terça-feira, 23 de agosto de 2005

Génesis II


"A casa de Essoyes" Pierre Renoir - 1850-1900

Vem daqui

A inevitabilidade geracional masculina do casal fez com que tentassem continuamente gerar um ente feminino. Anos mais tarde eram detentores de uma equipa de futebol de 11, sem suplentes.
Pois eis que Orniciteplático é levado pelo carinho da sua recém adquirida família para a casa que habitará até ao preciso dia de hoje, não de amanhã, mas hoje, mesmo que leia estas linhas daqui a 24 horas ou 34 anos, será sempre hoje. A obra de ficção é instantaneamente real quando regida por um autor autocrata e ditador, e não nos inibimos de fazer parecer o texto ainda mais real reafirmando certas premissas.
O autor define a qualidade temporal, espacial, e outras coisas acabadas em –al, já que ele que manda no seu pequeno universo. Mas voltaremos a este tema mais tarde.
Era uma vivenda com três quartos, nesta altura perfeitamente adequada às necessidades do agregado, mas dali a dois anos com o nascimento de mais dois pequenos seres, os dois quartos das crianças seriam equipados com beliches duplos, mais tarde triplos, aumentando o número de camas exponencialmente ao número de elementos da prole. Quando chegaram ao número 11 o Gerador passou a chamar à zona da casa ocupada pelos filhos de Babel.
Seis miúdos num quarto e cinco no outro convém referir que pelo menos era potenciar o caos. Muito embora os quartos fossem amplos e os beliche dessem uma arrumação especial, não havia espaço nas paredes que não estivesse já ocupado por rabiscos indefinidos de grafite, autocolantes de jogadores de futebol, posters de actrizes e cantoras, fotografias de amigos e papéis febrilmente manuscritos, da autoria de Orniciteplático que amareleceriam, inevitavelmente, com o tempo.
A população dava razão ao progenitor, no epíteto dado à área, com a vasta profusão de elementos visíveis, materializantes dos seus mais secretos pensamentos e emoções.
Orniciteplático desde cedo que manteve uma relação muito próxima e cúmplice com o seu irmão mais velho. Até ao ingresso na escola primária eram inseparáveis. Se um dizia mata o outro já há muito que tinha esfolado. Faziam asneiras a todo o minuto e segundo, provocando a exasperação da figura paterna, mas de certa forma a culpa era dele.

13 comentários:

Humor Negro disse...

Cheira-me que a ditadura do autor vai continuar.

mjm disse...

Escorreitinho!

Anónimo disse...

... a saga continua..........
e bem.......

Anónimo disse...

Boa continuação :)

noasfalto disse...

mike: acho que o meu blog foi invadido por piratas. Tadinho.
Dá lá uma saltada e vê o que te parece.

noasfalto disse...
Este comentário foi removido por um gestor do blogue.
armando s. sousa disse...

Excelente continuação.
Lê o meu comentário ao post anterior.
Um abraço.

Der@ disse...

Ainda não percebi bem porquê mas gosto deste blog. Será pelo tom dissonante mas certeiro das histórias? Vou pensar no assunto e depois volto.

Inha disse...

Faz favor de vir beber um champagne à minha humilde casota...

http://bloginha.blogspot.com

Anónimo disse...

Miguel
Ainda estou a abrir os olhos do regresso e parece que tenho tema interessante para amanhã,com calma,apreciá-lo.
Apenas uma questão:continua ou fica por aqui?
Um abraço

noasfalto disse...

Previsões só no fim do jogo.

Ao ler Génesis, involuntariamente, passa-me um filme familiar pela cabeça. Por um lado gostava que parasses a saga...Acho que me compreendes.

Abração

Patioba disse...

Delicoisa, esta estória!

Sara MM disse...

E tu geralmente matavas ou esfolavas?!?! :o)

BJs
PS- já sei que é ficcçao, don´t worry!