sexta-feira, 21 de outubro de 2005

Uma revolução intestina estalou neste blog o que faz com que o autor seja exilado durante uma semana na Serra da Peneda.

The Author as been removed by the blog

quinta-feira, 20 de outubro de 2005

Título (ponha aqui o que resume este texto)

Rapariga gira como o raio sozinha.

Rapaz com olhar nº7 (se te apanho conto-te uma história).
Aborda-a.
- Será que é hoje que vou manter uma conversa contigo por mais de trinta segundos?
Ela sorri.
- Tenho medo de falar contigo mais de trinta segundos; ainda me transformo num monte de cinza.
Ela sorri.
- Não tenho sorte nenhuma; uma mulher bonita aqui sozinha e é muda.
Ela ri à gargalhada.
Faz-me perguntas - diz ela.
- Qual é a idade da terra? pergunta ele.
Ela fica aturdida e ri-se.
-Tens namorado?
- Sim.

Pensa "Foda-se para esta merda, não tenho sorte nenhuma!" e diz:

Agora é a vossa vez. Mandem a punchline.

Monólogo a três

Riddle: Isto não se faz, pôr a nossa conversa como post! Não fico chateada mas um pouco envergonhada.BeijosP.S. Estou a ver que estás a ter sucesso com os anónimos...
Terceleiros: Foi só um exemplo como outro qualquer... Desculpa ter provocado rubor mas é um dos riscos do anonimato, exposição. Isto ajuda a consolidar a teoria do anonimato. Beijo
P.S. O sucesso com os anónimos é-me indiferente mas agradável (um pouco). Continuo a preferir pessoas reais.
Riddle: É agradável contribuir para a tua teoria do anonimato, se bem que acho que devias continuar com os teus contos. Acho que é por aí que tens que ir e não perder tempo com estas miudezas. Acho que me vou inibir de fazer mais elogios, não vá estar a tua namorada/mulher a ver isto. Beijo
Terceleiros: Se já me fizeste algum elogio, não reparei (a não ser este subliminar de que tenho talento para os contos). A minha aliança já me está a fazer comichão!
Riddle: Desculpa.
Terceleiros: O que é que tenho de desculpar?!
Riddle: Não sabia que eras casado, por isso peço desculpa.
Terceleiros: Tenho alergia a alianças (metálicas)!
Riddle: Achas que as pessoas precisam de uma aliança para Criar um compromisso?
Terceleiros: Criar um compromisso?! A criação (Gore Vidal) bom livro. O compromisso é entendido de formas diferentes por cada pessoa; é um conceito um pouco abstrato. O que é um compromisso para ti?! Talvez assim te saiba responder.
Riddle 2: O compromisso é aquilo que tu quiseres.
Riddle: Alguém está assinar com o meu nome. Em relação a Vidal só li o Juliano mas fica registado. O compromisso... é difícil... uma conversa para se ter olhos nos olhos.
Terceleiros (Resposta a Riddle 2): Ora explica lá isso...
Terceleiros: Ui... Dupla personalidade! Riddle nº2: Esse nome já está tomado. Tire outra ficha por favor. Riddle: Juliano é bom mas vais gostar d' A Criação. Isso dos olhos nos olhos é complicado sabias. Não te conheço de lado nenhum e blind dates... hum, cheira-me a perigo. Sei lá se és uma Cereal Killer, é que sabes eu sou 90% cevada.
Riddle 2: Não sei o que essa pessoa está dizer. Eu é que sou a riddle, não vou tirar ticket.
Apóstata (aka riddle): Não me deixa outro remédio... Assino assim, acho que vais perceber. 331-336 d.C. Não sou do género de blind dates a não ser que seja mesmo necessário. Cevada fermentada?
Terceleiros: Riddle do ticket: Não perturbe as pessoas. Pode-se chamar Loki se desejar.
Riddle 2: Apóstata por mim podes ir buscar referências de livros aqui
Wikipedia(aka Riddle): Pois posso. Mas isto não posso. Elêusis.
Terceleiros: Bem... Porrada verbal no meu blog não. Já chega de confusão.
Wikipedia: se quiseres manda mail para não haver mais confusão (encriptado é claro). beijo
Elêusis(aka Riddle): estou pensar mandar um mail com um post secret ;)!
Esta conversa passou-se neste post, na minha caixa de comentários e é um caso grave de tripla personalidade. Desdobrei-me em três personagens. A mais fácil é o Terceleiros; Riddle é um bocadinho complicado (pensar como uma mulher não é fácil); Riddle 2 é bem mais difícil, é criada para semear a confusão na cabeça de Riddle e na de Terceleiros.
Riddle, a certa altura, tem que mudar o pseudônimo e vai buscar palavras que estão ligadas à única leitura que para já tem em comum com Terceleiros.
Um exercicio de abstracção ou de loucura...
Digam-me vocês.

P.s. leiam Juliano e A Criação

quarta-feira, 19 de outubro de 2005

Lama Gémea

Felo
"Moonlight Reflection" Linda Merk-Gould
Aos poucos deixou-se levar. Não sabia muito bem qual o caminho a seguir; o mapa mental desdobrou-se dimensionalmente e ele ficou sem referência. Sempre a tivera acoplada às certezas, mas neste momento não. Perdera-as como a chave de casa e não podia fazer uma cópia.
Aos poucos deixou-se levar. O sentimento conduzia-lhe o coração; derretia a calote de frieza que lhe toldara a emoção nos últimos tempos. Lia nas árvores algo indefinido que recordava algo que tinha desaprendido, com tantas barreiras que criara, e aos poucos começava a acreditar que seria possível.
Do outro lado do nevoeiro alguém pensava como ele. Chorava lágrimas doces como absinto e embriagava-se com elas. Consolava-se secretamente e secava-se com os cabelos: a única coisa que lhe cobria o corpo.

A lama gémea, dos dois lados do fosso, cercava os corpos que, aos poucos, sentiam a necessidade de se encontrar. Impelia-os mas não era daquela forma que se iam unir.

Ele adquiriu novos hábitos: lambia as feridas do passado e via que estavam a cicatrizar. Acreditava que dentro em pouco as suas pernas estariam prontas para andar. Arrastava-se à procura de comida para a alma que estava perto, tão perto.

Ela corria mas não via. Tacteava a absorver a luz que o corpo necessitava.
Um dia viu.

terça-feira, 18 de outubro de 2005

Do Anonimato

Bene bene...
Estou a ver que o post anterior produziu reacções e afinal não foi surpresa nenhuma para mim. O anonimato cria uma aura de mistério que atrai toda a gente. É irresistível tentar saber o que está por trás de um nome, e todos já passamos por isso, ou quase todos...
Os encontros de Bloggers não são mais do que dar a cara às letras e imagens que vemos todos os dias. É um Blind date, sem que saibamos o que dali vai sair. É giro imaginar quem são as pessoas: será aquele que está a ler; aquela com o portátil; aquele senhor que fuma cachimbo e observa toda a gente?!
Nem o género é certo; no profile pode lá estar male/female, mas nada é garantido. Podemos pôr uma foto mas até isso pode ser falso. Até as pessoas se conhecerem realmente, em carne e osso nada é certo, aliás nem isto é certo.
Qual é a diferença entre um comentador anónimo e um que está registado? Nenhuma. É exactamente a mesma coisa, nada é garantido.
Todos temos capas: no trabalho temos uma; na nossa família é suposto não termos; para um amigo mostramos um lado e para outros se calhar mostramos tudo... Ninguém nos conhece completamente, nem nós próprios e não será isso uma capa também, uma espécie de anonimato?!
Por isso é que tem piada responder a comentários anónimos; destrinçar a outra pessoa estimula a inteligência, é um jogo de forças. Se assina anónimo é por que tem algo a esconder e essa é a razão para provocar e tentar saber quem é.
Os comentários fazem-me pensar que ainda não perdi a capacidade de provocar.
Mais uma transcrição.
Anónimo(a)
Não te conhecia esta faceta de resmungão.No entanto agradas-me jovem. É sempre bom saber que as pessoas se revelam em estados de pressão e que também és humano. Será que também és sensível???Beijo
Terceleiros
Anónima: Presumo que sejas uma mulher...
Sou o que sou ou gostam de mim assim ou então...
Sensível... Convido-te a descobrir. Não mando beijos porque a minha mãe sempre me disse para não beijar desconhecidas.
Isto começa a ser demais (já estou farto de rir).Agora isto é um repositório de anónimos?!Venham todos ao Tercelerios, Reunião dos CA (comentadores Anónimos!)
Bem Senhores anónimos ou anónimas: Assinem por favor!
Anónima
Miguel ou deverei dizer Ricardo?! A época das descobertas já passou mas até arriscava. Sou viciada em adrenalina! É bom ver que tens carácter mas até gostava de saber se é mesmo assim - é tão fácil encapar-nos na internet... Beijo
Riddle
Terceleiros
Riddle: Obrigado por se identificar. É fácil saber que eu sou Ricardo, é só ler o último Post. Cuidado que tenho alma de Vasco da Gama! A adrenalina é boa quando em doses regradas e se é assim eu faço parte da mesma equipa e acho que nisso já tenho mestrado! Talvez possamos trocar experiências... acerca das capas: acho que temos sempre algo a esconder. É o nosso Post Secret.
E este acabou por aqui... ou será que não?!

segunda-feira, 17 de outubro de 2005

CA - Comentadores Anónimos

O Monte da Lua

Vem daqui

Como blogger, e já lá vai algum tempo, sempre mantive o meu anonimato. Durante todo o tempo que mantive este blog (bem como o outro) resolvi “esconder-me” atrás de um pseudónimo e de uma imagem que não é a minha.
Já muitas vezes me perguntaram o que quer dizer o pseudónimo, e desenganem-se, não foi criado para o blog: tem 13 anos. Foi criado quando publiquei o meu primeiro texto no Jornal de Esposende, com a preciosa ajuda do meu professor de Latim, director do jornal na altura.
O meu Tio sugeriu o nome; Miguel é o meu segundo nome; Terceleiros é o micro-topónimo onde está localizada a casa dos meus pais que significa acima do Celeiro.
Como devem ter reparado, finalmente pus uma foto minha no Blog.
Isto tudo para quê?! Não sei se têm notado mas tenho sido invadido por anónimos, que presumo sejam do género feminino.

Isto dá-me alento. Gosto de descobrir, sou curioso, procurar no sitemeter e descobrir não a cara mas, por cruzamento de dados, a localização. Esta Internet é um Big Brother!

O Hugo dizia há dias que os comentários são um outro post, quando não são a continuação. No post Livro surgiu um Anónimo(a) que originou esta bela conversa.

Anónimo(a)
Ficaste preso nos meus favoritos, e cada vez que teclo um “t”, cá estou eu... Pena não ter olhos que cheguem para ler os teus textos todos...

Terceleiros
Anónimo(a): Fico contente por gostares, aliás feliz. Os meus leitores é que me inspiram na maior parte das vezes. Para a próxima uma assinatura, se não for pedir muito.

Anónimo(a)
Não estou no anonimato para me esconder... Por agora, quero apenas estar aqui, no meu sossegadinho cantinho... Escreve-me :)... se precisares de dar vida ao teu livro no mundo das figuras!!! Bom fim de Semana

Terceleiros
Anónimo(a): Não digo que te estejas a esconder. Peço uma assinatura para poder saber se é sempre o mesmo anónimo :). Posso escrever-te a tinta ou a caracteres, como preferes?!Desenhar a tua imagem com letras. Posso:idealizar; infra-idealizar; supra idealizar... Qual o teu tipo de idealização perfeita?

Anónimo(a)
Para alem de ser amante das tintas, prefiro que me escrevas em carácter. É mais rápido e indolor... A imaginação é perfeita... dá-me tu um nome!!

Terceleiros
Anónimo(a): Seja, caracter será. (é andrógino) Nunca se soube se era realmente uma mulher ou se era a cara do Leonardo por isso como não sei o teu sexo ficas Mona Lisa. Para além disso aquela aura de mistério...agrada-me.
Mona Lisa. pinta-me manda a cor por mail. Miguelterceleiros@gmail.com A moeda tem sempre duas faces. Pode ser com pincéis de photoshop.

Mona Lisa
Tu és da cor da folha da arvore outonal, da lua e do sol. Da chuva e da noite. Tinta fresca que vai secando na tela rabiscada por ti próprio. Afinal não somos todos assim?! Sim... o mistério muitas vezes é o que nos guia na imaginação... Já ouviste falar do monte da lua?

Terceleiros
Mona Lisa: Monte da Lua?! Gostava de conhecer. Boa pintura a tua, é Impressionismo?

Mona Lisa
É abstracção do ser humano para representar imagens :D. O monte da lua é o nome que designa a uma Serra... Onde lutaram Mouros e cristão... e viveram reis e rainhas... onde existem duendes mágicos e mouras encantadas a espera do derradeiro beijo. É onde existem castelos protegidos por gárgulas que acordam do sono profundo com o brilho da lua... O monte da lua é envolto num mistério fantástico e poucos são aqueles que se aventuram a andar por lá depois do sol posto. É o cenário perfeito para um dos teus contos...

Se quiseres, mais tarde envio-te imagens... e som...

Terceleiros
Mona Lisa: O Monte da Lua onde a Pena é mais forte que a Espada?! Palácios e castelos ameados... já passeei por lá numa outra vida mas morri pelos olhos de uma encantada. Manda o reflexo de um espelho, as imagens em anagrama lógico.beijo
Só uma coisa para os anónimos. O mistério é óptimo até cansar.

Insurgimento

Tenho que escrever isto. Os bois que me andam a pôr Spam na caixa são os mais deslavados descaradões à face da Internet.
Não é que me mandam um spam com 124 (!) links e no fim, ironicamente, dois deles rezam o seguinte:
- 122 PAL Popup Eliminator - Blocks all pop-up and pop-under ads.
- 124 PAL Spyware Remover - Every day internet surfers install SpyWare and AdWare components on their PC's without even knowing it by clicking on pop up ads, downloading music files, installing free programs and so on.

Só cá faltava um a dizer:
PAL Spam Remover.

São estes caralhos que fazem o Spam, os reservoir oxes de merda que depois nos obrigam a comprar a cura para a doença que eles criaram.

Apeteceu-me dizer uns palavrões.

Só fizeram com que activasse o Word Verification do Blogger.

P. S. Carreguem nos links vão ter uma boa surpresa.

quinta-feira, 13 de outubro de 2005

Livro


Acorda num sítio muito estranho. Por muito que queira descrevê-lo não tem sucesso (satisfatório). No centro da divisão (acha) encontram-se duas estantes que devem ter dois metros e meio de altura. Tocam o tecto. Aí está colocada uma série de livros que devem contabilizar 450 volumes em cada face da estante (se bem que possa estar enganado), num total de 900 mais coisa menos coisa.

Todos os livros são diferentes em tamanho e cor, formando um arco-íris desordenado, uma manta de retalhos de cultura (assim julga). As formas, uma muralha de legos misturados com blocos de construção lógica infantis e meccano. Uma Babilónia lógica; tem que haver uma lógica nisto.

Quando se aproxima, o tecto transforma-se num gigantesco espelho, fazendo com que os livros se tornem numa gigantesca torre infinita. Todo o conhecimento está ali em reflexo.
Com mais atenção vê que os livros se invertem, como é natural num espelho, criando ilusão: os reflexos não correspondem à imagem original.

Olha em redor e toda a sala é um gigantesco e único espelho multiplicando os livros e a sua imagem até à exaustão. O medo acorda-lhe a mente. Tem que sair dali. Tacteia, bate com os nós dos dedos para sair, não para entrar, obtendo sempre o mesmo resultado, nada. Está preso.
Um sonho, espero estar num sonho maluco.

Dirige-se às estantes e retira o primeiro livro do topo esquerdo. Não tem título nem autor, mas sim, índice.
Ao que parece é um livro de Contos.

Absorto na leitura descobre, com espanto, que a sua história, desde que acordara na sala espelhada, está lá escrita, mas por alguma razão interrompida no ponto em que ele pega no livro.
Os contos acabam todos de uma forma que indica que o autor tem gosto em brincar com a vida das personagens que cria. Vai criando expectativas dando migalhas, semeando a confusão para, no final, os deixar com a vida destroçada ou com uma experência traumática que lhes mude a vida.

Pega numa esferográfica e resolve escrever.

15.00
Está sentado como é costume em frente ao computador. A sala é decorada com azulejos do Estado Novo; citações de Salazar e outros coevos da Ideologia.
Com a rotina no rato e a retina no monitor, liga o Messenger, o Morpheus e o Media player.; clica no Firefox e escreve
gmail.com
Durante trinta minutos consulta os mail's e troca algumas palavras com os habitués. Muda o estado para ocupado e escreve o post para o blog. 15 minutos de escrita, dez de correcções; google images para encontrar o quadro relativo ao texto; formata e publica.
Passa agora para a ronda pelos blogs habituais. O primeiro fá-lo esfregar os olhos, o segundo arregalá-los; vai clicando em pânico em todos e as mãos crispam-se sobre o rato com tanta força que um estalido revela que o partiu em vários fragmentos.
Confere a hora dos posts e comprova através das lágrimas de raiva que todos foram escritos antes do seu. Ele é a cópia, uma farsa. O seu texto estava em todos os blogs.

Ora toma lá que é para não andares a torturar as tuas personagens. Vê lá se gostas quando brincam contigo.

Acabara o livro do escritor deconhecido e nada o podia mudar. Esgotara o espaço para texto a tinta preta sobre o papel amarelo. Não havia correcção possível.
Com um sorriso nos lábios volta a colocar o livro na prateleira. Volta-se com um sentimento de justiça e, no espelho, vê tinta preta a escorrer pela lombada do livro.
Volta a segurá-lo e algumas letras estão a compor palavras lentamente na lombada.

O Livro e outros contos – Miguel de Terceleiros
Pega na carteira, como que duvidando da própria identidade, e os espelhos partem-se.
Ricardo Brochado AKA Miguel de Terceleiros

quarta-feira, 12 de outubro de 2005

Somos todos malucos

Guarany 21.30

Não sou das pessoas mais pontuais mas desta vez cheguei a tempo. Sento-me com os meus iscos na mão. O meu caderninho e caneta; Ficções de Jorge Luís Borges. Não sei qual foi o sinal combinado mas qualquer pessoa com dois dedos de testa chega lá.
Ora porra, ninguém no seu perfeito juízo vem para o Guarany escrever e ler, a não ser que tenha um propósito obscuro por trás disso.
Observo tudo em volta e começo a adivinhar. Será que é este, aquele; os cromos do portátil?! Desisto. Hugo entra e não me vê. Estou a um metro dele e penso que a melhor forma de ficar invisível é ficar no sítio mais visível, na mesa da entrada.
- Então?!
- Nada ainda. Somos os primeiros.
- Um descafeínado.
O empregado vai e volta com o líquido.
Fico só outra vez. Amie e Freddy entram e sentam-se.
- Estás sozinho?!
- Não já cá está o Hugo. Olha.
Apresentações e mudamos para uma mesa maior. Apostas e mais apostas de quem seria e eu aposto no desconhecido na mesa do canto. Depois de cinco minutos de risota e punchlines para tirar a dúvida Amie lá se enche de coragem e vai lá.
Não sei o que disse mas era mesmo. Cláudio senta-se e junta-se à conversa. Mais uns minutos chega a guerrilheira de serviço, Guevara e uma pessoa que não esteve lá (esta é private mas estiveste lá).
Piadas nervosas; que fazes; qual é o teu blog e tal; porquê o nome, enfim tudo o que queriamos saber, mas acima de tudo a curiosidade satisfeita de conhecer fisicamente as pessoas que estão por trás dos teclados e monitores.
Mais tarde chegou Malamack e ficou (quase) completa a pandilha.
Ernesto traidor! Onde te meteste!!!! Estivemos à tua espera montes de tempo. Imaginámos que fosses o saxofonista, o tipo de óculos no canto, a comer com a boca cheia de dentes, que estavas dentro do piano, que eras o empregado e não eras.
Isto não se faz! Deixar assim as pessoas à espera!
00.00
Fechou o Guarany e fomos expulsos com promessas de repetir a dose.
Gostei muito, diverti-me e vamos lá trocar uns poemas (lol) e mais umas coisas (lol).

terça-feira, 11 de outubro de 2005

21

Andrajosamente lúcido revira os olhos à procura da página certa. Lê na diagonal, com pressa, embora saiba que esta leitura nunca resulta (pelo menos com ele). Obtém produtividade na leitura com atenção; ao sobrevoar as páginas sente que está a perder tempo; não vai encontrar o que deseja mas teima.

O mofo invade as narinas e fá-lo abafar um espirro. Não podem saber que está ali, pelo menos agora. Há que esticar (alargar) os limites cronológicos para lá do razoável. Esquartejar os relógios do mundo para ter o tempo multiplicado por quatro. Não é possível nesta história, nesta sala, com este corpo; há que aproveitar [(explorar (exaurir)] ao máximo, o tempo.
Demorara a encontrar o livro e agora, que o tinha na mão, a passagem teimava e escapava. Procura nas entrelinhas.

Olhou para as linhas e atingiu a forma de encontrar o que queria. Da pasta de couro coçada e áspera como a vida, retirou papel pautado, com um allegro que estava a compor já há anos, e colocou-o sobre as páginas do livro. Semitransparente, misturava as letras com os símbolos musicais e concentrava nas entrelinhas só o essencial.

Esta procura tornava-se uma obsessão e instava-o a prolongar a demanda. A felicidade dependia daquilo ou talvez não. Da mesma forma que outros procuravam Graal’s de múltiplas formas e conteúdos, este era o seu.

Horas sem fio nem textura aparente entraram nos seus olhos atingindo os neurónios construindo cansaço com tijolos de informação. 110 páginas absorvidas com atenção, lidas de uma forma nunca antes lida; música e letra em conjunção absoluta de uma forma que agora a música era lida pelos olhos e a leitura pelos ouvidos.

Vinte e um anagramas. Aqui está a linha que procurava. Nunca a iria encontrar se não fosse desta inventiva forma de ler nas interlinhas. Espaço, espaço, ponto final.Levantou o papel pautado e viu a frase original.

A ARMATA MEN GUN VIS.
O autor brincara com uma espécie de latim macarrónico e inglês. Repetia ideias.
Traduzia-se como:
A força (Armata) dos homens (Men) é a quantidade (Vis) de armas (Gun).
Não lhe interessava esta frase.
Não fazia sentido nem nunca fizera, mas agora parecia que estava no caminho certo. A frase do texto que dava origem a esta era:
Quanto pesa o Amor?
Vinte e um anagramas.

Mais uma brincadeirinha. Divirtam-se

segunda-feira, 10 de outubro de 2005

Olhos bem abertos

"Venus e Cupido" - Artemisia Gentileschi - 1625-30
Insónia, mais uma vez insónia. Dentro do saco cama não consegue fechar os olhos. Todo o seu corpo sonha, já há horas largas e compridas, mas os olhos não se fecham.
Sonhar acordado é bom, nunca sabemos qual a dimensão da realidade mas também não chega a ter importância. Os pensamentos são só nossos, a dormir ou despertos.

O contacto com o poliéster fá-lo sentir sexy como um gato; não um tigre; melhor, uma pantera. Sente o tecido a gemer e faz coro com ele. Suspira de prazer… ronrona lascivamente e sente-se poderoso como dentro do corpo de uma mulher. Sente o corpo a ser beijado gradualmente. Invisíveis lábios tocam-no – não consegue ver a cara – tudo está claro, repleto de luz. Chora de prazer com a secreta esperança que tudo se repita em breve.

Abraça o saco cama e a textura modifica-se, parece carne. De olhos (agora) abertos, salta do sonho e da boca escapa-se
- Nunca tinha feito o Amor com um saco cama.
- Nem eu com um gato.
O corpo liso e suave, em contraluz, sorri-lhe; todos os poros sorriem. A lágrima de satisfação surge ao canto do ser quando descobre que não foi um sonho.
Trinca-lhe o pescoço para provar o mundo real, e o sal sobe-lhe a tensão. Poças de suor espalham-se pela cama e pergunta
- Posso ficar dentro de ti para sempre?!
- Já estás.
Acorda estremunhado e não reconhece o ambiente. Ao seu lado uma mulher de olhos abertos. Não a reconhece mas também não se preocupa; o sentimento é bom. Das últimas vezes não tinha sido nada bom, antes péssimo, tanto é que ganhara pavor ao risco. Arrependia-se sempre no dia seguinte.

Naquele momento, com aquela mulher, com aqueles lençóis, naquela cama, sentia-se bem, tão bem que nem havia mau hálito.

A felicidade relativa coagula-nos os sentidos.

A expressão de paz nos olhos da desconhecida agrada-lhe. Por muito tempo fica em êxtase; contempla aquele momento, pintura, escultura; controla a respiração para não a acordar dos olhos abertos.
Simples mas portadora de felicidade. A sensação.
- Porque choras?
Acordara.
- Quase que consigo acreditar em Deus só de olhar para ti.
- A Abstinência é uma droga fodida, não é?!

E agora para algo completamente diferente

Passados uns meses aqui vai a solução do puzzle.

Ora boas! Falaram-me disto e achei que era uma óptima ideia para comer a cabeça ao pessoal. Código binário, conhecem?! Quero ver qual é o tipo de comentário que vai sair daqui. a primeira pessoa que conseguir descodificar vai poder saber o meu nome verdadeiro e ver a minha foto! ehehehehehehe
Com jeitinho bebemos um copo! Beijos e abraços para os meus amigos palhaços!

Para mais informações

http://nickciske.com/tools/binary.php

quinta-feira, 6 de outubro de 2005

Futuro v 9.35

"The Art of Painting" - Vermeer - 1666-1668

Deserta, é assim que está a sua mente. Procura, em vão, algo que mostre que a consciência está activa; frustrado verifica que só areia fina permanece agregada em estado bruto.
Como uma máquina a carvão, barulhenta, fumacenta, começa a funcionar. Fumo fá-lo espirrar; no outro lado do renque de árvores um homem de fato preto e gravata branca diz-lhe algo.
Ao longe um altifalante de uma igreja ou capela que seja, ecoa o Ave Maria, prologando o anunciar das nove da noite. Neste sítio é sempre escuro mas é noite, como assim foi declarado pelos antigos que ainda testemunharam a existência da luz; agora é artificial, amarela baça, que transforma todos em fantasmas alaranjados.

A vida vai prosseguir. Ligaram-se os motores e há que apanhá-la. Corre com a respiração a servir de pernas e consegue, com a ponta dos dedos agarrar o varão metálico que o impele para o futuro que só existe nos filmes.

Sabe (é o único) que o dia de amanhã será o dia de hoje, repetirá a mesma rotina de sempre: por isso o futuro é nos filmes, não é real nem será.
O grande relógio que controla as vidas marca sempre a mesma hora, a anunciada pela Ave Maria.

Sabendo da verdade (que bem poderá ser uma falsa questão) resolve atacar a imobilidade mental que o rodeia. Pega em dois cubos de granito e faz pontaria. Falha o primeiro com estrondo. O segundo, quando lhe sai projectado das mãos, arranca um grito morto da boca do fato preto e destrói os ponteiros do relógio. Sente o chão a fugir-lhe dos pés; uma tontura empurra-o para o chão alaranjado que se torna vermelho e negro; Ave Maria torna-se difusa.

Acorda, luz branca na retina, por momentos julga-se cego. É o dia há muito esquecido, há muito esperado, dos antigos. Tudo é branco e ele é escuro. Carrega a noite consigo. Tacteia e encontra o relógio caído; o som dos ponteiros chamou-o e mostrou-lhe

9.35

Começara a vida; sentia os ponteiros em movimento.
O Futuro estava próximo.
Inspire me 1001
Na estação de Nine um homem de fato preto mexia no ponteiros tentando acertar (inutilmente) um dos relógios parados. Serão sempre nove horas naquela estação, a não ser que venha o homem do fato preto acertá-lo durante um minuto.
9.35
a vida continua chega a ligação para Viana do Castelo.

terça-feira, 4 de outubro de 2005

Combóio

"Train toy ride" - Claire Wolf Krantz - 1999

Calcou a gravilha com prazer. A dimensão das pedrinhas produzia um som estimulante. Como Amélie sentia prazer a mergulhar a mão nos sacos de cereais, ele comprazia-se com a fricção dos minerais. Coisa pouca.


Passou para o outro lado da linha e com o cérebro aos solavancos tentou juntar as letras desenhadas nos vasos da estação. Via mas não compreendia, como se tivesse perdido a capacidade de ler. Tinha chegado à boleia; num inglês básico respondera à pergunta do condutor

- To a train station, i'll get along.

Tinha saudades, muitas, e desejava estar com ela. Não sabia muito bem para onde ia mas se chegara até ali, nalguma altura ia encontrar. Sem mapa, só podia confiar na intuição ou numa informação dada por alguém. Como era muito desconfiado e tendencialmente do contra, não acatava os conselhos que lhe davam. Não sabia muito bem porque raio se dava ao trabalho de perguntar; seria uma manobra rebuscada de manipular o seu livre arbítrio. Não era muito de tomar decisões espontâneas, assim eram tomadas à força pela opinião dos outros.

A estação estava deserta, o que não era de espantar, perdida no meio da serra, pouca gente devia usufruir da sua existência. Ao fundo, no vale, via uma série de casas que pela vegetação envolvente e pelos buracos escuros das janelas, indicavam que já há muito estariam abandonadas. À esquerda carris perfuravam uma elevação e as vagonetas explicavam tudo.

Mas que raio de ideia, a do homem, de o deixar ali ao abandono.

Ouviu um trote, um cavalo ou algo parecido aproximava-se. Virá acompanhado?! O mais certo é que fosse um dos cavalos selvagens que vira quando o seu transporte cruzara os estradões da montanha. A solidão estava a saber bem e não queria que aparecesse alguém para estragar o momento, mas, simultaneamente, queria tirar as suas dúvidas. Primeiro surgiu uma cabeça com cabelo bem tratado e barba impecavelmente penteada; um corpo coberto por farrapos de cor impossível de discernir do uso exaustivo; por fim o cavalo branco, brilhante a combinar com a cabeça do homem.

Que figura mais estranha.

Quando as coisas são fora do comum não sabemos muito bem como reagir. O efeito surpresa ataca o estereótipo e depois de breve escaramuça moral, a confusão fica entranhada. Quando cavalo e cavaleiro se aproximaram, notou que o ginete tinha as mãos tingidas de vermelho. Recuou em sobressalto e vendo uma lata de tinta e um pincel vermelho atados ao alforge tranquilizou-se.

Não dava jeito nenhum encontrar um assassino no meio do nada.

Fez um gesto para entabular conversa mas o homem, como se ele não existisse, passou-lhe ao lado e, poucos metros adiante, desmontou. Do alforge retirou luvas brancas de borracha, colocou-as, pegou na lata e com o pincel começou a pintar os carris. Com cuidado, para a sua sombra não denunciar a sua posição, aproximou-se e observou o que o homem estava a fazer. Pintava uma espécie de serrilhado, como se o carril se tornasse num gigantesco serrote que cortaria a serra em todo o comprimento. Encolheu os ombros desistindo de perceber o que aquele estranho personagem estava para ali a maquinar.

Afastou-se e sentou-se à espera do combóio. Tirou o caderno e começou a escrever.

O eco de um apito estridente cruzou os ouvidos. Era o seu transporte a uivar.
Ao fundo uma máquina Branca deslocava-se a alta velocidade. Como estava longe ainda devia demorar uns bons três minutos a chegar.

O Pintor interrompeu a tarefa; pegou na lata e no pincel e recolocou-os no alforge; tirou as luvas grotescamente imaculadas, e com as suas mãos vermelhas-sangue – ainda não conseguia entender porquê – agarrou nas rédeas e montou. Pela primeira vez olhou para ele e com um sorriso, que parecia ter algo de mefistofélico, afastou-se a galope.
Na direcçaõ oposta aproximava-se o comboio sem diminuiçao de velocidade. Não me digas que vou ficar em terra. Quando atingiu a zona pintada, o início do serrote, descarrilou fazendo com que as pessoas que não se viam gritassem em pânico.