segunda-feira, 8 de agosto de 2005

A Porta entreaberta

Nada é acessório Giraça!


Henri Matisse - "A Porta da Casbah"

Acabou de sair de uma relação de dez meses, esquecendo-se de fechar a porta. Na caixa de correio deixou uma conta inflacionada de sofrimento. Relação conturbada esta. A doença dela, emocionalmente transmissível, barra todo o bom humor e optimismo impossibilitando a cura.

Aí está ele morfologicamente farrapo. Se puxares um fio desfaz-se em raiva e frustração.
Quando se fecha uma porta abre-se logo outra, o problema é quando a anterior fica entreaberta.

<> Luísa acha isto acessório <>

A porta aberta chama-se Ana, parece alentejana, tal é o cromatismo que lhe enche a face. Pele morena, cabelos loiros, grandes olhos azuis, dentes brancos. Chama a atenção como um pregão de flores.

Sempre o desejara, ele nunca tivera tempo para saciar a sede. Deixada a porta entreaberta, a melhor opção é esta, está predisposta. Já se vêem os raios de luz no compartimento.
Envolvem-se e começa o relacionamento desprendido que encaixa na forma de ser dele.

23:30 Festa Académica.

Chega ao ponto de encontro e já alguém entrou na porta. O seu espaço estava ocupado e mais uma vez se sente enganado. Duas seguidas, duas portas que teima em fechar e deixar frinchas.

Desabafa com um amigo e algumas loiras. Decide deixar tudo para trás e um encontrão devolve-lhe o contacto com a terra firme.

- Que foi ó filho da puta, diz o outro cambaleante.
O seu sorriso “não quero problemas” não resulta.
- Desculpa, não percebi.
- Sim tu ó filho da puta, alcooliza o latagão.
- Filho da puta és tu!
Desvia-se do soco e coloca tudo nos devidos lugares. Os nós dos dedos estalam e a t-shirt cor de tijolo fica vermelha. Olha para o chão e só vê preto e um nariz partido.

Agarram-lhe num braço e vê-se rodeado de armários.
Um sabor a serrim enche-lhe a boca e vê uma porta ao fundo, sem luz.

8 comentários:

Humor Negro disse...

Grande Miguel!
Cada tiro cada melro!

Anónimo disse...

UI!
gosto desta porta... :)

a ana do 2º esquerdo

Anónimo disse...

és grande!

armando s. sousa disse...

Sou fervoroso adepto de fechar bem as portas, em cada etapa da nossa vida. Esta "Porta de Casbah", de Henri Matisse é fabulosa.
Um abraço

Anónimo disse...

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Miguel de Terceleiros disse...

Humor: Que seja sempre assim!
abraço.

Ana do segundo esquerdo: as portas são aqulo que queremos que elas sejam, o problema é quando têm as dobradiças emperradas.
beijo

Raquel: nem tenho palavras para responder... que melhor resposta que a sugestão... imagina o que te diria.

Miguel de Terceleiros disse...

Armando: eu também mas as minhas personagens têm vontade própria, já lá dizia Gabito.
Matisse é lindo.

Este anónimo anda a tentar que eu tire um curso!

kiko disse...

Quando a noite chama, nem a razão entra, nem a verdade engana! Abraço