quinta-feira, 21 de julho de 2005

Yin

Através do reflexo do espelho, olho para ela e descubro-lhe nas feições, expressões que me agradam e que automaticamente tento reter na memória.
Nunca fui bom de memória. Parece um aquário que não tem silicone suficiente para evitar que a água saia. Vai vertendo devagar, e por azar, são as melhores que se escapam pelas frinchas. Volto a encher o aquário memorabilico e as melhores memórias voltam a sair, por isso escrevo-as.


Mantenho um diário apoiado nas notas do meu caderninho preto, que religiosamente conservo junto ao fígado, que isto de lamechices tipo: “Conservo-o junto ao coração”, não encaixam na pusilanimidade do meu feitio. De facto sou como o elefante, onde passo fodo tudo.


Vejo-a brincar com uma moeda yin yang. Que estará a perguntar, que perguntas tu a essa moeda? De quem estás à espera, acreditas nisso, é o que apetece dizer, chegar perto dela e metralhá-la com perguntas, mas, para variar, não me sinto capaz de o fazer. Basta um pouco de interesse por uma mulher e perco toda a espontaneidade.


Convido-me para outra Super Bock. Bebo e lembro-me que devia ter tirado notas de uma coisa que já esqueci. Como é possível, és sempre a mesma merda!
Tiro o moleskine determinado a tirar notas sobre ela, é melhor escrever com maiúsculas, porque passará a ser o sujeito da história. Não tem nome, mas o Ela vai funcionar como tal.

Nota: - morena, não de pele mas de cabelo;
- Olhos castanho escuro;
- Dedos compridos como gosto;
- A ganga fica-lhe bem (demais até);
- Aparenta entre vinte e cinco e trinta anos, mas mais puxada para a primeira hipótese;
- Tem um sorriso bonito (vi-a a falar ao telemóvel e sorriu)
- Bom gosto na roupa;
- Expressões faciais inteligentes.


Acho que não está a falhar nada para uma primeira observação.
Aproveito que há uma mesa livre junto à dela, e sento-me. Não terá sido nem boa nem má ideia, porque um cromo acaba de se meter com ela. É engraçado que quando estamos à caça, se alguém chega à presa primeiro que nós, passa a ser cromo (para não dizer mais).
Realmente não me enganei.

Nota 2 – conversa entre o Cromo e Ela.

- Essa moedinha para que serve?
- Fazes uma concha com as mãos e agitas a moeda, se sair yin é não, se sair yang é sim. Fazes uma pergunta que tenha como resposta sim ou não e a moeda responde.
- Ah, já sei. Gostas dessas cenas de isotermismo!

Pronto, já meteu a pata em areias movediças, já se fodeu, que cromo!!! Como dizia o meu irmão, “não vás por aí que há mato!”


Continua aqui

22 comentários:

armando s. sousa disse...

Miguel,
Hoje estou sem tempo para leituras, pois vou uns dias de férias e ainda me falta, como sempre, arranjar algumas coisas.Passei aqui para te desejar um bom fim de semana.
Um abraço.

Poor disse...

olha, gostei imenso, mesmo!soubeste cortar a história na altura certa e levar-nos a ler o resto!
beijinho, bom fim de semana!
ps. não te partas todo, tá?:D

Anónimo disse...

Miguel
Num cenário virtual a realidade é aparente e os cromos integram-se
adequadamente.Mas não se subjective o essencial da "story"

Miguel de Terceleiros disse...

Armando: não tem mal nenhum! boas férias, bem mereces!
Abraço

Amie: Eu só escrevo para que as pessoas certas gostem. Partir-me todo, não consegui, estou inteirinho!
beijo

Adriano: há sempre alguma coisa encriptada que nos faz pensar algo mais.
abraço

Anónimo disse...

olá terceleiros
depois de ler isto, decidi intrometer-me... mas não é já.

Anónimo disse...

Who are yo cooker? Maybe sommeone who wants to try a new dish...

Anónimo disse...

Se calhar é alguém que tem medo de se mostrar... É tão fácil escondermo-nos atrás de um pseudónimo!

Anónimo disse...

Também pode ser alguém que conheças!

Anónimo disse...

Ah pois é!

Anónimo disse...

vocês podem também ser todos a mesma pessoa. ou não. pois.

Anónimo disse...

atrás de um pseudónimo todos querem esconder-se, senão passava-mos a vida a magoar-mo-nos uns aos outros se assumíssemos os nossos polidesejos. e certas coisas vocalizadas não fazem sentido a não ser escritas.
e se querem saber, o prato da noite é legumes assados no forno com couscous. bastante simples para the cooker. O meu nome neste momento é... Virginia Wolf. Come have dinner with me, neighbour.

Anónimo disse...

aliás, o ideal era cozinhar o Peter Greenaway para todos nós, inteiro!

Anónimo disse...

Não sei se ficará muito contente, o senhor Peter!

Anónimo disse...

Estou indeciso!

Anónimo disse...

o que é que o pode ajudar a decidir? métodos de culinária? não sei se seria capaz de fazer isso! mas se essa fosse a única forma de estar, alguma vez, mais perto de mr greenaway...

Anónimo disse...

Perto poderá estar quem com originalidade se declarar!

Anónimo disse...

Não há longe nem distância que separe qualquer ingrediente na gastronomia, por isso o senhor Greenaway não se deverá importar com tais pormenores.

Anónimo disse...

acho que quando cortar mr greenaway vou apenas cortar-me a mim, vai ser como uma deslocação provocada por determinadas circunstâncias. mr greenaway é intocável.sonhei com ele.pelo menos, uma vez, posso dizer que houve pouco espaço entre nós. talvez com mr g. não seja só uma questão de originalidade. talvez para mr c. seja apenas uma questão, muito grande e importante. mr greenaway estava muito bonito hoje.hoje não se cozinha carne.

Anónimo disse...

O espaço, essa grande fronteira já obsoleta. Será que existirá para nós da mesma forma?!

Anónimo disse...

A questão insufismável deste episódio específico é que se se cortar vai-me fazer sentir a sua dor e prazer. Estarei a tornar-me hedonisticamente sado masoquista?!

Anónimo disse...

cortei-me

Anónimo disse...

está a doer muito!