terça-feira, 29 de novembro de 2005

Tiro às claras


Vejo carros a estacionar e tento vislumbrar, entre as gotas de chuva que cobrem os pára-brisas, a cara que procuro.

Está próximo o momento e a ansiedade salta-me do peito. Uma dor boa, muito boa, que me confunde e raia as margens da angústia.

É estranho, muito estranho, teimo em não trazer o colete à prova de bala, quero enfrentar a situação de peito aberto. Muitas vezes tive medo e rezei para o chumbo me atingir, mas não havia mão para premir o gatilho.

Abro a porta e a música dá-me as boas vindas: Morcheeba, how convenient. Escolho a mesa e sei que dentro em pouco vou ser abordado. O sinal já foi predefinido e tenho a certeza que não vão precisar de o usar.

Acho que estou pronto mas um calor estranho enrubesce-me a pele da face. Sinto a pele a latejar e as certezas escapam-se por entre os dedos como grãos de areia coligados com melaço (agarram-se e soltam-se).

Tento não olhar apara a porta mas não quero ser apanhado de surpresa. E não sou…

A arma é empunhada e dispara enquanto um sorriso se afirma no olhar dela. Agarra-me, num abraço desesperado, como se quisesse evitar que as pessoas que nos rodeiam ouvissem o baque do meu corpo no chão.

Era tarde, todos ouviram o disparo.

6 comentários:

noasfalto disse...

Pensei que era um post sobre a CSM...embora não conhecesses a cara :)

Hugo Brito disse...

Foi presa?

Humor Negro disse...

E se dantes estavas enrubescido agoras ficaste entumescido. É o rigor mortis.
(Isto ficava bem tendo Rocio como cenário)

Sukie disse...

Morsheeba? Bem!

Periférico disse...

Bela visão! Gostei desta incursão no policial visto do lado da vítima!;)

Um abraço

Raquel Vasconcelos disse...

Pesado.