"Dark sea" Wendy Jones
Foi o seu primeiro amor sem sombra de dúvida. Não daqueles amores platónicos, de beijinhos ou esvaziamento intelectual, mas empenhado, obsessivo, hedonista…
Nem sabia que as situações se podiam desenrolar com aquela rapidez mas embrenhou-se com ela numa floresta da qual seria difícil encontrar o caminho de volta.
Tivera inúmeras namoradas mas nenhuma como aquela. Toda a ideia de romantismo que sempre lhe prurira as sinapses, estava presente e ela a mulher ideal (aparente).
Inteligente, culta, causa de muita baba na rua… Que mais queria ele?!
Ficou maravilhado com a casa dela: simples mas bem decorada, uma penthouse com janelas para a cidade e paredes forradas a livros manuseados. Nunca tivera dinheiro para comprar livros e dava-lhes muita importância e tinha ali à sua mercê uma infinidade de títulos, que sempre quisera descobrir, acompanhados por uma pessoa com quem os podia comentar.
Era tudo perfeito demais. Dois meses volvidos do início do idílio, ela tentou cortar os pulsos e conseguiu. Encheu a banheira de água quente e lá tomou o que pensava ser o último banho, de sangue para lhe corar a pele branca, sem sucesso.
Ele chegou a tempo e curou-lhe as feridas mas não a alma. Algo começou a perfurar o coração. As dúvidas entraram e lá se enraizaram. Afinal que amor era aquele que a levava a abandonar a vida? Todas as juras destruídas, postas na forma de promessas quebradas.
Ela… Amava-o e por isso abandonava a vida. Carregada até à boca de anti-depressivos, que ele desconhecia, achava que seria melhor sair do mundo. Alienar-se não era o caminho e fazia-o todos os dias com prozak’s e outros que tal. Sofria com a habituação e não queria que ele sequer sonhasse com a doença que lhe destruía o espírito. Disfarçava a má disposição e por vezes, muito poucas, tinha momentos de sincera alegria, quando se deitava nos braços dele com a cabeça no peito, pele com pele, a sua almofada preferida.
Na sua cabeça, algo devorava os bons sentimentos. Não podia deixar que a doença que a consumia fosse partilhada por ele, para doente bastava um e estava disposta ao sacrifício.
Ele compreendera as razões mas não aceitou. Descobriu como ela pensava e com paciência, esforço e dedicação tentou ajudá-la.
O cérebro só funcionava para ela. Todos os momentos eram dedicados a formas de contornar os obstáculos. Inevitavelmente os sintomas socaram-no, primeiro com pouca frequência e com o tempo todos os dias.
A alegria e o optimismo não eram suficientes para contrariar a tendência, sentia-se impotente, demais.
O paraíso adquiria contornos de Inferno. A violência psicológica pesava-lhe e o corpo recusava-se a qualquer tipo de alento. Nem a preciosa ajuda da mãe tinha forças para inverter a maré, estava a vazar e não havia ciclos de 6 horas; acabaria a seco se não tomasse uma atitude.
Uma tarde de sol chegou a casa dela e encontrou-a nas trevas do quarto, estores corridos, num breu que queimava a alegria. Fez-lhe uma cena de ciúmes com um cabelo loiro agarrado à camisola. Percebeu que o fim estava próximo e a solução no fundo do túnel.
4 comentários:
Há pessoas que têm tendência a ser depressivas, mesmo quando têm tudo o que se pode esperar da vida, principalmente amor. E o ciume? Em exagero pode acabar com a magia de uma paixão. Mas quando não há ciume, na sua dose moderada claro, na minha opinião é porque não há amor. Contradições...
Abraço.
(re)conheço tudo isto!
Continuando o raciocínio da Kimera: é um circulo vicioso que não augura nada de bom.
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