quarta-feira, 10 de agosto de 2005

Falo de Babel


"Torre de Babel" Pieter Bruegel o Velho - 1563

A minha almofada cheira a bola da traça, os meus pés não cabem na cama, ficam fora dela pelo menos quinze centímetros! Quem é que no seu perfeito juízo faz camas deste tamanho e fornece uma almofada a cheirar a bolas da traça!? A naftalina pode matar, de enjoo.


No quarto ao lado, um casal de gregos, pela língua parecem, estão a dar a trancada há cerca de duas horas, como é que vou conseguir dormir?
- Hey you fuckers, shut the fuck up, berro com a esperança que me ouçam e parem de bater com a cama na minha parede.
Reparo que a frase faz todo o sentido e rio à gargalhada. É claro que com esta brincadeira também perdi a razão. Eles continuam a partir lenha.


Acendo a luz e começo a escrever na vã tentativa de ignorar os gregos e chamar o sono.
Ainda por cima os meus lençóis têm borboletas azuis! Deve ser para combinar com a colcha em cetim. Onde é que eu vim parar, isto parece um bordel.
Já sei o que sentia o Gabito nos seus primeiros tempos de contista.
Nada mais pode correr mal. Os gregos ou turcos, ou o raio que os parta, acabam por se calar e que bom que é o silêncio.


O que é isto?! Lenhadores no lado oposto, bem perto da minha cabeça! Como é possível, não tenho sorte nenhuma!?
Franceses, com estes gemidos amaricados só podem ser franceses!
- POUCO BARULHO CARALHO, como não sei falar francês, tem que ser assim. Ignoram-me e continuam. Foda-se, porque caralho é que só eu é que trabalho no mês de Agosto?
Horas depois lá consigo adormecer, não sem antes ter berrado os pulmões em todas as nacionalidades em direcção a este Falo de Babel. Até fizeram turnos.


Acordo estremunhado com o despertador e vou tomar banho para tentar pensar, que não andei a rachar lenha durante a noite.
Acabo o banho e descubro que a toalha é nova, cheia de goma, molha mais que seca!
Conto até dez e anoto mentalmente a explicação a dar à recepção. "As toalhas podem ser lavadas para tirar a goma!"


Saio a pingar e dirijo-me ao quarto, não sem antes espalhar uma generosa quantidade de pasta de dentes nas maçanetas dos lenhadores.

"Torre de Babel" Pieter Bruegel o Velho - 1564

13 comentários:

Maria Heli disse...

gostei de ler esta "torre de babel".

Freddy disse...

"Ah...Ah...Toutalitouapoulos..."

Sempre foste pela pasta dos dentes? Eu disse-te q era melhor o óleo dos travões...

Abraço grande

Sara MM disse...

Xica penico! Parece que tou com muuuuito mais sorte que tu :oD
So ouco os ACs e de resto durmo que nem uma pedra! Pudera, qd apago a luz ja sao ai 5 da manha!!
Bjs quebequianos
Sara
PS-gostei mto do texto!

Anónimo disse...

Se te consola, fica a saber que não és o único a trabalhar em Agosto...

Humor Negro disse...

Ganda Terceleiro.
Realmente é preciso muita língua para se desvendar um falo de Babel.
Curto esta maneira Bukowskiana de colocar as coisas.

Anónimo disse...

tinhas razao! dar de caras com esta historia so podia deixar-me a sorrir...outra vez!

armando s. sousa disse...

É um autêntico pesadelo.
Lenhadores e gemidos por todos os lados e o herói sózinho com a dona Palma.
Excelente.
Um abraço.

kiko disse...

Um grito de revolta, de tremenda vontade destrutora de tudo o que rodeia, é esse o sentimento solitário que por vezes me rodeia também! Tudo correrá pelo melhor!

Miguel de Terceleiros disse...

Maria:BEm vinda e obrigado.

Freddy:Não consegui arranjar óleo, mas de qualquer das formas valeu a sugestão!
Abraço

Miguel de Terceleiros disse...

Sara: Deves deves! Obrigado pela visita aí do Canadá!
beijo

Galecius: consola mas não me alegra.

Miguel de Terceleiros disse...

Humor: E lá vens tu outra vez com estes comentários fora de série?! Até me deixas corado!

Raquel: Por um sorriso nas caras das pessoas é a melhor recompensa que posso ter.
beijo

Miguel de Terceleiros disse...

Armando: ehehehehehehehe!

Quiosk: Enem imaginas quanto me apetece de vez em quando.

Miguel de Terceleiros disse...

Voudaquiparaali: ehehehehehehehe. É bom ser lembrado pelo que escrevo e no que escrevo.
beijo

Micróbio: Explica tudo, depende da prespectiva.