no outro lado do renque de árvores um homem de fato preto e gravata branca diz-lhe algo.
Ao longe um altifalante de uma igreja ou capela que seja, ecoa o Ave Maria, prologando o anunciar das nove da noite. Neste sítio é sempre escuro mas é noite, como assim foi declarado pelos antigos que ainda testemunharam a existência da luz; agora é artificial, amarela baça, que transforma todos em fantasmas alaranjados.
A vida vai prosseguir. Ligaram-se os motores e há que apanhá-la. Corre com a respiração a servir de pernas e consegue, com a ponta dos dedos agarrar o varão metálico que o impele para o futuro que só existe nos filmes.
Sabe (é o único) que o dia de amanhã será o dia de hoje, repetirá a mesma rotina de sempre: por isso o futuro é nos filmes, não é real nem será.
O grande relógio que controla as vidas marca sempre a mesma hora, a anunciada pela Ave Maria.
Sabendo da verdade (que bem poderá ser uma falsa questão) resolve atacar a imobilidade mental que o rodeia. Pega em dois cubos de granito e faz pontaria. Falha o primeiro com estrondo. O segundo, quando lhe sai projectado das mãos, arranca um grito morto da boca do fato preto e destrói os ponteiros do relógio. Sente o chão a fugir-lhe dos pés; uma tontura empurra-o para o chão alaranjado que se torna vermelho e negro; Ave Maria torna-se difusa.
Acorda, luz branca na retina, por momentos julga-se cego. É o dia há muito esquecido, há muito esperado, dos antigos. Tudo é branco e ele é escuro. Carrega a noite consigo. Tacteia e encontra o relógio caído; o som dos ponteiros chamou-o e mostrou-lhe
9.35
Começara a vida; sentia os ponteiros em movimento.
O Futuro estava próximo.
Inspire me 1001
Na estação de Nine um homem de fato preto mexia no ponteiros tentando acertar (inutilmente) um dos relógios parados. Serão sempre nove horas naquela estação, a não ser que venha o homem do fato preto acertá-lo durante um minuto.
9.35
a vida continua chega a ligação para Viana do Castelo.
7 comentários:
Encontraste-me a acertar os ponteiros? E não me disseste nada pá? Voltei ;-)
São as horas que temos!
Tás em casa. É bom. Futuro - s.f ideia do passado.O resto digo-te cara a cara ;)
As coisas q escreves são muito bonitas. Tens realmente muita inspiração e um belo vocabulário. No entanto o meu comentário é acerca do absurdo que é, a maioria das ligações férreas de Braga a qualquer outra cidade principal, se fazerem através da estação de Nine. Valha-me Deus! Braga é a terceira maior cidade Portuguese: ñ há necessidade de ir ao meio de nenhures fazer uma escala de comboio para se fazerem 30 ou 50 Km! Um dia um amigo meu chegou do estrangeiro à estação de Nine...a estupefação fê-lo pensar que aquilo era o auge de alguma civilização vizinha. Qual não foi o seu espanto quando chegou à porta e se apercebeu que estava nem mais nem menos que no fim do mundo? eh eh. Mais estranho do q isso, só o facto de terem deixado construir aquele mono horrível no sítio onde antes estava uma linda e pitoresca estação de comboios de Braga: AJUDA!!!!
e o Futuro é teu, quer dizer, dele!
Finalmente os dias antigos! Será a luz tão brilhante como outrora?
ABR
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