
"Interior de restaurante" Vincent Van Gogh - 1887
O cinzeiro vai a meio e não é propriamente pequeno, o que faz pensar que está a fumar demais. Duas raparigas estão sentadas e ela tenta não prestar atenção à conversa mas é inevitável: está-lhe no sangue.
- Acreditas que aquela besta – sim, porque não há melhor nome para o classificar – me disse que não vai deixar a outra?!
- Já te tinha dito, eu já te tinha visado que ele não era de confiança. Está-te a enganar desde o início e só tu é que não percebes.
- Sabes muito bem que gosto dele e não consigo resistir aquele olhinho azul…
- Não sei o que passou pela cabeça para te meteres com um husky. Já lá dizia a a minha falecida avó: “Não confie em alguém que tem vistas uma de cada cor”.
Maria franze a testa e disfarçadamente apura o ouvido.
- Ontem, depois de estar comigo, chegou a casa e mandou um cento de mensagens a dizer que ia falar com a mulher, que me amava, que já não aguentava mais aquela situação, e hoje, ao almoço, diz-me que quer ficar comigo mas que não pode deixar a a mulher, coisas de dinheiros e tal.
- Francisca, já te tinha dito que era isso que ia acontecer, só não sabia como. Ele é um cobarde.
- Neste momento está numa reunião com um cliente belga; havia de lhe correr mal. Que ódio!
Maria pega no telemóvel e varre os contactos.
- Querido… Estás ocupado?
- Sabes bem que sim: estou na reunião com o belga.
- Desculpa, só te tomo um minuto.
Levanta-se e aborda as raparigas, bem mais novas que ela; estende o telemóvel à mais alta.
Pela primeira vez não tenho necessidade de ler os outros comentários ou qualquer link que ponhas.
Sabes que sou por demais influenciável, e ler o que tu escreves deixa-me confuso.
Um dia disseste para eu ler esse senhor que linkaste hoje, e ao mesmo tempo disseste que era melhor não porque ia mudar por completo a forma como eu vejo as coisas.
Por isso não vou ler.
As lágrimas queimam-me as mãos e acho que já não sei escrever.
Não quero ser o que sou mas quero ser o melhor que as minhas capacidades permitirem, nem que seja por 15 minutos.
Choro porque te amo e a toda a gente que o merece e porque sinto a força a esvair-se por todos os poros do meu ser.
Um dia acordei e sonhei que não era eu e destestei-me. Nessa realidade sonhada acordei e matei-me com todas as mentiras que para mim eram verdade. A ficção transformou-me nisto e é aquilo que serei, e isso...
faz-me sorrir.
AMO-TE