quinta-feira, 18 de agosto de 2005

Genesis

"Criação de Adão" Miguel Ângelo - 1541

Exactamente há 26 anos atrás, nasceu uma criança, que queria a onomástica dos seus pais, padrinhos, vizinhos e demais familiares, tomasse por verdadeiro e intransmissível nome, Orniciteplático. Há exactamente 26 anos atrás, porque por desejo da narração dos acontecimentos relativos à vida deste indivíduo, deveria e deverá ficar uma personagem intemporal, e por isso terá sempre 26 anos quando o leitor começar a ler este digitaluscrito.

Desta forma também não se refere o local de nascimento porque podia ser em qualquer lugar, para além de não enquadrado num tempo também não o será no espaço.

No hospital da Misericórdia, as mobílias de cinza acetinado, os bisturis, a máquina de radiografias, o doseador de água do corredor, as batas, as máscaras cirúrgicas, os médicos, enfermeiros e anestesistas, parteiras e parturientes agiam com indiferença perante o nascimento desta, para já, inclassificável personagem, que como já referimos tomará o nome de Orniciteplático.

Ora, anos mais tarde este mesmo Orniciteplático seria encontrado, de uma forma muito descontraída e indiscutivelmente divertido na companhia de uma pessoa que seria responsável por – é melhor parar por aqui porque senão iremos na página vinte sem ainda termos saído do hospital.

Como narrávamos, antes de sermos rudemente interrompidos por uma pressinha de acrescentar elementos contemporâneos à história, Orniciteplático nasceu na indiferença de um frio hospital, mas de um amor quente e sincero, gerido inteligentemente pelos seus pais. Quente... bem, tinha que ser quente para gerar uma forma de vida que se tornaria algo tresloucada, que não louca, com o passar dos tempos. À semelhança de seu irmão, Orniciteplático fora gerado às portas do Outono, sem que ninguém tivesse tocado à campainha.
Nesse tempo, o casal gerador não era possuidor do vulgar cinescópio, conversor de feixes hertzianos em raios catódicos, criando imagens que divertem e aparvalham a audiência, ou num palavreado mais acessível, não tinham televisão. Assim a única forma de diversão e distracção era a aplicação de todas as energias em estudos de anatomia do sexo oposto.

Os Geradores, novos e ainda com privilégios de descobridores de novas sensações e emoções, primavam por dia após dia, levantar pelo menos um novo Padrão dos Descobrimentos, como marca conclusiva da dádiva de novos mundos ao mundo. E deram, Orniciteplático, ao mundo. A noite fria entrou-lhes pelas frinchas da porta insuficientemente calafetada. Esta, com o último quarto inferior da área forrado a chapa, era um convite à junção de corpos, como se isto fosse necessário.

Do quarto dos Geradores ouvia-se o choro do, que seria o, futuro irmão de Orniciteplático na divisão ao lado. A Geradora levantou-se e remediou a situação com carinho e calor, de mãe dedicada, e acalmado o petiz juntou-se ao companheiro. Sem mais imagens, que não a dos seus corpos, socorreram-se destes para ilustrar a felicidade a que estavam condenados e, aquecendo-se de forma já sobejamente conhecida, geraram uma nova vida.

Anos mais tarde Orniciteplático gozaria com os pais dizendo que naquele tempo quando o frio apertava e não havia televisão, os pais também de alguma forma se apertavam mutuamente, fazendo verdadeiras longa-metragens. Quando mês e meio depois a Terra disse ao Seminador que nova safra lhe brotava já no útero, o Gerador ficou feliz e com esperança que fosse uma menina, compunha-se o desejado casal e fechava-se a linha de produção.
Sete meses e meio depois, mais coisa menos coisa, ainda a suar em bica, ao vislumbrar o pequeno apêndice viril entre as pernas do seu secundigénito pensou, posso voltar a tentar, alguma vez há-de acontecer.

12 comentários:

armando s. sousa disse...

Esta é uma história ao estilo de Amelie Nothomb. Muito bom!
Um abraço.

Anónimo disse...

www.oficinadolivro.pt

vai lá homem de Deus, dá lucro a esta modesta editora que és muito bom!!!!

noasfalto disse...

será que no registo civil aceitam esse nome?
fiquei curioso

Humor Negro disse...

Orniciteplático? Não consigo dizer isto sem tropeçar na língua. ;-)

Hugo Brito disse...

Eu sempre soube que eras orni :D

PR disse...

épa, sabes bem que o concerto de Queens não foi o melhor...
já os tinhas visto antes?
vi-os em paredes de Coura uns 2 anos antes e foi bem melhor...

Anónimo disse...

Mas que raio de nome é esse???

mjm disse...

Orniciteplático,
a do cafézinho tá genial!!
Many claps!!!

mjm disse...

..or, should i call you 'orny?
LOL

Miguel de Terceleiros disse...

Daqui: Bem vindo/a! faço o que posso.

Armando,Aloevera: matam-me com esses elogios!

Humor: se calhar a intenção é essa!

Hugo: ah pois sou!

Miguel de Terceleiros disse...

ernesto. estamos falados por mail.

galecius: é um nome como outro qualquer!

mjm: grazie mile, orny for sure or not

noasfalto: não me parece

Sara MM disse...

A D O R E E E E I I I I !!!!!
E adoro os teus trocadilhos... esa do digitaluscrito.... inesquecível!

Os teus pais leram isto?!?!

BJs