sexta-feira, 11 de novembro de 2005

Festival




Cronologicamente pareciam sete ou oito da manhã, mas o efeito do álcool deixa sempre uma anacronia suspeita no relógio biológico dos festivaleiros. Estes dois sorvedouros de cerveja, como todas as noites – madrugadas - carregavam o fardo corporal em esforço para tenda.

Várias vezes tinham caído ao rio, mas esta noite a surpresa, que as havia todas as noites, havia de ser postulada em moldes diferentes. Ao fundo, lá muito ao fundo, na direcção que parecia ser a da tenda, vinham, sons hipnóticos, fruto de Djembé's, panelas, Djiridou’s, e tudo o que permitisse entoar som para a continuação da festa. Os concertos nunca fecham a noite, enquanto houver alma há festa.

Hipnotizados deixaram-se levar e chegam às lonas que serviam de tecto há já três alcoólicos dias. Cá fora, o caos tinha sido espalhado com fuminhos de perlimpimpim. Dois dos colegas, dançavam de boxers ao som da parafernália musical que ecoava no pequeno vale. Com uma máquina digital iam registando imagens para a posteridade.

Não se desafia o caos, junta-se a ele senão quebra-se a corrente e destrói-se o equilíbrio cósmico.

Os dois recém chegados juntam-se à festa e começam a aliviar o corpo das vestimentas empoeiradas. Do nada, duas das vizinhas - eram cerca de doze raparigas de Barcelos, “as porquinhas” dado que eram baixas e gordinhas - juntam-se à festa mantendo o pudor. Perguntam ao grupo:

- Há vinho?!

- Há mas só trocamos, rosnou Pepe.

- Martini, pode ser, voltou ao ataque a vizinha.

- Ah pois, disse Miguel inundado de alegria só provocado pela sua bebida preferida.

Feita a troca, Miguel abre a garganta e bebe de uma só vez o conteúdo da garrafa. Dois segundos bastaram para ter um acesso de loucura e começar a tirar a roupa. Pepe adivinhando-lhe os pensamentos já o tinha feito.

As vizinhas ficaram primeiro de boca aberta, mas logo de seguida pega na mão de Pepe e leva-o até uma das tendas e começa a chamar:

- Ó fulana, olha o que tenho aqui para ti!

A rapariga, ensonada, abre a tenda e dá de caras com o badalo de Pepe. Cara de espanto e de susto. Nestas lides dos festivais, ganhou o epíteto de Capitão Sacos, por ter os sacos maiores que a compra.

Pepe apanhou igual susto ao olhar para a cara da assustada e bate em retirada. Junta-se a Miguel e vão os dois comer uma sandes mista, nus com a mão no bolso, enquanto vão dançando ao som das cores do amanhecer.

Nunca mais viram “as porquinhas” mas elas não se devem esquecer.

Viram foi o filme com todas as peripécias; Zundapp estava a filmar toda a brincadeira.

5 comentários:

Anónimo disse...

Miguel
Dizia-se tempos atraz, que quem tinha um grão na asa tinha sempre uma desculpa.

Nos dias de hoje a influencia do alcool não serve para atenuantes e todo o comportamento é julgado racional sob aquele efeito.Então porquê a vossa fuga?

Havia que assumir o embaraço!

Um abraço a ambos

Hugo Brito disse...

Falhei esse, mas depois vinguei-me :D

Sukie disse...

... "fulana"..."O badalo": ah ah ah!

Poor disse...

é por estas e por outras que não te posso levar a lado nenhum!:D:D:D:D

noasfalto disse...

imagino a party...