Vejo carros a estacionar e tento vislumbrar, entre as gotas de chuva que cobrem os pára-brisas, a cara que procuro.
Está próximo o momento e a ansiedade salta-me do peito. Uma dor boa, muito boa, que me confunde e raia as margens da angústia.
É estranho, muito estranho, teimo em não trazer o colete à prova de bala, quero enfrentar a situação de peito aberto. Muitas vezes tive medo e rezei para o chumbo me atingir, mas não havia mão para premir o gatilho.
Abro a porta e a música dá-me as boas vindas: Morcheeba, how convenient. Escolho a mesa e sei que dentro em pouco vou ser abordado. O sinal já foi predefinido e tenho a certeza que não vão precisar de o usar.
Acho que estou pronto mas um calor estranho enrubesce-me a pele da face. Sinto a pele a latejar e as certezas escapam-se por entre os dedos como grãos de areia coligados com melaço (agarram-se e soltam-se).
Tento não olhar apara a porta mas não quero ser apanhado de surpresa. E não sou…
A arma é empunhada e dispara enquanto um sorriso se afirma no olhar dela. Agarra-me, num abraço desesperado, como se quisesse evitar que as pessoas que nos rodeiam ouvissem o baque do meu corpo no chão.
Era tarde, todos ouviram o disparo.
6 comentários:
Pensei que era um post sobre a CSM...embora não conhecesses a cara :)
Foi presa?
E se dantes estavas enrubescido agoras ficaste entumescido. É o rigor mortis.
(Isto ficava bem tendo Rocio como cenário)
Morsheeba? Bem!
Bela visão! Gostei desta incursão no policial visto do lado da vítima!;)
Um abraço
Pesado.
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