Muita carga nas costas; trinta quilos e o guia a dizer:
- Miguel, quando quiseres trocar avisa.
A caminhada não é fácil mas isso já sabia; pedras escorregadias como algumas pessoas que conhece; joelhos há muito estragados por saltos acrobáticos estalam como madeira seca; a mochila carregada… sente-se Sísifo a carregar o penedo pela montanha acima.
“Não vou dar parte de fraco, afinal ainda sou novo e isto é uma questão de princípios e tempo até lá chegar.”
O guia ultrapassa-o como uma gazela, aos saltos, destruindo a imagem dos seus quarenta e cinco anos. Homem da montanha, seco e rijo, só fibra mesmo no carácter. É saudável ser e estar assim.
Volta a pensar nela. Mais vale não o fazer, afinal só vai poder encontrá-la dali a muito tempo, quando voltar a ter rede no telemóvel, e aqui é impossível.
Finalmente o topo. Pousa a mochila e senta-se durante algum tempo a recuperar o fôlego. Não consegue ver a paisagem embora a conheça de tantas vezes que a contemplou. Um edredão de nevoeiro frio espeta-se-lhe no reumatismo e impede a visão.
Com a ajuda do guia começa a arrumar o sítio da reunião, a espalhar o conteúdo da mochila. O telemóvel dá sinal de vida. Sorri ao ver a sms.
“Isto é tortura!”
2 comentários:
Tortura da alma + tortura do corpo
A turtura chinesa das agulhas acunpuntúricas que arrepiam a pele só de sentir a sua silhueta! Abraço
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