
Este fim-de-semana tive um casamento. É claro que correu bem, sem quaisquer percalços, e como sempre com grande comezaina e bebezaina.
Saído do casório com mais dois amigos, e como a noite ainda era uma menina, afinal ainda só eram 5 da manhã, decidimos ir até um bar, que recomendo vivamente a todos os meus leitores que gostem de boa música rock e alternativa, A Tendinha dos Clérigos.
Já íamos bem bebidos e comidos e não fazíamos intenção de gastar muito dinheiro, queríamos era dar um pezinho de dança e socializar.
Nem sequer passamos por casa para mudar de roupa, e fomos assim mesmo, de fato e gravata. Como podem calcular, toda a gente ficou especada a olhar para nós, mas continuou a dançar. Nós lá fomos buscar uma cerveja e lá nos embrenhamos nos sons que andavam à solta na pista. Passado pouco tempo, uma rapariga de cerca de 22/24 anos, vem ter comigo e pergunta “Não achas que estás demasiado formal para estares num bar deste tipo?!”. É claro que lhe respondi que não é a roupa que faz as pessoas e que me enquadro em qualquer sítio independentemente da roupa que vista.
A rapariga lá voltou para junto das amigas a cochichar e a rir, e dali a pouco voltou a abordar-me “Desculpa aquilo de há bocado, não sabia que eras amigo da Joana” ao que eu lhe respondi “quer dizer que por ser amigo da Joana já posso vir para o bar de fato?!” ela encolheu os ombros sorriu e virou costas.
É lógico que este tipo de preconceito me faz ficar furioso. Eu tento ser uma pessoa correcta e bem-educada e depois levo com isto.
Mas isto não foi o pior. Entretanto chegou a polícia e fomos todos postos lá fora. Quando estava na fila para pagar um tipo de camisola caveada mete-se comigo e com os meus colegas. Começamos com aqueles aparvalhanços de fim de noite, mas muito tranquilo, até que ele se vira para mim e diz “Mas olha, achas que havia necessidade de vir assim para aqui com o teu fatinho à Al Capone, camisinha branca, gravata vermelha, lenço e botões de punho a condizer?!”
Vi isto como uma provocação, mas como nem parto muito para a ignorância resolvi responder-lhe à letra “Desculpa lá, mas a minha paleta cromática afecta de alguma forma a tua visão estética do mundo?!” e ele dentro da sua camisola vermelha caveada, com um ar que tendia para a esquerda (parecia ser militante do bloco de esquerda) diz “Desculpa” e eu repito “Afecto de alguma forma a percepção estética da tua realidade reducionista?!”.
Ele aborrecido porque não tinha pedalada para a argumentação e o vocabulário usado, diz “Pensas lá por te vestires de fatinho podes vir para cima das pessoas com essas merdas?!” é claro que eu lhe expliquei calmamente, com toda a arrogância que quem tinha começado com as merdas tinha sido ele e para rematar disse “Tu estás vestido como uma pessoa de esquerda mas a tua intolerância é toda de direita, extremamente à direita”. Nesta altura apareceu uma amiga que o levou, e ainda bem porque já lhe saltavam chispas dos olhos.
Não sei se o moço percebeu que lhe chamei fascista nas entrelinhas, mas no fundo se não o é, consegue disfarçar bem. Julgar as pessoas pela capa exterior não é a melhor atitude num mundo com tanta variedade cultural, e os que tem aspecto de mais tolerantes acabam por não o ser.
Se calhar estou a julgar uma pessoa que estava com os copos e fora de si, mas nem tenho o direito de o fazer, mas o que posso fazer é argumentar sempre que me deparar com uma situação semelhante.
Por tentar não perco nada.