quarta-feira, 31 de agosto de 2005

Lector in Studio


"Batalla de Aljubarrota" Mariano Maella - 1791

Vem Daqui

Frequentemente existiam confrontos entre os manos e a facção supracitada, acabando regularmente com cabeças rachadas fruto das armas utilizadas, pedras e paus. Desta forma, recheada de tropelias e cumplicidade nasceu uma amizade coesa entre a trupe de rapazes, só perturbada com a intromissão de novos amigos, adquiridos na escola.

As insignificâncias da idade como o complexo de irmão mais velho - não vais comigo para a escola nem vens ter comigo no recreio - ou o moralismo de irmão mais novo - não consigo perceber como podes fazer isso, quando tiver a tua idade nunca o vou fazer - foram as únicas coisas que podiam ter azedado a relação mas nunca conseguiram superar a cumplicidade que vinha sempre à tona.

Desde cedo que Orniciteplático se mostrou inteligente de uma forma muito camuflada, no início os professores achavam que era meio estúpido. Tudo o que lhe era mandado fazer em casa ficava confortavelmente instalado na prateleira, aparecendo incumprido na aula seguinte. Tabuadas, fichas, contas cópias, enfim tudo a que era obrigado ficava por fazer. As reguadas que lhe eram distribuídas em igualdade pelas duas mãos, para não haver invejas, funcionavam de forma contrária à esperada. Reforçavam-lhe o carácter teimoso. Quanto mais lhe mandavam fazer, menos fazia.

Ainda hoje tem uma dívida acumulada à escola de 12353 cópias, 7352 tabuadas, 12435 fichas e 98098 contas. Em compensação tudo o que fosse feito dentro das paredes da sala de aula, era cumprido à risca e com a melhor das perfeições, não obstante passar as aulas concentrado nos painéis de azulejo que a decoravam. Sabia de trás para a frente a quantidade de armas, qual as suas formas, quem lhes pegava e como, e a história que estava por trás daquela cena guerreira.

A Batalha de Aljubarrota, representada por um azulejeiro do Estado Novo, inspirava-o para fora da monotonia das aulas e punha-o a imaginar o que as personagens estavam a dizer, muito embora as bocas dos senhores não exprimissem o mínimo gesto que fosse. Via histórias e, em muitas, o cavalo, que estava em primeiro plano na imagem, confidenciava-lhe na hora das reguadas “daqui a uns anos vais ser como eles, grande, enorme e vais poder ter uma espada como a do Condestabre, novinha em folha”. Se fosse hoje dir-lhe-ia “está descansado que nós vamos aí e espetámos coices e uma destas espadas, a maior de preferência, no cú do cão raivoso que é o teu professor!” atravessada é claro.

8 comentários:

Humor Negro disse...

Não habia nechechidade de abardajar o sinhôre prufessoure caragu. Balha-me Jasus Santissimo.

kiko disse...

Estou a seguir.... estou a seguir! Estamos a encaixar a pérola, parece-me bem! Abraço

Anónimo disse...

Glorioso!!!

Anónimo disse...

A Sra. Dona Prof. Adosinda, rebentava-me com as mãozinhas todos os dias, chamando às reguadas, afectuosamente, bolos.

P.S. Os meus amigos, que comigo convivem fora desta esfera identitária, sabem que eu não como bolos (de verdade!). Será que é por causa disto? É que os únicos bolos que eu gosto foram-me servidos pela Sra. Dona Professora Adosinda, quando eu era pequeno:) Kinky:D

PR disse...

de volta, miguel...
não consegui...
:-)

noasfalto disse...

Sim senhor...

Periférico disse...

Olá meu caro, não sabia qua andavas tão profundo! :-)

Estou de volta!

Um abraço

Sara MM disse...

AH! Chamas-lhe inteligência de forma camuflada!??! pois pois..... e teimosia... eu chamaria preguiça e educação q resultou no oposto do pretendido :oP

Continua... qd chegarem os namoricos, cursos, casamentos, divórcios e empregos vai ser demaaaaaaaaaaaaaaaaiiis! Tenho a certeza!

BJs