O nascimento de Vénus - Sandro Botticelli 1485/86
Borges defende que se cruzarmos todas a s referências bibliográficas de todos os livros do mundo, chegaremos ao livro Um, o que dá origem a todos os outros. Às relações amorosas também se pode aplicar esta teoria.
Como diz um amigo meu, “A mulher Um é citada por todas as outras que se seguem”. Não é a mulher do primeiro beijo, a mulher do primeiro apalpanço, mas a mulher, a mulher Um.
Desculpem centrar todo o discurso na mulher, mas não consigo transpor a minha consciência para o sexo oposto. Devemos ter a humildade de escrever sobre aquilo que sabemos.
Há, algures no nosso passado, uma mulher que marca toda a nossa existência, condicionando todas as nossas escolhas a partir daí. Todas as outras vão ser objecto de comparação, porque esta foi, por alguma razão ou uma série delas, marcante para se tornar a base de tudo.
É díficil traduzir por palavras mas algo dá o clique, que invariavelmente coincide com a nossa passagem à idade adulta. Marcante pela cultura, pela inteligência, ou por um je ne sai quoi que nos envolve e nos aprisiona àquela imagem.
Muitos anos mais tarde estaremos felizes e contentes com a nossa mulher, não a Um mas a 543, felizes e contentes no aconchego do lar, e de vez em quando virá um flash da mulher Um.
Se porventura ficássemos com essa mulher Um, nunca saberíamos que ela era efectivamente a mulher Um, porque o termo de comparação não existiria. Pura e simplesmente estaríamos vazios desse conceito. Comparar com o que está para trás não é a mesma coisa que comparar com o que está para a frente. Estamos satisfeitos com o que temos e não temos necessidade de comparar.
As mulheres que se seguem à Um vão ser sempre comparadas a ela e com frequência espumam de raiva com a referência ao nome, mesmo que desconheçam a importância que ela teve para nós. Sentem no ar a emoção disfarçada, cheiram as feromonas quando se fala dela, é o sexto sentido a disparar. Podemos ser os maiores actores do mundo, mas é impossível disfarçar os sentimentos quando a ela nos referimos.
É curioso que a mulher Um se torna num elemento platónico da nossa história da vida. Vem-nos a memória em certas situações, e quando vem não temos a mínima esperança real de voltar a ter alguma coisa com ela. É a bibliografia de referência dos nossos relacionamentos amorosos que só é consultada inconscientemente.
E quem nunca teve a mulher Um?! Provavelmente está acompanhado por ela e se permanecer com ela até ao fim da vida, nunca saberá que ela é a Um. Também podemos incorrer no engano, na falácia intelectual de considerar uma como a Um e no fundo ainda não a termos encontrado. Que o padrão que encaixa no nosso está para aparecer de chofre na nossa vida, ou então já está ao nosso lado e não nos apercebemos disso.
E vocês, já encontraram a mulher 1?
10 comentários:
2 num dia??? ganda maluco.
Excelente texto e uma bela dúvida instaurada - quando não há maneira de comparação como comparar? Como saber se não estamos com a 3, a 17, ou a 1? Será isto um estímulo explícito para a vida de deboche e pecado como se não houvesse amanhã? E se a mulher 1 for de facti a mulher 1 para muitos tipos? Será aconselhável usar uma maça com pregos espetados?
Nota: Jorge Luís Borges é o meu escritor preferido. O Aleph é na minha opinião a sua cereja no topo do bolo. (tenho o bolo todo lá em casa).
bem sei que sou mulher, mas também tenho a minha mulher nº1, a minha avó ( desculpem pequenos-nadas deste mundo blogueiro se vos desampontei), uma Senhora que apesar de também ser mãe nunca deixou de ser mulher .
(Uma licção de vida para quem viveu o seculo 20, e uma referencia para quem ainda irá viver o seculo 21)
Agora meu caro Miguel, o mesmo acontece connosco, também nexiste o homem nº1, a ciencia da coisa está, como tu mm identificaste e bem, saber onde começa a comparação e num campo mais lato, saber onde está a realidade vivida e a ficção idealizada sobre The Number One!
:)
mulher um e "o amor da nossa vida" é a mesma coisa?
O escritor J L Borges é tema de referencia. No entanto prefiro citar conceitos filosoficos de Hegel a partir do hegelianismo ou o idealismo absoluto.Mas mais concreto será Kant que conseguiu eliminar na relação do conhecimento, a coisa em si, reduzindo o seu sentido para satisfazer a preocupação da unidade.A mulher numero um, não será um conceito errado de absolutismo ? Bom tema!...
Eh pá, não é para me gabar, mas eu tive várias mulheres "Um", pelo menos pensava eu, mas depois descartei-me da ideia antes que ficasse "orny", por várias vezes fui mais rápido que a própria sombra (efeito Lucky Luke). Matemáticamente gosto de pensar que encontrei a minha mulher Ideal, sem números.
Fica bem.
Ai, Miguel... não tarda tens aqui a cavalaria da Razão.....
Borges é divinal! ;)
E estalou a confusão...
Não me pronuncio porque a minha mulher pode passar por cá!!!
Penso que podem haver várias "mulheres 1" nas nossas vidas - pensa nisso.
Abraço
não, estou bem acampanhado...
abraço
ok. frequentadora da Razão, dá um salto aqui...
costumo dizer que o melhor a fazer depois de ter sexo com alguém é dizer que foi a 3ª pessoa.
A pessoa Um é sempre a Tal, mal ou bem, é a Um. Quando existe a pessoa Dois, essa fica sempre achar que foi comparada com a pessoa UM. Por isso, e, para evitar chatiçes, mais vale falar na pessoa Três.
Assim corre tudo bem.
a ana do 2º esquerdo
Acho que só quando os pés estiverem a fugir prá cova poderás (se não estiveres senil) dizer: A minha mulher 1 foi a ....
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