quarta-feira, 20 de julho de 2005

Intolerância


Este fim-de-semana tive um casamento. É claro que correu bem, sem quaisquer percalços, e como sempre com grande comezaina e bebezaina.
Saído do casório com mais dois amigos, e como a noite ainda era uma menina, afinal ainda só eram 5 da manhã, decidimos ir até um bar, que recomendo vivamente a todos os meus leitores que gostem de boa música rock e alternativa, A Tendinha dos Clérigos.

Já íamos bem bebidos e comidos e não fazíamos intenção de gastar muito dinheiro, queríamos era dar um pezinho de dança e socializar.

Nem sequer passamos por casa para mudar de roupa, e fomos assim mesmo, de fato e gravata. Como podem calcular, toda a gente ficou especada a olhar para nós, mas continuou a dançar. Nós lá fomos buscar uma cerveja e lá nos embrenhamos nos sons que andavam à solta na pista. Passado pouco tempo, uma rapariga de cerca de 22/24 anos, vem ter comigo e pergunta “Não achas que estás demasiado formal para estares num bar deste tipo?!”. É claro que lhe respondi que não é a roupa que faz as pessoas e que me enquadro em qualquer sítio independentemente da roupa que vista.
A rapariga lá voltou para junto das amigas a cochichar e a rir, e dali a pouco voltou a abordar-me “Desculpa aquilo de há bocado, não sabia que eras amigo da Joana” ao que eu lhe respondi “quer dizer que por ser amigo da Joana já posso vir para o bar de fato?!” ela encolheu os ombros sorriu e virou costas.

É lógico que este tipo de preconceito me faz ficar furioso. Eu tento ser uma pessoa correcta e bem-educada e depois levo com isto.

Mas isto não foi o pior. Entretanto chegou a polícia e fomos todos postos lá fora. Quando estava na fila para pagar um tipo de camisola caveada mete-se comigo e com os meus colegas. Começamos com aqueles aparvalhanços de fim de noite, mas muito tranquilo, até que ele se vira para mim e diz “Mas olha, achas que havia necessidade de vir assim para aqui com o teu fatinho à Al Capone, camisinha branca, gravata vermelha, lenço e botões de punho a condizer?!”

Vi isto como uma provocação, mas como nem parto muito para a ignorância resolvi responder-lhe à letra “Desculpa lá, mas a minha paleta cromática afecta de alguma forma a tua visão estética do mundo?!” e ele dentro da sua camisola vermelha caveada, com um ar que tendia para a esquerda (parecia ser militante do bloco de esquerda) diz “Desculpa” e eu repito “Afecto de alguma forma a percepção estética da tua realidade reducionista?!”.
Ele aborrecido porque não tinha pedalada para a argumentação e o vocabulário usado, diz “Pensas lá por te vestires de fatinho podes vir para cima das pessoas com essas merdas?!” é claro que eu lhe expliquei calmamente, com toda a arrogância que quem tinha começado com as merdas tinha sido ele e para rematar disse “Tu estás vestido como uma pessoa de esquerda mas a tua intolerância é toda de direita, extremamente à direita”. Nesta altura apareceu uma amiga que o levou, e ainda bem porque já lhe saltavam chispas dos olhos.

Não sei se o moço percebeu que lhe chamei fascista nas entrelinhas, mas no fundo se não o é, consegue disfarçar bem. Julgar as pessoas pela capa exterior não é a melhor atitude num mundo com tanta variedade cultural, e os que tem aspecto de mais tolerantes acabam por não o ser.
Se calhar estou a julgar uma pessoa que estava com os copos e fora de si, mas nem tenho o direito de o fazer, mas o que posso fazer é argumentar sempre que me deparar com uma situação semelhante.
Por tentar não perco nada.
Amie bem vinda!

17 comentários:

noasfalto disse...

Acho que quem te abordou não revelou intolerância mas sim ignorância e um buraco no sítio onde devia, supostamente, caber a personalidade.
A nossa liberdade termina onde começa a dos outros...
Essa gentinha não tem mais que fazer ou pensar? Quem lhes dá o direito de te abordar só porque não cabias no padrão deles?
Uns anitos a roçar mato e a partir pedra sempre lhes dava um tempito para se dedicarem à reflexão.

Eu, que te conheço bem e te admiro por seres da forma que és, não me importo de sair comigo (para onde for) de fato e gravata!

Ps: Essas criaturas estúpidas, arrogantes e intrometidas não desaparecem de vez?

Nuno Furtado disse...

Bom artigo. O que acontece é que as pessoas não estão habituadas a ver os outros bem "vestidos", leia-se fato e gravata, coisa que no entanto não lhes concede o direito de te interpelar muito menos para te ofender ou te julgar de forma alguma.... Nessa altura da noite já todos deviam estar bem bebidos o que acabou por ajudar ao facto, além disso alguma gaja deve ter reparado em ti e o tipo não curtiu a cena....

Xuinha Foguetão disse...

Ehehehehe!
Tu tens piada! E deves ter sempre a resposta pronta! ;)
Acho que tens toda a razão... hoje em dia julga-se fácil e rapidamente as pessoas pelo seu aspecto exterior!
Boa sorte para próximas saídas de fato. Se fosse eu ía lá no próximo fim-de-semana vestidinha da mesma maneira! :)
Beijos,
Xuinha

Sara MM disse...

Eh pá! isso correu mal!!
Por pouco andava alguém à trolha...de FATO!!!! eh!eh!eh! era giro, o filme! de certeza - desde que os olhos roxos nao fossem meus :oP

BJs
PS- tou a gozar! detesto confusões, mesmo as verbais

Hugo Brito disse...

Eu sou intolerante para com pessoas tolerantes, de resto sou tolerante para com tudo o resto.

Freddy disse...

Caga no gajo e siga a rusga...Ainda por cima a Amie voltou do país vizinho portanto é só alegria!
Qdo vamos todos para os copos de fato treino e meia branca na chanata?

Abraço grande da Zona Franca

Anónimo disse...

Até pode não ser muito comum ir a um bar vestido de fato e gravata mas isso não tem problema nenhum e, mesmo tolerando as normais "piadinhas da praxe", não é sequer motivo para ouvir críticas.

Mas aí está uma boa maneira de responder a provocações.
O gajo quando chegou a casa a primeira coisa coisa que fez foi ir ao dicionário (isto se tivesse algum em casa).

abraço

Anónimo disse...

Desta troca de impressões não vem mal nenhum ao Mundo. E nem é por se ser do Bloco de Esquerda ou ser - se facista, que não se pode ir a qualquer lugar de fato e gravata.Politica, politica, pés de dança e copos à parte.

Anónimo disse...

Enfim, é a vida!!!
Percebo-te muito bem!!!

Miguel de Terceleiros disse...

No asfalto: essas pessoas é deixá-las andar, pelo menos dá para exercitar a minha eloquência. Por falar em saídas, temos que beber umas Carlos Alberto no sítio do costume. abraço

Masterperas: é moda andar-se mal vestido, que não é a mesma coisa que descontraído, é assim que me visto no dia a dia. Isso das gajas... quando olham para mim sou cego que nem uma toupeira e quando reparo já é tarde.
Abraço

Miguel de Terceleiros disse...

Xuinha: Bem Vinda a este humilde espaço.
quanto ao resto, não consigo ficar calado, por vezes até exagero! Este fim de semana estás convidada, mas não me parece que vá de fato.
Obrigado pela visita.

Voudaquiparaali: se calhar tens razão, mas como costumo dizer "ainda me vai cair na sopa" ;)

Miguel de Terceleiros disse...

Sara: Também detesto confusão física, mas não digo que não a uns bons sofismas.
beijos

Hugo: nem mais!

Freddy: já sei que chegou, é só marcar, o problema é que não tenho meia branca, mas posso levar sapato de verniz.
Abraço

Miguel de Terceleiros disse...

Speak_easy: a intenção foi um bocado essa, desarmá-lo. e acho que foi bem conseguido.
abraço

Adriano: respeito acima de tudo e tudo se consegue.
abraço

Ana: o que mais me chateia é que me julguem pela capa, porque sei que tenho mais para dar que o aspecto.
obrigado pelo elogio.
beijos.

Galecius: tu sabe-lo muito bem.
abraço

Periférico disse...

Estou 100% de acordo contigo nesse apsecto de nos julgarem pela capa exterior, ao contrário do ditado o Hábito não faz o monge!:-)

Um abraço

Freddy disse...

Vais de hawaianas...

Abraço da Zona Franca

Miguel de Terceleiros disse...

Periférico: Ainda bem que pelo menos aqui pensamos todos da mesma forma.
abraço

Freddy: havaianas do Macdonald's
ehehehehehehehe
abraço

kiko disse...

Há tipos que valem-se da vestimenta para fazerem-se sentir parte de um grupo... é a vida meu amigo, verdadeiros, são os que são, qualquer que seja a sua carapaça! Abraço