quinta-feira, 3 de novembro de 2005

10.30 AM


"O Jardim das delícias" Hieronymous Bosch - 1504

O vento agita, convulsiona o exterior e o interior. Assobia melodias atormentadas pelas frinchas do telhado e da Alma. Silêncio, é tudo o que pede, para pensar para dormir. Algo mudara; tudo o que desejara até ao momento: um pouco de atenção. Percorria os trilhos da montanha, em silêncio melancólico, enquanto que a chuva agreste e a ventania ciclónica espelhavam o que no fundo se passava na sua mente.

A vida transformara-se num jardim de tentações e não sabia como resistir. Todos os dias se deparava com mulheres diabo que faziam os possíveis para lhe estender as redes da sedução. No entanto a sua sinceridade provocava o afastamento imediato, ou quase.

Foi para a cama com uma (já há muito tempo que ela o perseguia com o olhar, com os gestos) e sentiu-se espoliado (seria da máscara de couro que ela vestia); bonita a e bem feita, mas depois mais nada, desilusão.
Acordou e ficou satisfeito por ela já não partilhar os cobertores. A ressaca batia-lhe na cabeça e na porta também.
“Quem é que me acorda a estas horas pornográficas num domingo?!”
Veste os boxers e abre a porta.

- Temos um problema com um carro.
Trabalha até ao Domingo. Porca miséria, italianiza.

Pega no telefone e resolve o problema. Olha para a cama e lá está a colega de trabalho com olhos de mel e nozes em forma de convite. Desolado (secretamente satisfeito) olha para ela e deita-se a seu lado. Falam de trabalho e, aos poucos, ela começa a encostar-se. Mais uma que lhe quer saltar à espinha. Sorri e adormece.

- Ressonas muito, diz-lhe a colega ao pequeno-almoço.
Não desejando mais conversa replica:
- Pois.

Nos olhos leu-lhe a desilusão e o desejo. Sentiu que ela não se importaria de partilhar o suor e o ressonar mas não estava para aí virado; desejava uma e não era aquela, muito menos o sucedâneo que lhe manchara os lençóis horas antes.

Algo mudara.

11 comentários:

Anónimo disse...

O bom filho a casa torna, após momentaneamente trilhar os caminhos crueis de um dia a dia devastador e castrador de comportamentos irreprensiveis.

Um grande abraço e desejo de encarar a vida de frente

Sukie disse...

seria o amor?

Maria João Resende disse...

Pois é, Miguel, as mulheres diabo tendem a transformar-se em colegas de trabalho carentes de mimos num abrir e fechar de olhos. Fecha-os outra vez com força, pode ser que passe!

Poor disse...

a clarividência tem destas coisas!
bosch, u-a-u-!

Anónimo disse...

entao encontras-te o amor???
seria???

Anónimo disse...

comer pão com manteiga quando se deseja mel.... dá nisso! ;)

mfc disse...

Estava seguramente enamorado e com o pensamento muito longe!

noasfalto disse...

Como não ficar devassado com engates de uma noite?

hã?

kiko disse...

Xasssususususususuussuususussuusussuussuussuususus!!! Perder uma oportunidade dessas!?!?!?!?! Comé possível!?!!?!?!?!?!?!!?!?!?! O amor, só essa coisa disforme e imbérbere poderia causar tal hecatombe!!! :D Abraço

Miguel de Terceleiros disse...

Piti: Amor... Se souberes a morada dele avisa... Já ando à procura há muito tempo.

Anónimo disse...

a morada..........quem me dera a conhecer tb... ja a perdi a muito... mas nao desespero da encontrar outra vez..
se souberes de alguma coisa antes de mim AVISA
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